Não é bobagem, não. Por pensar em música o dia inteiro, o multi-instrumentista alagoano habituou-se não apenas a usar todo tipo de objeto para extrair som, mas a enxergar praticamente qualquer coisa como uma partitura em branco. Tem sido assim nas viagens de avião, por exemplo, durante as quais escreve notas musicais nas páginas das revistas de bordo. E ele logo vai desembarcar em Belo Horizonte para show no Cine Theatro Brasil Vallourec na quinta-feira, 10, com participação do pianista Rafael Macedo.
Música universal
“Se eu não fizer música, fico vazio”, garante Hermeto. “Só faço quando tenho vontade, e essa vontade só aumenta. Então, fico no avião escrevendo sem parar. Outro dia, folheando uma dessas revistas, vi uma propaganda com uma foto de um rio com pessoas nadando. Você precisava ter visto que beleza. Escrevi a música num pedacinho da página, arranquei e deixei com os comissários de bordo. Ela tem o mesmo valor de qualquer outra que já compus”, conta Pascoal.
Sobre o repertório que vai tocar em BH, não sabe dar muitos detalhes, mas explica que, como de costume, haverá algo que o público não conhece. “Sempre temos músicas novas e vamos mudando a interpretação, o andamento a cada apresentação”, ressalta.
“O baterista e o baixista tocam solto, isso nos inspira. Isso é o que chamo de música universal”, continua, relacionando o grupo que o acompanha: Aline Morena (voz, viola caipira e percussão corporal), Itiberê Zwarg (baixo), Ajurinã Zwarg (bateria), Fábio Pascoal (percussão), André Marques (piano) e Vinícius Dorin (sax e flauta).
Explicar como seu processo de composição é articulado com toda essa “soltura”, então, é tarefa ainda mais complicada. “É uma coisa que vem, um improviso. Tem gente que toca bem, impressiona, faz um monte de notas. Tocar uma música lenta, com harmonia e interpretação bonita, supera o que é rápido demais. O bom é equilibrar isso e sempre colocar o sentir na frente do saber. Se não houver sentimento, vira aquele improviso ensinado por escola, tipo Berklee”, resume.
Algum grande projeto musical que ainda queira realizar? “Não sei qual é, mas é sempre amanhã. É o sentir na frente. É como tentar premeditar o soluço, aquela coisa que te assusta. Esse negócio de forçar a vontade é tolher a criação. Pode parecer que meu caso é esse, pela quantidade de coisas que faço, mas não é. É que eu não paro”, justifica. Prestes a completar 6 mil músicas escritas, Hermeto acredita que tudo possa virar som. Literalmente.
Brincalhão
Em 22 de junho de 2016, Hermeto completará 80 anos. Ainda está um bocado distante, mas ele já sabe como vai comemorar. Para começar, programou quatro shows no Rio de Janeiro (onde mora atualmente), incluindo participação de músicos com quem já tocou e exposição dos mais de 500 objetos que usa como instrumentos, como caixas de isopor, guardanapo de pano, jogo americano, bandeja, camisa, copo, chaleira, pratos e assento de privada. Sim, assento de privada! “Você precisa ver, é lindo demais. Só a tampa que cobre o assento dá duas sonoridades, uma de cada lado. E o visual é campeão”, ensina. “Sou brincalhão, mas brinco com coisa séria”, conclui.,
Festival Meio de Campo
Show de Hermeto Pascoal e banda, com participação de Rafael Macedo (piano)
Quinta-feira, 10 de setembro, às 21h, no Grande Teatro do Cine Theatro Brasil Vallourec (Praça Sete, Centro). Ingressos entre R$ 20 e R$ 30, à venda na bilheteria ou www.compreingressos.com. Informações: (31) 3222-4389.