Festival de rock ou parque de diversões? Parque de diversões, responde o empresário Roberto Medina quando diz que os shows, gradativamente, são, cada vez mais, o que menos importa. É um movimento de risco. Tentar amenizar a relação das massas com o rock desviando o curso das expectativas para seu complexo de entretenimento busca identidade mas também absolvição para o drama dos novos tempos: a falta de mais nomes para grandes espetáculos. O Rock in Rio começou nesta sexta-feira, 18, seu teste de fogo.
E de fogos. Faltando cinco minutos para às 19h, uma bateria de fogos de artifício foi acionada e o espetáculo das cores, mais cores do que barulho, chamou um grande número de pessoas para a frente do Palco Mundo com certo suspense. Muita gente sabia que o tema desta edição seria de nostalgia, dos trinta anos que se passaram desde as primeiras noites de um projeto que nasceu no deserto de credibilidades de 1985.
No Mundo, Frejat, ainda com o palco escuro, fez o primeiro acorde de Pro Dia Nascer Feliz e aquilo funcionou como uma explosão. A massa de som, bem equilibrada, fez a plateia levantar como num gesto automático, e ficou difícil não pensar em 1985 mesmo para quem não era nascido em 1985.
Depois dele, Ney Matogrosso veio sem avisar, de preto, olhos pintados, cantando com o Barão Vermelho Por que a Gente É Assim? Ney foi espetacular. Tinha uma música e a usou como se fizesse um show inteiro. Depois, ainda, cantou com o peso das guitarras que lhe havia nas costas Rua da Passagem, de Lenine.
O Palco Mundo viveu instantes de Palco Sunset. Samuel Rosa, saltitante e quase descontrolado em sua empolgação, cantou com o Skank Vou Deixar para receber logo depois Erasmo Carlos, que chamou de o homem que criou o rock brasileiro. No ritmo sem pausas, Erasmo fez Pode Vir Quente Que Estou Fervendo e, depois, É Proibido Fumar.
Ivan Lins, Blitz, Paralamas do Sucesso, a temática dos 30 anos funcionava como uma bênção dos céus em um ano de vacas magras. De repente, tudo parecia permitido em nome da saudade.
Depois do abre com emoção, a banda irlandesa Script fez uma apresentação que dividiu o público entre adolescentes fanáticos e pais pacientes que esperavam pelo Queen. Já era meia hora de sábado, 19, quando o Queen + Adam Lambert entrou no Palco Mundo. Correria daqueles que estavam longe para chegar o mais perto possível da banda. É assim, de supetão e ao som de One Vision, que teve início o último show do primeiro dia de Rock in Rio.
Antes deles, se apresentaram o OneRepublic, com uma performance e liderança contagiantes de seu líder Ryan Tedder. Seria uma boy band se não fosse um acabamento pop tão competente.
Mas o Rock in Rio não é só música e diversão. O impacto regional de um festival que atrai 600 mil pessoas em sete dias foge aos esquadros de Medina porque envolve também a complexa cidade do Rio de Janeiro. E o transporte, depois de uma edição de 2013 tranquila e operacionalmente competente, deu dois passos para trás ao substituir os ônibus comuns pelas serpentes chamadas no Rio de BRTs. Fez certo ao adotar a aposta da cidade para tentar amenizar os problemas de um trânsito caótico, mas deve levar ainda mais duas ou três edições para reaprender a fazer o que já havia feito, pelo menos uma vez, muito bem.
O dia começou sem informação suficiente no terminal Alvorada e prosseguiu mal, até uma superlotação que o transformou em barril de pólvora. Usuários que tentaram embarcar no BRT no Terminal Alvorada - único transporte regular para a Cidade do Rock - tiveram de esperar mais de uma hora numa fila longa. E quem saiu da zona sul no ônibus especial, executivo, chamado de primeira classe e que custa R$ 70, pegou mais de uma hora de engarrafamento até a Barra da Tijuca. O trajeto já é demorado normalmente, e as obras da Olimpíada de 2016 agravaram o problema.
Há um outro quesito para Medina se preocupar. Esta é a terceira edição em que a Cidade do Rock é reaberta, salvo poucas alterações de logística nos brinquedos, da mesma forma, com os mesmos brinquedos. Se boa parte do público do Rock in Rio tem se fidelizado, comprando na própria Cidade do Rock reservas para terem ingressos para 2017, é importante surpreendê-lo também no entretenimento.
Há uma explosão no número de tendas e barracas de patrocinadores por todos os lados, de grandes marcas de cerveja e carros, mas o parque segue o mesmo. Se a tirolesa é um sucesso, com filas que chegaram a ter seis horas de espera na edição de 2013, por que não se criar uma segunda estação? Se a montanha-russa é um sucesso sendo pequena como é, não assombrando nem uma criança, porque não tornar sua experiência mais radical? Se a roda gigante atrai fãs mesmo nas horas dos grandes shows, que venham outros desafios nas alturas. Haveria um risco de se esvaziar os palcos enchendo filas? Sim, mas apenas se Medina permitir o sucateamento de sua curadoria, algo que parece em curso.
