A sambista se fez presente em todo o processo de construção do texto. Teve minuciosas conversas com o autor, Rômulo Rodrigues, assistiu a ensaios, sugeriu acréscimos, personagens, músicas. Só não opinou na escolha das três atrizes que a interpretariam na infância, juventude e maturidade.
"Foi um processo muito arrepiante, muitas lágrimas rolaram. Montamos a peça no play do prédio da Beth, ela adorou, ficou emocionada", conta o diretor, Ernesto Piccolo.
A dramaturgia abarca desde a infância da carioca Elizabeth Santos Leal de Carvalho, enfocando sua troca de afeição do balé clássico pela música até a consagração como intérprete de sambas. Busca realismo o tempo todo, com atores emulando maneirismos e o jeito de cantar de artistas como Nelson Cavaquinho, Martinho da Vila e Milton Nascimento. Se, por vezes, escorrega no sentimentalismo, tem por mérito a direção musical de Rildo Hora, íntimo do cancioneiro de Beth há mais de 40 anos. Ele próprio está em cena como personagem. "Acompanho a Beth desde os discos da RCA (nos anos 1970), mas já era amigo dela quando era cantora de bossa nova.
Cinquenta e nove músicas embalam a história, desde a Beth menina (Jamilly Mariano), que ouve os sucessos do rádio com a mãe (Lenita Lopes) e o pai (Mauricio Baduh). O público canta junta os sucessos populares dos anos 1970 e 1980. A partida é com 'Andança' (Edmundo Souto/Paulinho Tapajós/Danilo Caymmi), egresso do Festival Internacional da Canção de 1968 (tirou o 3.º lugar, perdendo para Sabiá, de Tom Jobim/Chico Buarque, e 'Para não dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré).
'1800 Colinas' (Gracia do Salgueiro), 'As rosas não falam' (Cartola), 'Folhas secas' (Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito) e 'Camarão que dorme a onda leva' (Beto sem Braço/Zeca Pagodinho/Arlindo Cruz) são cantadas em coro. Mas não tanto quanto Vou 'Festejar' (Jorge Aragão/Dida/Neoci Dias) e 'Coisinha do pai' (Jorge Aragão/Almir Guineto/Luiz Carlos da Vila).
O destaque do musical, que tem 23 atores e nove músicos tocando ao vivo, é a cantora e atriz Stephanie Serrat, a Beth dos 17 aos 40 anos: é ela a cantora de bossa nova de festinhas da zona sul, a menina apaixonada por música popular e pela Mangueira, que luta por um destaque nos festivais, que se aproxima de Nelson Cavaquinho e Cartola.
Na estreia teatral, a cadeira se transformou numa espécie de trono, instalado no meio do teatro e ao qual os convidados se dirigiam para saudações e pedidos de selfies. Beth aplaudiu cada número, cantou junto algumas músicas e lacrimejou. "São 50 anos de carreira, e isso não é qualquer um que faz. Eu estou muito feliz com tudo isso", declarou, no intervalo da peça.
A encenação é iniciada por uma fala do jornalista Sergio Cabral.