Os olhos de Madonna brilhavam. Já haviam passado duas horas de um espetáculo no qual freiras se retorciam em torno de barras de pole dance e belos bailarinos simulavam atos sexuais. "Tenho muita sorte por ter sobrevivido a tanta coisa", disse a lenda do pop à multidão que esgotou na noite de quarta-feira, 16, os ingressos do Madison Square Garden, em Nova York.
"Esta noite me sinto muito nostálgica. A primeira vez que me apresentei aqui foi há 30 anos", contou. Em uma das primeiras datas de sua nova turnê 'Rebel heart', Madonna demonstrou que ainda tem capacidade para provocar e que, aos 57 anos, continua sendo capaz de seguir uma elaborada coreografia que deixaria sem ar qualquer outro artista de qualquer idade.
'Holy water' tem coreografia polêmica com freiras:
O espetáculo começou quando Madonna saiu de uma jaula até uma procissão de bailarinos, um cortejo inspirado em Joana D'Arc e nos samurais. A cantora e seus bailarinos trocaram de figurino em um ritmo vertiginoso, à medida que a cantora assumia personagens que iam desde uma menina dos anos 20 a uma toureira erótica.
Também ficou emocionada com o público de sua cidade adotiva ao recordar que foi no Madison Square Garden que encerrou, triunfante, sua primeira turnê, 'Virgin tour', em 1985.
Esta demonstração de emoções é algo incomum para Madonna, conhecida por sua feroz determinação profissional e que respondeu desafiadora a alguns acontecimentos recentes, entre eles o vazamento online de seu álbum 'Rebel heart'.
Mais sexo e choque
Madonna ajudou a revolucionar o conceito de show quando fez, em 1990, a turnê 'Blond ambition', na qual proporcionou um tipo de nova aura para sua própria música através das contínuas trocas de figurino e das fortes conotações sexuais. Uma cena na qual simulava se masturbar recebeu inclusive uma condenação do Vaticano.
Confira performance de 'La vie en rose' no show de Madonna:
Com a turnê 'Rebel heart', o conteúdo sexual está longe de ter diminuído. De fato, Madonna entrou no palco acompanhada de uma gravação na qual ela mesma disse: "Tenho seios e bumbum e um desejo insaciável de chamar atenção". Quando cantou 'Holy water', um grupo de bailarinos vestidos de freiras com aspecto transgênero deslizavam para cima e para baixo em barras de pole dance e lançaram Madonna para o ar.
Depois, o cenário se transformou em uma imitação da 'Última ceia'. Mas, nesta versão, Madonna era o prato principal e estava amarrada à mesa, com suas pernas sugestivamente abertas. Mas a artista mostrou que também é capaz de surpreender com a música e o poder de sua voz. Em um dos momentos emotivos da noite, sentou-se sozinha com um 'ukulele' e cantou, em francês, 'La vie en rose', de Edith Piaf.
Adotando a cultura hispânica
Sua base de fãs em Nova York está dominada por hispânicos, além de gays. Talvez por eles, Madonna transformou suas canções mais dançantes dos anos 80 ('Dress you up', 'Into the groove' e 'Lucky star') em um pout-pourri acústico com tons espanhóis e acompanhado no palco por um baile flamenco.
Medley acústico revisita hits dos anos 80:
"Esta é a primeira vez que meu agente me disse que estou vestindo muita roupa", disse Madonna quando saiu com um vestido de flores. A artista começou a turnê na semana passada em Montreal e pensa em se apresentar em 76 espetáculos até 27 de março, dia em que 'Rebel heart' chegará a seu fim em Brisbane, Austrália.
É a primeira turnê que dá desde sua exigente volta ao mundo em 2012 para promover seu álbum 'MDNA', com show que passou pelo Brasil. As 88 datas daquela tour despertaram controvérsias devido a seus comentários sobre temas como a cultura das armas nos Estados Unidos e a extrema direita na Europa.