Coletânea 'Rosa Passos canta Ary, Tom e Caymmi' mostra versões repletas de sutilezas e elegância

Selecionadas pela própria cantora, as músicas saíram dos discos 'Letra e música - Ary Barroso', 'Rosa Passos 'canta Tom Jobim %u2013 40 anos de Bossa nova', e 'Rosa Passos canta Caymmi'

por Kiko Ferreira 17/09/2015 09:02

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MIRNA MÓDOLO/DIVULGAÇÃO
A baiana Rosa Passos consegue fazer leituras próprias a partir de canções consagradas (foto: MIRNA MÓDOLO/DIVULGAÇÃO)
Com os timbres cada vez mais agressivos, os volumes mais altos e as distorções variadas poluindo ambientes, é um oásis sonoro o CD 'Rosa Passos canta Ary, Tom e Caymmi', com 13 faixas extraídas de quatro discos que a baiana Rosa Passos gravou para o selo Lumiar, de Almir Chediak, o rei dos songbooks, entre 1997 e 2000. Um dos trunfos da carreira do produtor, falecido em 2003, foi o de provocar dezena de artistas a recriar obras clássicas, seguindo as partituras que ele reviu e publicou, num trabalho fundamental para a preservação da memória musical brasileira.

Selecionadas pela própria cantora, as músicas saíram dos discos Letra e música - Ary Barroso, Rosa Passos canta Tom Jobim – 40 anos de Bossa nova, e Rosa Passos canta Caymmi. Intérprete original, capaz de transformar em material próprio canções alheias, Rosa dá lições para cantoras e acaricia ouvidos sensíveis numa sequência bem construída em que algumas faixas chamam mais a atenção.

Vale começar por 'Vestido de bolero', que ganha interpretação tão boa quanto a leitura de Nana Caymmi, considerada a versão definitiva. As surradas 'Garota de Ipanema' (Tom Jobim/Vinícius) e 'Samba de uma nota só' (Tom Jobim/Aloysio de Oliveira) cintilam como standards de jazz, em tratamentos como os que Ella Fitzgerald costumava usar. E 'Camisa amarela' (Ary Barroso), que Nara Leão havia capturado para o universo da bossa nova, recebe da baiana uma sutileza e uma malícia inéditas.

Mesmo que faixas como 'Marina' (Caymmi) e 'Vatapá' (Caymmi) soem, inicialmente, como menos desafiadas e desafiadoras, aos poucos somos conquistados pelas divisões originais, as sutilezas no tratamento das letras e das melodias e os andamentos elegantemente conduzidos. Em resumo, a coletânea, que foi lançada no Brasil pela gravadora Biscoito Fino no mercado nacional e está ganhando mundo a partir deste mês, é uma excelente introdução ao universo de Rosa Passos. E ajuda a engrossar o coro dos que clamam por um retorno dela como compositora, mais do que necessário num cenário cheio de inconsistência e falsos lampejos de genialidade.

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