Eles estouraram no Brasil em 1984, depois de gravarem 'Beat Acelerado'. Em seguida, fizeram sucesso com 'Sândalo de Dândi', outro lado do mesmo compacto. E na sequência vieram 'Tudo Pode Mudar', 'Olhar', 'Ti, Ti, Ti', 'Johnny Love' e por aí vai. E a banda franco-brasileira Metrô, assim como várias outras, resolveu que era hora de os integrantes seguirem outros caminhos. Mas da mesma forma, agora anunciam sua volta, e prometem não ficar presos ao passado.
A vocalista Virginie Boutaud, que está acompanhada da formação original do grupo, ao lado de Alec Haiat (guitarra), Yann Laouenan (teclados), Zavie Leblanc (baixo) e Dany Roland (bateria), garante que não se trata somente de uma volta aos anos 80. “Estamos criando muitas coisas novas e nos divertindo muito, com músicas, letras, levadas, sons... A agenda de shows está se definindo e pedidos estão chegando de todos os cantos do Brasil. Nosso objetivo é o de estruturar uma agenda que nos faça viajar longe, com um show de qualidade sonora e visual, uma boa equipe, tranquilidade, guardando nossas melhores energias para trocas intensas e emocionantes com o nosso público de todas as idades”, frisou a francesa, que chamava a atenção nos anos 80 por cantar com muito sotaque. Eles acabaram de lançar a música Dando Voltas no Mundo, que é a mais nova de trabalho.
O INÍCIO O Metrô surgiu no início dos anos 80, quando a criatividade do rock nacional mostrava uma grande efervescência. “O primeiro nome do grupo era A Gota Suspensa. Quando Metrô foi batizada, a Gota já vinha tocando alegremente há uns oito anos. Éramos amigos, antes de tudo, e a música era o que nos divertia mais. Escutar não era o suficiente, tínhamos vontade de fazer música”, explicou. “Estávamos na escola, e as nossas maiores inquietudes eram ter notas aceitáveis para o clima ficar legal em casa com nossos pais. Nem sempre conseguíamos... Tínhamos a idade de começar a sair por ai, namoros, música, fins de semana tocando, festas, viagens à praia, pouca grana e muito entusiasmo. Enfim, vida dura”, recorda a vocalista, ex-namorada de Léo Jaime.
Os cinco, na época, eram bastante influenciado por bandas que estouravam nas paradas internacionais, como Blondie e Roxy Music. E foi tocando que o som foi sendo moldado. “Fazíamos shows em escolas, em algumas casas e de repente a turma de amigos que nos seguia foi aumentando. A Gota foi começando a ter seus seguidores fieis, foi uma coisa lenta que acabou nos levando a interessar pessoas que tinham peso e meios de fazer acontecer algo. Tivemos a oportunidade de produzir um LP independente, A Gota Suspensa, que nos abriu portas para assinarmos na CBS (hoje Sony). 'Beat Acelerado', uma bossa nova que virou pop estourou em todo o Brasil como um fogo de artifício colorido espetacular.”
E assim, de A Gota para Metrô foi um pulo. Dezenas, centenas de shows pelo Brasil afora. Muito trabalho e, consequentemente, muito desgaste. “Ficamos meio que atordoados pelo turbilhão do sucesso e das viagens numerosas demais, afastados da realidade e dos nossos objetivos reais de vida. Fomos mal aconselhados e amparados, imagino. Enfim, poderíamos ter dado um tempo, apenas”, lamenta. Naquele período, depois de um show no Ginásio Gigantinho, em Porto Alegre, os problemas aumentaram. Virginie chegou a sair da banda, sendo substituída pelo português Pedro Parq. Mas o sucesso não aconteceu como antes eles colocaram um ponto final.
Durante o período em que a banda ficou separada, cada um dos integrantes seguiu um caminho. Virginie, que já era modelo e atriz, voltou aos desfiles e focou em sua carreira solo. “Fui resgatada por amigos. Comecei por desfilar na escola de samba Beija flor, com uma terrível dor de garganta debaixo de uma chuva torrencial. Fiz alguns comerciais. Algum tempo depois, cruzei o caminho de Arrigo Barnabé, que me propôs trabalhar em versões de lindas bossas para o francês. Ele me apresentou pessoas incríveis e artistas que me abriram novos horizontes, como Vânia Bastos, Philippe Kadosh, Eliete Negreiros e Itamar Assunção. Músicos, compositores e poetas.Também fiz o disco Crime Perfeito, com os parceiros do Fruto Proibido. Tenho uma família amada e amante com quem costumo descobrir o mundo. Rimando amor e dor pela vida”, disse.
Dany, que é ator, se tornou o garoto-propaganda de um popular comercial, que tinha como slogan “Bonita camisa, Fernandinho”, enquanto Alec seguiu tocando e trabalhando com importação de instrumentos, Yann mudou-se para Jericoacoara, no Ceará, para praticar windsurf e Zavie abriu um restaurante no Rio.
A VOLTA Em 2002, o reencontro. Três dos integrantes originais, Virginie, Dany e Yann gravaram o álbum 'Déjà Vu'. “Foi um presente. O trabalho de Dany e Yann, que teceram em volta de minha voz toda uma rede sonora moderna e brasileira, me trouxe belas surpresas. Adoro este disco. Ele tem participações mais do que especiais, como as de Jorge Mautner e Preta Gil. 'Déjà Vu' teve numerosas críticas muito positivas mundo afora. Em 2004, fizemos shows em Maputo, Lisboa, Paris e Londres. Foi legal. Até hoje continuo oferecendo este disco a pessoas muitos especiais que encontro. É um disco atemporal, agrada em todos os continentes. Achei bonito e é um hit, de uma certa forma.”
Em 2014, eles se apresentaram juntos no colégio onde se conheceram. “Foi uma pura delícia. Deu tudo muito certo, o som, os amigos, as luzes maravilhosas, o público se divertindo e cantando, se emocionando. Deu vontade de quero mais e aqui estamos agora, trabalhando para este futuro juntos que se faz presente.” E este ano, estava previsto um show do Metrô na Virada Cultural de São Paulo. Mas a morte do marido de Virginie, o diplomata francês, Jean-Michel Manent, adiou os planos. Mas agora eles prometem colocar todo mundo para dançar.
Sobre o fato de serem lembrados como uma banda oitentista, sem problema. “Como nos incomodar com isso? Somos associados a lembranças maravilhosas na vida de tantas pessoas. Nossas músicas continuam tocando muito e soando bem, isto é fantástico! E é esta mesma energia, esta vibração intensa do Metrô que flui em nossas veias, que está gerando um futuro cheinho de músicas e experiências do jeitinho que estamos todos sempre precisando”, finalizou Virginie.