E de fogos. Faltando cinco minutos para às 19h, uma bateria de fogos de artifício foi acionada e o espetáculo das cores, mais cores do que barulho, chamou um grande número de pessoas para a frente do Palco Mundo com certo suspense. Muita gente sabia que o tema desta edição seria de nostalgia, dos trinta anos que se passaram desde as primeiras noites de um projeto que nasceu no deserto de credibilidades de 1985.
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No Mundo, Frejat, ainda com o palco escuro, fez o primeiro acorde de Pro Dia Nascer Feliz e aquilo funcionou como uma explosão. A massa de som, bem equilibrada, fez a plateia levantar como num gesto automático, e ficou difícil não pensar em 1985 mesmo para quem não era nascido em 1985.
Depois dele, Ney Matogrosso veio sem avisar, de preto, olhos pintados, cantando com o Barão Vermelho Por que a Gente É Assim? Ney foi espetacular. Tinha uma música e a usou como se fizesse um show inteiro. Depois, ainda, cantou com o peso das guitarras que lhe havia nas costas Rua da Passagem, de Lenine.
O Palco Mundo viveu instantes de Palco Sunset. Samuel Rosa, saltitante e quase descontrolado em sua empolgação, cantou com o Skank Vou Deixar para receber logo depois Erasmo Carlos, que chamou de o homem que criou o rock brasileiro. No ritmo sem pausas, Erasmo fez Pode Vir Quente Que Estou Fervendo e, depois, É Proibido Fumar.
Ivan Lins, Blitz, Paralamas do Sucesso, a temática dos 30 anos funcionava como uma bênção dos céus em um ano de vacas magras. De repente, tudo parecia permitido em nome da saudade.
Depois do abre com emoção, a banda irlandesa Script fez uma apresentação que dividiu o público entre adolescentes fanáticos e pais pacientes que esperavam pelo Queen. Já era meia hora de sábado, 19, quando o Queen + Adam Lambert entrou no Palco Mundo. Correria daqueles que estavam longe para chegar o mais perto possível da banda. É assim, de supetão e ao som de One Vision, que teve início o último show do primeiro dia de Rock in Rio.
Antes deles, se apresentaram o OneRepublic, com uma performance e liderança contagiantes de seu líder Ryan Tedder. Seria uma boy band se não fosse um acabamento pop tão competente.
Mas o Rock in Rio não é só música e diversão. O impacto regional de um festival que atrai 600 mil pessoas em sete dias foge aos esquadros de Medina porque envolve também a complexa cidade do Rio de Janeiro. E o transporte, depois de uma edição de 2013 tranquila e operacionalmente competente, deu dois passos para trás ao substituir os ônibus comuns pelas serpentes chamadas no Rio de BRTs. Fez certo ao adotar a aposta da cidade para tentar amenizar os problemas de um trânsito caótico, mas deve levar ainda mais duas ou três edições para reaprender a fazer o que já havia feito, pelo menos uma vez, muito bem.
O dia começou sem informação suficiente no terminal Alvorada e prosseguiu mal, até uma superlotação que o transformou em barril de pólvora. Usuários que tentaram embarcar no BRT no Terminal Alvorada - único transporte regular para a Cidade do Rock - tiveram de esperar mais de uma hora numa fila longa. E quem saiu da zona sul no ônibus especial, executivo, chamado de primeira classe e que custa R$ 70, pegou mais de uma hora de engarrafamento até a Barra da Tijuca. O trajeto já é demorado normalmente, e as obras da Olimpíada de 2016 agravaram o problema.
Há um outro quesito para Medina se preocupar. Esta é a terceira edição em que a Cidade do Rock é reaberta, salvo poucas alterações de logística nos brinquedos, da mesma forma, com os mesmos brinquedos. Se boa parte do público do Rock in Rio tem se fidelizado, comprando na própria Cidade do Rock reservas para terem ingressos para 2017, é importante surpreendê-lo também no entretenimento.
Há uma explosão no número de tendas e barracas de patrocinadores por todos os lados, de grandes marcas de cerveja e carros, mas o parque segue o mesmo. Se a tirolesa é um sucesso, com filas que chegaram a ter seis horas de espera na edição de 2013, por que não se criar uma segunda estação? Se a montanha-russa é um sucesso sendo pequena como é, não assombrando nem uma criança, porque não tornar sua experiência mais radical? Se a roda gigante atrai fãs mesmo nas horas dos grandes shows, que venham outros desafios nas alturas. Haveria um risco de se esvaziar os palcos enchendo filas? Sim, mas apenas se Medina permitir o sucateamento de sua curadoria, algo que parece em curso.