Não faz muito tempo, Egberto Gismonti mandou parar o ônibus que ia de Olinda (PE) a João Pessoa (PB) e no qual viajava com os jovens que dirige na Orquestra Corações Futuristas, a caminho de um festival. “Um dos meninos disse que Ordem dos Músicos não serve para nada”, lembra o pianista, violonista e compositor fluminense de 67 anos, dono de sólida carreira na música instrumental brasileira. Deu uma bronca no grupo e fez com que os 16 músicos que não tinham carteira da entidade se filiassem às pressas.
“A orquestra melhorou por muitos motivos. O bom foi que ganharam dinheiro e compraram novos instrumentos com ele. Ficaram felizes”, conta Gismonti. “Ser responsável significa ter respeito pelo que você é. Falta isso aos músicos brasileiros. Percebo que o exercício profissional da maioria deles é muito ruim. Não que tenham de se tornar advogados, mas não têm consciência da profissão”, critica. Hoje, ele sobe ao palco do Cine Theatro Brasil Vallourec, em Belo Horizonte, para concerto que tem parte solo, depois da apresentação do flautista e violonista Alexandre Andrés, que volta ao final ao lado Gismonti.
No caso de Gismonti, essa consciência profissional (somada ao talento, claro) possibilitou uma carreira de quase meio século e mais de 50 discos gravados – alguns deles pela gravadora alemã ECM, sinônimo mundial de alta qualidade. E sem leis de incentivo, conta: “Senão, tudo o que parece ótimo bate com o que não quero. Passei minha vida sem confusão jurídica porque fiz tudo por minha conta. É só pensar que o Michael Jackson comprou as músicas dos Beatles, que as 15 músicas mais conhecidas do Tom Jobim não pertencem à família. Não é questão de enriquecer. Você perde o direito de dormir tranquilo”.
CORDA FROUXA
“A orquestra melhorou por muitos motivos. O bom foi que ganharam dinheiro e compraram novos instrumentos com ele. Ficaram felizes”, conta Gismonti. “Ser responsável significa ter respeito pelo que você é. Falta isso aos músicos brasileiros. Percebo que o exercício profissional da maioria deles é muito ruim. Não que tenham de se tornar advogados, mas não têm consciência da profissão”, critica. Hoje, ele sobe ao palco do Cine Theatro Brasil Vallourec, em Belo Horizonte, para concerto que tem parte solo, depois da apresentação do flautista e violonista Alexandre Andrés, que volta ao final ao lado Gismonti.
No caso de Gismonti, essa consciência profissional (somada ao talento, claro) possibilitou uma carreira de quase meio século e mais de 50 discos gravados – alguns deles pela gravadora alemã ECM, sinônimo mundial de alta qualidade. E sem leis de incentivo, conta: “Senão, tudo o que parece ótimo bate com o que não quero. Passei minha vida sem confusão jurídica porque fiz tudo por minha conta. É só pensar que o Michael Jackson comprou as músicas dos Beatles, que as 15 músicas mais conhecidas do Tom Jobim não pertencem à família. Não é questão de enriquecer. Você perde o direito de dormir tranquilo”.
CORDA FROUXA
Para Gismonti, “o verdadeiro patrocinador é quem te acompanha por livre e espontânea vontade a vida inteira”. Por esse motivo, vem presenteando o público com discos dele em alguns de seus shows. Foi assim no Japão, no ano passado, quando distribuiu 4 mil caixas (cada uma com 18 álbuns) às pessoas que compareceram ao concerto de inauguração de um novo teatro. Será assim no Teatro Colón, em Buenos Aires, na Argentina, para onde levará alguns milhares de CDs com o registro de uma apresentação feita ali 10 anos atrás. “A vida já me presenteou demais”, conclui.
A propósito, o artista promete para o fim do ano espécie de segundo volume de Carta de amor, disco duplo que lançou em 2012, incluindo gravações ao vivo feitas ao lado do saxofonista Jan Garbarek e do baixista Charlie Haden em 1981, na Alemanha. Ele conta que o trio gravou três ou quatro discos num período de 10 meses e que Manfred Eicher, fundador ECM e que considera tudo isso um “tesouro”, tem todos guardados – o próximo lançamento será o segundo. No momento, é feita a seleção do repertório. Será outro CD duplo.
“Esse segundo disco em trio foi gravado em outro lugar e a música é muito mais improvisada que a de Carta de amor. Já saímos tocando, tocando, tocando. No último show que fizemos juntos, a gente não combinava repertório. Entrávamos e tocávamos. Eu lembro de uma ciranda linda que comecei a tocar e foi o bastante para Garbarek e Haden pegarem o bonde andando. Eles acharam que era um improviso e foram tocando. É um disco cheio de ‘confusão’”, adianta. A recuperação de momentos como esse tem interessado bastante Gismonti, que tem outros dois títulos duplos do gênero para colocar na praça.
Por que tanto disco duplo e ao vivo? “Significa que, se não aprendi a tocar até hoje o que penso, é porque estou mal das pernas. As pessoas seguem o que faço, lotando teatros pelo mundo. Se não posso me dar ao luxo de um registro de poucos erros técnicos, mas expressão artística representativa, o errado sou eu. Com orquestra, por exemplo, me interessa ouvir a captação de dois microfones na sala. Se começo a ouvir instrumentos separadamente, entro naquela de consertar as coisas. Não quero isso. Se terminou e achei que está uma beleza, lanço”, responde o artista.
