

Coproduzido pelo uruguaio Leonel Pereda e pelo engenheiro de som Duda Mello, responsáveis pela obra-prima Liebe paradiso (2011), e produzido por Marcelo Costa (bateria) e Sacha Amback (teclados e arranjos), o projeto reúne 10 canções de Beto e Ronaldo. A maioria, hinos indeléveis e atemporais, indissociáveis do Clube da Esquina, aqui atualizados pelo canto sedutor de Jussara, apoiada por um grupo bem escolhido: os baixistas Zeca Assumpção e Alberto Continentino, o gaitista Milton Guedes, o guitarrista Maurício Negão e o violoncelista Jacques Morelembaum – ponte acertada entre gerações que mesclaram experiência e frescor.
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Cada admirador do trabalho da dupla, claro, teria seu próprio repertório ideal, mas esse songbook consistente e simbólico traz cumplicidade inspirada e inspiradora. Apesar de uma das fontes mais evidentes da musicalidade de Beto ser a obra dos Beatles, é a imagem das pedras que rolam para não criar limbo, tão cara ao universo do rock a ponto de batizar os Rolling Stones, que abre e batiza o trabalho. As imagens do cão sem dono tecendo fios da canção, do trem cigano carregando almas sob o sol são perfeitas para simbolizar o caráter épico do trabalho.
Gravada originalmente como tema instrumental no LP Sol de primavera, Rio Doce ganhou letra de Ronaldo e Tavinho Moura e foi registrada em Contos da lua vaga. Trata do riacho que vai pro mar, das vidas pequenas das calçadas onde existir só parece que é nada. Amor de índio é mais radical (“tudo que move é sagrado”) e defende o trabalho, o amor, o cotidiano e as estações – “todo dia é de viver/ para ser o que for/ e ser tudo ”.
Símbolo de uma postura de vida fluminense, Lumiar, fundada por suíços no século 19, ganhou na música de mesmo nome seu hino extraoficial. O arranjo reverente abre caminho para A página do relâmpago elétrico, mais calma e serena, sem as fagulhas da versão original.
GARCÍA LORCA
Dores de amores de Tanto também reverenciam a versão de Beto, com metais ligeiramente mais frementes. Na sequência final, Choveu surge em versão quase de câmara, com voz e teclados no centro do arranjo, ganhando vitamina extra com os versos do poema Zorongo, de Federico García Lorca, recitados por Pereda.
Emoção garantida, o arco-íris se abre com Sol de primavera, na faixa em que a voz de Jussara mais se distancia da de Beto. O disco chega ao fim com O sal da terra, tema mais que atual, oportuno num país e num mundo cheio de dúvidas, dívidas e incertezas: “Terra, és o mais bonito dos planetas/ tão te maltratando por dinheiro”(...) Vamos precisar de todo mundo/ um mais um é sempre mais que dois”.
Faixa a faixa
. Pedras rolando
. O amor não precisa razão
. Rio Doce
. Amor de índio
. Lumiar
. A página do relâmpago elétrico
. Tanto
. Choveu
. Sol de primavera
. O sal da terra