Há algo de melancólico no desenho animado 'Hora de aventura' (Cartoon Network). O sentimento está escondido em subtextos que as crianças, contudo, não percebem. Aos adultos, a tristeza daquele mundo pós-apocalíptico se escancara. André Henrique, músico que assume o sobrenome artístico de Whoong, compunha a primeira música daquele que seria o disco de estreia com a TV ligada, em frente ao sofá.
Na tela, a vampira Marceline cantava uma música chamada 'I remember you' e tocava um omnichord, uma espécie de teclado criado nos anos 1980, usado por gente como Damon Albarn (Gorillaz), Mark Mothersbaugh (Devo) e Nick Rhodes (Duran Duran). "Achei aquele som tão bonito. Aquilo até me inspirou, ajudou a trazer a parte mais melancólica da música", conta.
Tiê, conta o músico de 29 anos, foi fundamental para a compreensão de como ele poderia soar como autor solo. Com ela, ele gravou 'Esmeraldas', terceiro álbum da carreira da cantora, e integrou sua banda. Foi durante a finalização do disco em Nova York que ele voltou a topar com um omnichord, em um show realizado em um apartamento, no Brooklyn. "Quando vi o instrumento de novo, eu pirei. Pensei: Vou compor uma música nesse instrumento." 'Pensei Bem', a 11ª do disco, foi criada inteiramente no omnichord.
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'1985', disco que leva como nome o ano de nascimento de Whoong, expõe um compositor quase cronista, que desabafa ou desafoga suas angústias dos 30 anos que serão completados em outubro. A idade no título, aliás, expõe um amadurecimento que, conta ele, veio somente agora.
No álbum, não há saídas fáceis, são canções que saem da caixinha que prende o pop brasileiro. Há doçura e melancolia, como em 'Vou parar de beber', primeiro single, aquele composto enquanto o desenho (nada) infantil era exibido na televisão naquela tarde criativa.