O próprio Dança das cabeças (1977), um de seus discos mais conhecidos, gravado com o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, foi feito com esse pensamento. Inclusive, à época de seu lançamento, Gismonti ficou intrigado com uma crítica que leu sobre o trabalho e que fez referência a “efeito incrível” em uma das faixas. “As cordas do violão não eram bacanas e uma delas afrouxou durante a gravação. Para não parar, segui tocando e apertando a corda. Foi feito assim porque assim foi feito. Quando contei para o Naná sobre o que havia lido, ele deu risada”, diverte-se.
ENCOMENDA
A propósito, o artista promete para o fim do ano espécie de segundo volume de Carta de amor, disco duplo que lançou em 2012, incluindo gravações ao vivo feitas ao lado do saxofonista Jan Garbarek e do baixista Charlie Haden em 1981, na Alemanha. Ele conta que o trio gravou três ou quatro discos num período de 10 meses e que Manfred Eicher, fundador ECM e que considera tudo isso um “tesouro”, tem todos guardados – o próximo lançamento será o segundo. No momento, é feita a seleção do repertório. Será outro CD duplo.
“Esse segundo disco em trio foi gravado em outro lugar e a música é muito mais improvisada que a de Carta de amor. Já saímos tocando, tocando, tocando. No último show que fizemos juntos, a gente não combinava repertório. Entrávamos e tocávamos. Eu lembro de uma ciranda linda que comecei a tocar e foi o bastante para Garbarek e Haden pegarem o bonde andando. Eles acharam que era um improviso e foram tocando. É um disco cheio de ‘confusão’”, adianta. A recuperação de momentos como esse tem interessado bastante Gismonti, que tem outros dois títulos duplos do gênero para colocar na praça.
Por que tanto disco duplo e ao vivo? “Significa que, se não aprendi a tocar até hoje o que penso, é porque estou mal das pernas. As pessoas seguem o que faço, lotando teatros pelo mundo. Se não posso me dar ao luxo de um registro de poucos erros técnicos, mas expressão artística representativa, o errado sou eu. Com orquestra, por exemplo, me interessa ouvir a captação de dois microfones na sala. Se começo a ouvir instrumentos separadamente, entro naquela de consertar as coisas. Não quero isso. Se terminou e achei que está uma beleza, lanço”, responde o artista.
O próprio Dança das cabeças (1977), um de seus discos mais conhecidos, gravado com o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, foi feito com esse pensamento. Inclusive, à época de seu lançamento, Gismonti ficou intrigado com uma crítica que leu sobre o trabalho e que fez referência a “efeito incrível” em uma das faixas. “As cordas do violão não eram bacanas e uma delas afrouxou durante a gravação. Para não parar, segui tocando e apertando a corda. Foi feito assim porque assim foi feito. Quando contei para o Naná sobre o que havia lido, ele deu risada”, diverte-se.
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Atualmente, são as orquestras o que mais tem lhe tomado tempo. Toca com seis ou sete por ano. Ele é compositor residente, por exemplo, da Filarmônica de Tóquio e, entre seus compromissos pelo mundo, estão encomendas de composições inéditas, sendo algumas com até 30 minutos de duração. “E não necessariamente para orquestras”, acrescenta. No Brasil, um dos trabalhos mais recentes foi a criação da trilha sonora para a peça Days of wine and roses, que tem direção de Fábio Assunção e estreou em maio.
A ênfase no trabalho com orquestras, conta, ocorreu nos últimos 15 anos, período em que ficou em casa cuidando dos dois filhos, Bianca e Alexandre, ambos músicos. “Já que não podia viajar, fui estudar orquestração para não entrar em parafuso. Passei a entender melhor a fluidez da polirritmia do que toco e que não conseguia, até então, transpor para orquestra. Hoje tenho encomendas. Decidi que queria orquestra e que havia um buraco na música brasileira escrita. Depois de Villa-Lobos, perdeu-se a embocadura de mexer com orquestra”, conclui.
BOM-DIA
Em novembro, Egberto Gismonti fará shows com o bandolinista carioca Hamilton de Holanda, um deles em Belo Horizonte. Músicas inéditas estarão no repertório. “Hamilton é aquele companheiro que é só dar bom- dia e já saímos tocando. E ainda sou padrinho da filha dele, o que facilita muito”, conta o artista.
Meio de campo
Shows de Egberto Gismonti e Alexandre Andrés e banda. Hoje, às 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Praça Sete, s/nº, Centro). Ingresso a R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada). Informações: (31) 3201-5211.
A ênfase no trabalho com orquestras, conta, ocorreu nos últimos 15 anos, período em que ficou em casa cuidando dos dois filhos, Bianca e Alexandre, ambos músicos. “Já que não podia viajar, fui estudar orquestração para não entrar em parafuso. Passei a entender melhor a fluidez da polirritmia do que toco e que não conseguia, até então, transpor para orquestra. Hoje tenho encomendas. Decidi que queria orquestra e que havia um buraco na música brasileira escrita. Depois de Villa-Lobos, perdeu-se a embocadura de mexer com orquestra”, conclui.
BOM-DIA
Em novembro, Egberto Gismonti fará shows com o bandolinista carioca Hamilton de Holanda, um deles em Belo Horizonte. Músicas inéditas estarão no repertório. “Hamilton é aquele companheiro que é só dar bom- dia e já saímos tocando. E ainda sou padrinho da filha dele, o que facilita muito”, conta o artista.
Meio de campo
Shows de Egberto Gismonti e Alexandre Andrés e banda. Hoje, às 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Praça Sete, s/nº, Centro). Ingresso a R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada). Informações: (31) 3201-5211.