Há algo de melancólico no desenho animado 'Hora de aventura' (Cartoon Network). O sentimento está escondido em subtextos que as crianças, contudo, não percebem. Aos adultos, a tristeza daquele mundo pós-apocalíptico se escancara. André Henrique, músico que assume o sobrenome artístico de Whoong, compunha a primeira música daquele que seria o disco de estreia com a TV ligada, em frente ao sofá.
Na tela, a vampira Marceline cantava uma música chamada 'I remember you' e tocava um omnichord, uma espécie de teclado criado nos anos 1980, usado por gente como Damon Albarn (Gorillaz), Mark Mothersbaugh (Devo) e Nick Rhodes (Duran Duran). "Achei aquele som tão bonito. Aquilo até me inspirou, ajudou a trazer a parte mais melancólica da música", conta.
É a presença do instrumento, em quatro das 12 faixas, que traz um tempero diferente ao pop criado pelo músico paulista, em sua estreia solo, com o disco '1985', que chega às plataformas digitais nesta sexta-feira, 18. A versão física, lançada pelo selo Rosa Flamingo, da cantora Tiê, já está nas lojas e o show de lançamento está marcado para o dia 29 de setembro, terça-feira, em São Paulo.
Tiê, conta o músico de 29 anos, foi fundamental para a compreensão de como ele poderia soar como autor solo. Com ela, ele gravou 'Esmeraldas', terceiro álbum da carreira da cantora, e integrou sua banda. Foi durante a finalização do disco em Nova York que ele voltou a topar com um omnichord, em um show realizado em um apartamento, no Brooklyn. "Quando vi o instrumento de novo, eu pirei. Pensei: Vou compor uma música nesse instrumento." 'Pensei Bem', a 11ª do disco, foi criada inteiramente no omnichord.
Foi Tiê também que convenceu o músico, que já havia trabalhado com Odair José, Adriano Cintra, Banda Uó, Bonde do Rolê, e colaborou até com David Byrne, a escrever seus versos em português. "Nas gravações de 'Esmeraldas' (de Tiê), eu mostrava algumas músicas próprias balbuciando em inglês. Saquei que meus posts no Facebook faziam mais sucesso que aquelas músicas", explica, rindo.
'1985', disco que leva como nome o ano de nascimento de Whoong, expõe um compositor quase cronista, que desabafa ou desafoga suas angústias dos 30 anos que serão completados em outubro. A idade no título, aliás, expõe um amadurecimento que, conta ele, veio somente agora.
No álbum, não há saídas fáceis, são canções que saem da caixinha que prende o pop brasileiro. Há doçura e melancolia, como em 'Vou parar de beber', primeiro single, aquele composto enquanto o desenho (nada) infantil era exibido na televisão naquela tarde criativa.