Foi em 2001 que Mariana Aydar viveu sua experiência inicial com o público de Belo Horizonte. À época nos vocais da banda de forró Caruá, a paulistana se emocionou com o coro da plateia mineira, que acompanhou cada verso de um clássico do instrumentista Zezum gravado pelo grupo. "Eu tinha 21 anos e, na primeira vez em que saí de São Paulo com minha banda, vi todo mundo em BH cantando Onde está você", ela recorda. Nesta quinta-feira, 1º, a artista volta à capital para a estreia nacional da turnê Pedaço duma asa, baseada em disco homônimo, lançado no mês passado.
Os caminhos que trazem Aydar à cidade estão ligados à memória afetiva da paulistana. "Eu gosto muito de BH, onde sempre fui muito bem recebida", enfatiza. Aqui também foi onde a artista encerrou etapa musical mais recente, com show em junho, quando Pedaço duma asa já estava pronto. Na ocasião, fez questão de deixar o álbum de inéditas fora do repertório, preferindo revisitar os anteriores Kavita 1 (2006), Peixes pássaros pessoas (2009) e Cavaleiro selvagem aqui te sigo (2011), em uma espécie de balanço da própria obra. O fato de seu último show antes do novo disco e o primeiro depois dele ocorrerem na mesma Belo Horizonte a impressiona: "Tá vendo como BH é importante?".
Disco de composições do artista plástico Nuno Ramos, Pedaço duma asa nasceu de um espetáculo apresentado por Mariana em agosto do ano passado, em São Paulo. Familiarizada com a poesia do parceiro desde 2007, ela escolheu musicá-la com o marido Duani, também produtor das faixas em estúdio. O próprio Nuno assinou o cenário de 2014, que volta ao palco repaginado na nova turnê. "É uma espécie de releitura", diz ela quanto à estreia.
Uma vez que o embrião do álbum foi a performance ao vivo, o desafio é reviver as canções no palco sem voltar ao princípio. "São novos músicos, isso muda muita coisa. No estúdio a gente colocou elementos a mais, baixo synth e alguns teclados, que deram uma pegada eletrônica", explica Aydar sobre a nova embalagem das faixas de Pedaço.
"Elas vão ao palco bem fiéis nos arranjos, mas não abro mão da minha interpretação, do que vem na hora, nem da divisão rítmica. Gosto de ficar bem livre", acrescenta.
Outro elemento de que a cantora não abre mão é o contrabaixo elétrico, que passou a empunhar no show do ano passado. "A parte mais legal de tudo é o baixo. Já tinha alguma familiaridade com ele porque tocava violoncelo, que é de alguma forma parecido, dos 11 aos 17 anos". A iniciativa, ela conta, foi de Duani, que a convenceu a levar o instrumento à mão desde a abertura do espetáculo que deu origem ao novo disco. "Agora eu estou super feliz de poder cantar e tocar", comemora.
Assinatura do álbum, a singularidade das criações de Nuno Ramos é o principal eixo do show e serve de parâmetro para a formação do repertório, mesmo quando Mariana Aydar bebe das fontes de trabalhos anteriores. "Como esse universo do Nuno é muito peculiar, foi difícil escolher as músicas de fora do disco que vão entrar no show. A gente pegou algumas poucas dos meus discos passados e trouxe os arranjos para essa sonoridade nova, para esse universo", ela adianta.
Na versão ao vivo, Pedaço duma asa ganhará uma inédita, Vem na voz, colaboração de Nuno e Mariana. Outra composição do artista plástico integraria a setlist, mas o resultado dos ensaios deixou a cantora tão satisfeita que os planos se alteraram. "Essa ficou tão legal que vou guardar para o próximo disco", ela comenta, sem revelar o nome da obra.
Outros tributos ao artista no show incluem uma canção de Nelson Cavaquinho — "as composições do Nuno estão muito próximas à obra dele", justifica Mariana -- e uma versão instrumental de Carcará. A faixa de João do Vale e José Cândido foi gravada por Aydar para a instalação Bandeira branca, de Nuno, que causou frisson na Bienal de São Paulo em 2010 pela presença de urubus no pavilhão.
MARIANA AYDAR
Teatro Bradesco. Rua da Bahia, 2.244, Lourdes, (31) 3516-1360. Nesta quinta-feira, 1º de setembro, às 20h30. R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).