A nova casa de sete dormitórios e 1,1 mil m² de área construída, com vista para o skyline de Miami, a poucos metros da água cristalina da baía de Biscayne, foi comprada há um mês e alguns dias antes da ligação ao jornal O Estado de S.Paulo. Na manhã da entrevista, conta Collins radiante, foi entregue um enorme piano de cauda posicionado na sala de estilo mediterrâneo.
Depois de anos morando na Suíça, o músico britânico de 64 anos decidiu mudar para a Flórida a fim de ficar mais próximo dos filhos mais novos, Nicholas e Matthew, frutos do último casamento dele, com Orianne Cevey, matrimônio que chegou ao fim em 2008.
Aposentado desde 2011, ele só se apresentou diante do público recentemente em um evento na escola das crianças. Além disso, Collins preferiu manter o papel de pai, um comportamento negligenciado por ele, segundo o próprio, com os outros três filhos frutos de outros dois casamentos malsucedidos.
O primeiro passo para um possível retorno às atividades como músico foi dado nesta quarta-feira, 2, quando foram revelados os dois primeiros discos escolhidos dentro da discografia de Collins a serem relançados em um grande projeto de remasterização de todo o catálogo dele. As novas versões dos álbuns ainda virão com bônus de faixas não lançadas e outras surpresas saborosas para os fãs do ex-Genesis.
"Vou ser sincero com você", ele começa. "Nunca fui muito fã de relançamentos. Mas eu posso garantir que esses aqui não são algo de uma gravadora fazendo só para ganhar algum dinheiro. Não, não. Eu participei de todo o processo de remasterização, de escolha das canções que serão bônus."
Os dois primeiros discos escolhidos para esse relançamento completo foram Face Value, estreia solo originalmente de 1981, e Both Sides, um álbum mais rústico, o quinto da carreira, lançado em 1993. As capas das novas versões foram "remasterizadas" também, com atuais de Collins substituindo as antigas. "Esse sou eu hoje."
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É bastante particular a escolha de Phil Collins para abrir os relançamentos da discografia solo com 'Face Value' (1981) e 'Both Faces' (1993). Doze anos separam os dois discos e ambos também não compartilham uma estética similar.
Enquanto o primeiro foi bem recebido pela crítica e chegou ao topo no Reino Unido (e ficou em sétimo lugar das paradas nos Estados Unidos), Both Sides também vendeu razoavelmente bem, mas causou estranhamento dos fãs acostumados àquele soft rock. No trabalho de 1993, Collins experimentou mais, gravou tudo sozinho em casa e deixou o piano para trás. Não por acaso, foram poucos os hits produzidos por esse álbum.
Curiosamente, em contrapartida, ambos os discos foram abastecidos de sentimentos complexos criados pelos términos de casamentos. Face Value encontra forças diretas no fim do relacionamento com a primeira mulher de Collins, a canadense Andrea Bertorelli. Both Sides surgiu após o fim com Jill Tavelman. Collins ainda se casaria e se separaria uma terceira vez, mas nenhum álbum foi criado por causa disso.
No relançamento, cada disco ganhará um CD extra, com os bônus, com versões demo e ao vivo, todas nunca antes lançadas. “Quando fui para a turnê, com a banda, as canções mudaram”, explica o músico. “Queria ver como as músicas se desenvolveram.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Vida agridoce de Phil Collins pode ganhar novos rumos com relançamentos
O site de Phil Collins, remodelado para anunciar os relançamentos de todo o catálogo do músico, a começar por Both Sides e Face Value, ambos nas lojas no dia 6 de novembro, escancara um dos mais marcantes versos do ex-integrante do Genesis em carreira solo: "Take a look on me know" ("olhe para mim agora"). A citação vem da música Against All The Odds, hit com o qual ele ganhou o Grammy de melhor performance pop. O uso da frase faz sentido. Collins quer que esse relançamento escancare a sua versão atual, aos 64 anos, aposentado da música e pai de dois filhos em tempo integral.
