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Harmonia singular

Chitãozinho e Xororó cantam Tom Jobim em show no Palácio das Artes

Dupla traz a BH a turnê 'Tom do sertão', com versões de clássicos do maestro unem sertanejo e arranjo de cordas

Eduardo Tristão Girão
- Foto: Júnior Lima/Divulgação“Ele até compunha música sertaneja, mas ninguém sabe”, afirma Chitãozinho, que integra uma das duplas sertanejas de maior sucesso no país ao lado do irmão Xororó. É assim, sem qualquer receio, que o artista fala de Tom Jobim, compositor que inspirou os dois a gravar o disco-tributo 'Tom do sertão', com versões reestilizadas dos clássicos da MPB que escreveu, como 'Águas de março'. O lançamento foi em janeiro e o público belo-horizontino poderá conferir o resultado ao vivo, hoje e amanhã, no Grande Teatro do Palácio das Artes


“Do repertório do Jobim, a gente conhecia só os sucessos e fomos descobrir um verdadeiro universo de músicas dele. 'Correnteza' fala de boi e boiada, 'Caminho de pedra' fala de carro de boi. Fomos conhecendo melhor e ficamos encantados com o conteúdo das músicas sobre natureza, o que tem tudo a ver com o nosso estilo. Ele estava esperando a gente fazer isso”, brinca Chitãozinho.


Da concepção à finalização, 'Tom do Sertão' consumiu um ano de trabalho e representou um desafio na carreira dos irmãos. Chitãozinho conta que, para dar conta das harmonias, teve de fazer muitas aulas de vocalização – vale lembrar que a dupla tem mais de 40 anos de carreira. “'Águas de março' tem a letra complexa, são muitas palavras. A gente não conseguiu decorar e vai cantar lendo. Se você descuida um segundo, se perde. As canções que ele escreveu com Vinicius de Moraes são as mais românticas e menos trabalhosas de executar”, observa.


Fundamental nesse processo foi Edgard Poças, especialista na obra de Jobim que divide a produção do álbum com Ney Marques e Cláudio Paladini. “Edgard trabalhou muitos anos com o Tom e ajudou a gente a adaptar as composições para o sertanejo, preservando as harmonias e qualidades. Foi um laboratório muito legal”, conta o artista. Na sua visão, virou “música sertaneja muito chique”. A adição de instrumentos de cordas e o nível de cuidado com os timbres dos instrumentos são vistos por ele como algo distinto do que a dupla habitualmente faz.


Do disco, que tem 14 faixas, pinçarão cerca de 10, como 'Águas de março', 'Chovendo na roseira', 'Caminho de pedra', 'Modinha' e 'Se todos fossem iguais a você'. A cereja do bolo será 'Garota de Ipanema', que não está no repertório original e será incluída na gravação ao vivo do projeto (no Rio de Janeiro, em local a definir), este ano, que resultará em CD e DVD. Em BH, incluirão também sucessos de carreira como 'Saudade da minha terra', 'Fio de cabelo', 'Evidências', 'Brincar de ser feliz' e 'No rancho fundo', rearranjados à maneira da seção jobiniana do show.


O artista revela que, inicialmente, sentiu medo de que o público da dupla rejeitasse o novo trabalho. A instrumentação, continua, foi primordial para trazer clima de confiança para o estúdio. “É um disco muito diferente, mas como tem viola e acordeom em quase todas as faixas, nos deu conforto e permite identificação por parte de quem gosta de sertanejo”, conta. Para ele, a repercussão tem sido maravilhosa e deverá render frutos por cinco anos.

CHURRASCARIA Chitãozinho conta que teve a oportunidade de encontrar com Tom Jobim uma única vez. Foi numa churrascaria que o autor de 'Águas de março' gostava de frequentar, no Rio, no fim dos anos 1980. Na época, a dupla havia acabado de ser contratada pela gravadora Polygram e havia emplacado na trilha sonora da novela 'Tieta', da TV Globo, o sucesso 'No rancho fundo'. “Conversamos por uns cinco minutos. Só fui me apresentar a ele e fiquei nervoso. Ele disse que nosso trabalho era muito bonito, de muita qualidade e que tínhamos futuro”, lembra.

 

ATIVIDADE INTENSA

No momento, Chitãozinho e Xororó mantêm três agendas em paralelo. Uma para 'Tom do sertão', outra para 'Pura emoção' (o show tradicional, de carreira, dos irmãos) e uma terceira com a dupla Bruno & Marrone. No caso desta última, a ideia de montar uma apresentação com os quatro cantores juntos surgiu quando, por acaso, foram tocar no mesmo dia na Festa do Peão de Barretos, em São Paulo, três anos atrás. Resolveram dividir o palco, o público gostou, vieram pedidos para repetir o formato e, assim, já fizeram 12 shows juntos. “E vai gerar CD e DVD ao vivo. Já estamos selecionando repertório, que terá três inéditas”, anuncia Chitãozinho.

 

Tom do sertão - Show de Chitãozinho & Xororó.

Nesta quarta e quinta-feira , às 21h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingresso: balcão superior (R$ 200, inteira; R$ 100, meia-entrada), plateia 2 (R$ 300, inteira; R$ 150, meia-entrada), plateia 1 (R$ 480, inteira; R$ 240, meia-entrada). Informações: (31) 3236-7400.