Justamente por estar “em casa”, Samuel Rosa (voz e guitarra), Henrique Portugal (teclados), Lelo Zaneti (baixo) e Haroldo Ferretti (bateria) reuniram-se anteontem para ensaiar para o show desta noite no Chevrolet Hall, coisa que não têm necessidade de fazer a cada apresentação pelo país. Encontraram-se especificamente para ensaiar quatro canções que não costumam figurar no set list da turnê.
Há músicas que têm que ser tocadas aqui. 'Tanto', por exemplo, é uma delas. A versão que Chico Amaral fez para 'I want you', de Bob Dylan, é tocada pelo Skank desde a época em que o quarteto, sem disco na praça, era mais uma das bandas da noite da cidade.
Muitos quarentões que frequentaram o extinto Maxaluna, na Avenida do Contorno, levam hoje os filhos para ver o Skank. Para os pais, há muito sentido em ouvir os versos “mas seu dândi vai/de paletó chinês/falou comigo mais de uma vez/não, eu sei, não fui muito cortês”. Já seus filhos podem ver mais sentido em ouvir 'Esquecimento' ou então 'Do mesmo jeito', ambas pinçadas de 'Velocia', e bem executadas nas rádios.
Essas duas músicas se juntam a outras da nova safra – 'Multidão', 'Alexia', 'Ela me deixou' e 'A noite', que costuma abrir as apresentações da turnê. Todas elas estão no repertório oficial da turnê. Algo que não ocorre com canções mais antigas.
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Há algumas outras cartas na manga para o público que for ao show. Uma canção pinçada de 'Cosmotron' (2003), bem como um cover. “A gente gosta sempre de dar um mimo para o público”, afirma Samuel. Diante disso, serão pelo menos duas horas. Falar exatamente como vai ser, nem o próprio vocalista sabe, já que a ordem das canções é definida somente no dia.
“Fazer o show (em Belo Horizonte) agora, por um lado, é ruim, porque demorou muito. Por outro lado, a turnê chega afiada, e acho que só mais recentemente ela esquentou. As músicas novas estão se encaixando melhor no repertório. Fizemos uns ajustes”, acrescenta Samuel.
As turnês do Skank costumam ter um conceito. A parte gráfica do álbum dialoga com as canções, que dialogam ainda com a cenografia do show. Neste, há um painel de LED no fundo do palco que apresenta imagens (muitas delas pinçadas do encarte) que remetem às músicas.
O Skank nasceu em 1991. Lançou seu álbum de estreia no ano seguinte. Mas, para muita gente, a banda só passou a existir a partir de 1994, quando o grupo lançou 'Calango'. A partir do sucesso da versão de 'É proibido fumar' (Roberto e Erasmo), além de 'Te ver', 'Pacato cidadão' e 'Jackie Tequila', vendeu seu primeiro milhão de cópias.
“Tem gente que acha que o primeiro álbum do Skank foi 'Calango'”, comenta Henrique Portugal. Porque foi somente com esse disco que o grupo se tornou nacional. O disco de estreia, para os fãs de primeira hora, foi um CD independente lançado num show em novembro de 1992, numa noite chuvosa nas Braúnas, região da Pampulha.
Somente no ano seguinte, após contrato com a Sony, o CD ganhou as lojas de todo o país. Oito faixas foram remixadas. Duas, Réu e rei e Salto no asfalto, foram gravadas novamente (um ensaio da banda Kamikaze foi gravado em cima dos registros originais das duas canções do Skank).
Na empolgação, a banda fez um registro extra de 'Salto no asfalto', uma versão instrumental que ganhou o título de 'Caju dub' (homenagem ao atacante Paulo César Caju, da seleção tricampeã da Copa de 1970). Essa canção, a 11ª, só existe no disco da Sony. A título de curiosidade: o registro foi feito no Rio e o técnico de gravação foi Paulo Junqueiro, hoje presidente da Sony.
O Skank, como toda a geração de bandas dos anos 1990, sofreu no final daquela década e no início da seguinte com a pirataria de CDs. Pois no início da carreira, Portugal se lembra, beneficiou-se bastante de uma forma bem prosaica de pirataria.
“É a velha história da fitinha que os mineiros levavam para a praia”, relembra o tecladista. Pois no verão de 1992, meses antes de o primeiro álbum ganhar lançamento pela Sony, os cassetes que rodavam os litorais do Espírito Santo e de Santa Catarina fizeram com que as canções daquela banda de reggae de garotos brancos que viviam bem longe do mar estourasse.
O projeto com Lô, que se apresenta com Samuel desde o final dos anos 1990, será lançado em fevereiro. Sinal de que a carreira solo de Samuel finalmente vai ganhar corpo?
“Considero este projeto com o Lô o pontapé do horizonte que quero abrir mais para a frente. A partir de agora, quero estar sempre em duas frentes. Ano que vem, por exemplo, o Skank vai continuar em turnê. Mas vou fazer outra com o Lô. A ideia é caminhar juntos até quando der”, diz Samuel.
No dia 18, Samuel se une ao baterista Haroldo Ferretti para participar da banda que vai, na abertura do Rock in Rio, participar da homenagem aos 30 anos do festival. O vocalista vai interpretar, com Erasmo Carlos, 'É proibido fumar'.
Show nesta sexta, a partir das 22h, no Chevrolet Hall, Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, (31) 4003-5588. Ingressos: 3º lote – R$ 120 e R$ 60 (meia).