Carlinhos Brown debaixo de uma chuva de garrafas plásticas de água atiradas pelos fãs headbangers do Guns N’ Roses se transformou, em 2001, numa das mais divertidas imagens da história do Rock in Rio. Por trás dessa recordação está exposto um dos problemas do festival, que parece, finalmente, bem solucionado em sua edição 2015, que começa hoje: o relacionamento entre as atrações (e seus públicos) divididas entre pop e rock.
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O Metallica fecha um dia que tem Noturnall, Angra, Ministry, Korn, Gojira, Royal Blood e Mötley Crüe. System of a Down se apresenta depois de Project 46, John Wayne, Halestorm, Lamb of God, Deftones, CPM 22, Hollywood Vampires e Queens of the Stone Age.
No dia do show de terror e máscaras do Slipknot, a escalação começa meio esquisita, com o projeto brasileiro Clássicos do Terror, mas depois engrena o som pesado com Moonspell, Nightwish, Steve Vai, De La Tierra, Mastodon e Faith No More.
Apesar do DNA roqueiro, Queen e Rod Stewart já deixaram pegadas em terreno mais pop, e por isso não é estranho que encerrem noites mais tranquilas e variadas hoje e no dia 20 – este com programação para um público mais maduro; além de Rod tem Elton John, John Legend e Seal. Nos últimos dias do Rock in Rio, Rihanna (26) e Katy Perry (27) não deixam dúvidas sobre o caráter superpop da programação. (Folhapress)
Três perguntas para...
Roberto Medina, criador do Rock in Rio
Helvecio Carlos - Rio de Janeiro
A variação do dólar foi o grande desafio para montar o line-up do Rock in Rio 30 Anos?
Desde 1991, faço hedge, operação bancária em que você compra moeda internacional com antecedência. Como comprei o dólar há um ano e meio, não mudou nada. Mas esse impacto será maior nos próximos eventos. O principal impacto do dólar está na conta do artista.
Você conseguiu reunir 16 grupos que fazem parte da história da música brasileira na abertura do festival. Ainda sente falta de alguém?
À exceção dos que morreram, insubstituíveis, estão praticamente todos. Mas o grande intérprete do primeiro Rock in Rio não foram os artistas, foi o público. Nós fomos o primeiro evento no mundo que iluminou plateia. Uma ideia, na época, rejeitada pelas bandas e pelo diretor de produção. Ninguém aceitou. Mas, no peito, abri a luz com o iluminador e todos adoraram.
Esse não foi o único desafio que enfrentei na primeira edição do festival. Dom Eugênio Salles (arcebispo do Rio de Janeiro) disse à imprensa que era um absurdo um evento para 1 milhão de pessoas. Lembro-me de que me reuni com os bispos, nas Laranjeiras, para apresentar meus argumentos para a realização do evento.
Houve também uma história de que, segundo uma profecia de Nostradamus, o mundo acabaria no primeiro dia do Rock in Rio. Kadu Moliterno, o apresentador daquela edição, me contou que, assustado com a história, abandonou o palco quando ouviu um estouro, que nada mais era que um curto-circuito. Ele pegou a moto e foi embora para casa. Só quando percebeu que o mundo não havia acabado voltou, depois de pular a apresentação de um show. Se eu me encontrasse com o Roberto Medina de 30 anos atrás, diria a ele: “Pô! Tu é muito maluco cara”.
Muita gente critica o line-up do festival por não reunir apenas bandas de rock...
Mas o Rock in Rio nunca foi um festival só de rock. Na primeira edição, por exemplo, houve jazz, new wave. Hoje, comparado às edições anteriores, ele está mais roqueiro do que nunca. Este ano teremos, por exemplo, três noites de rock.