A citação é ainda mais densa, contudo. A música é um exemplo perfeito daquilo que Collins foi capaz de fazer ao longo da carreira - e que lhe rendeu ótimos frutos, como os £ 115 milhões de sua fortuna, reveladas pelo jornal Sunday Times, em 2011, e seus 100 milhões de discos vendidos.
Collins foi especialista em versos sofridos, embebidos de camadas pop, prontos para o rádio. Against All The Odds é assim: um grito de desespero do eu lírico, que não se conforma de ter perdido a amada, a única "que o conhecia de verdade".
Há doçura e felicidade na voz do Collins que vem do outro lado do telefone. Ele afirma estar contente também, com a nova morada na Flórida, com a proximidade com os filhos, uma relação que nunca havia experimentado. Temas sombrios contam o papo com o jornal O Estado de S.Paulo.
Em 2004, Collins chegou a afirmar que se aposentaria e "ninguém iria notar sua ausência". Havia um humor inglês ali, autodepreciativo, mas também uma crítica do músico que, muitas vezes, não foi levado a sério pela crítica por ser "pop demais." A aposentadoria de hoje, na verdade, deveria acontecer 11 anos atrás, conta ele. "Sabe quando você pensa: ‘O que posso fazer de diferente hoje?’. Naquele ano, minha terceira esposa tinha recentemente tido nosso segundo filho. Achei uma boa ideia que a gente os criasse juntos. Queria fazer com eles coisas que nunca havia feito. E, então, minha esposa me deixou. E levou as crianças para Miami", conta também.
A ideia de deixar a indústria musical permaneceu por algum tempo guardada na gaveta mais escondida entre pensamentos de Collins. Profissionalmente, ele ainda gravou a canção tema da animação Tarzan, da Disney, fez uma última turnê com o Genesis e lançou o disco Going Back, com covers de clássicos da Motown.
Na vida pessoal, ele passou a beber mais álcool do que estava acostumado e enfrentou uma depressão. "Quando você casa três vezes e esses relacionamentos chegam ao fim, você começa a pensar que o problema está em você", diz ele. Surgiram na época notícias de que ele pensava em tirar a própria vida. "Essa história de suicídio nasceu em uma entrevista. Disse ao repórter assim como estou dizendo para você, que o pensamento havia passado pela minha cabeça", explica. "Isso não quer dizer que eu realmente iria tentar fazer isso, como disseram."
Na última turnê com o Genesis, ele deslocou uma vértebra do pescoço e, mesmo após realizar uma cirurgia bem-sucedida, não é mais capaz de segurar firmemente uma baqueta de bateria, instrumento com o qual começou a carreira. Tocar piano também se tornou mais difícil. "Com mais tempo livre, comecei a beber mais ainda. E meu pâncreas começou a mandar alguns avisos. Eu quase morri."
No contrato com a gravadora Warner Music, diz ele, não existe espaço para um disco de inéditas, apenas para este relançamento da discografia. Ele, contudo, já não descarta a possibilidade de voltar a gravar canções inéditas. "Acho que meus discos nunca receberam o devido valor", explica. "As pessoas me conheciam porque tocava muito no rádio, mas nunca tiveram a oportunidade de ouvir um álbum do início ao fim."
Collins é citado como grande influência por músicos contemporâneos, que vão do pop (como Pharrell Williams, Kanye West, Alicia Keys e Beyoncé) ao indie (caso de The 1975, Neon Indian e Yeasayer). "Com todas essas pessoas falando sobre meu trabalho, posso ser redescoberto por um novo público", justifica. "Se isso acontecer, nada me impediria de voltar a tocar. Tenho recolhido baquetas de bateria espalhadas no chão deixadas pelo meu filho e percebi que estou mais firme. E esse sou eu hoje: aposentado, perto dos filhos. Sim, estou feliz."