Selecionadas pela própria cantora, as músicas saíram dos discos Letra e música - Ary Barroso, Rosa Passos canta Tom Jobim – 40 anos de Bossa nova, e Rosa Passos canta Caymmi. Intérprete original, capaz de transformar em material próprio canções alheias, Rosa dá lições para cantoras e acaricia ouvidos sensíveis numa sequência bem construída em que algumas faixas chamam mais a atenção.
Vale começar por 'Vestido de bolero', que ganha interpretação tão boa quanto a leitura de Nana Caymmi, considerada a versão definitiva. As surradas 'Garota de Ipanema' (Tom Jobim/Vinícius) e 'Samba de uma nota só' (Tom Jobim/Aloysio de Oliveira) cintilam como standards de jazz, em tratamentos como os que Ella Fitzgerald costumava usar. E 'Camisa amarela' (Ary Barroso), que Nara Leão havia capturado para o universo da bossa nova, recebe da baiana uma sutileza e uma malícia inéditas.
Mesmo que faixas como 'Marina' (Caymmi) e 'Vatapá' (Caymmi) soem, inicialmente, como menos desafiadas e desafiadoras, aos poucos somos conquistados pelas divisões originais, as sutilezas no tratamento das letras e das melodias e os andamentos elegantemente conduzidos. Em resumo, a coletânea, que foi lançada no Brasil pela gravadora Biscoito Fino no mercado nacional e está ganhando mundo a partir deste mês, é uma excelente introdução ao universo de Rosa Passos. E ajuda a engrossar o coro dos que clamam por um retorno dela como compositora, mais do que necessário num cenário cheio de inconsistência e falsos lampejos de genialidade.