O DJ, que completou 50 anos neste 2015, diz que tudo em sua vida veio por acaso. Foi assim quando estava em uma festa e o badalado produtor Paulo Borges o viu comandando as pick-ups. Surgiu daí o convite para tocar na São Paulo Fashion Week e o caminho que o levou a ser o profissional mais solicitado para comandar as trilhas dos desfiles de moda no país. Outra oportunidade surgiu também por casualidade quando encontrou Adriane Galisteu num evento e ela acabou chamando-o para animar seus programas Superpop, na Rede TV!, e É show, na Record.
Recentemente, após 12 anos afastado da TV, o inesperado voltou a aprontar das suas. Numa viagem a Nova York, Zé Pedro conheceu a atriz, produtora e diretora Tatiana Issa (Dzi croquettes). De tanto conversarem, tornaram-se amigos. “Ela sugeriu que eu fizesse um programa na TV. Eu não queria que fosse sobre música, porque já era uma coisa que eu fazia muito, mas sim algo que resgatasse a memória da televisão. Fizemos um piloto e em pouco tempo o Canal Viva aprovou o projeto”, conta.
Nascia assim o Rebobina, que estreou em janeiro e relembra com humor movimentos e gerações marcantes do cenário mundial. Na atração, o apresentador reúne convidados para um debate sobre modismos de outros tempos. A produção está na segunda temporada. “Foi tudo muito louco, corrido. Há pouco tempo que caiu a ficha de que o Rebobina realmente pegou”, diz.
CONFUSÃO
Depois de voltar à TV, Zé Pedro decidiu exibir seu jeito escrachado, alegre e falastrão também na internet. “Tudo aconteceu tão rápido na minha vida que não tive tempo de construir uma imagem até hoje. Sou essa confusão e sempre foi assim. Até que um dia meus amigos me sugeriram colocar na rua esse Zé Pedro que eles conhecem, com toda a minha linguagem particular.” No mês passado, entrou no ar no YouTube, o Canal da Véia, com listas, pegadinhas, desafios, insultos, e claro, muita música. Todas as quartas, é lançado um vídeo novo, e todas as sextas, um remix.
Um dos vídeos mais vistos em seu canal é o Maria Veiânia pega, mata e come!, em que Zé Pedro dubla o clássico Carcará. No vídeo, o DJ atravessa as paisagens de Salvador com uma arma de brinquedo, numa referência ao episódio recente que envolveu a cantora Maria Bethânia. Ela e o segurança de sua casa, Adevan Barbosa Lourenço, foram denunciados pelo Ministério Público por porte ilegal de arma, quando o vigia foi flagrado na porta da residência da artista baiana no Rio de Janeiro com o revólver, registrado em nome da cantora, sem a documentação referente à arma.
“Esse (vídeo) foi o mais comentado, o mais visto e se tornou um viral, porque é uma coisa improvável você imaginar a Bethânia segurando uma arma. E olha que ela é minha ídola-mor. Depois de todos esses anos de adoração, já me dou o direito de fazer sátira com ela”, diz. “Véia” é um apelido que Zé Pedro carrega desde jovem, justamente por ter gostos artísticos de “gente mais velha”. O garoto não se cansava de ouvir: “Menino, você tem 15 anos e não vai para a balada. Fica em casa escutando Maria Bethânia e assistindo Truffaut”.
“Foi assim que começaram a me chamar de ‘véia’, porque eu e um grupo de amigos éramos considerados completamente fora do presente. E eu carreguei isso a vida inteira. A ‘véia’ é como se fosse uma vírgula na minha vida. Hoje eu realmente sou uma ‘véia’, só que agora todo o mundo pode vê-la.”
Paixão por cantoras orienta selo musical
Responsável pela popularização dos remixes de clássicos da MPB utilizando batidas eletrônicas e considerado por muitos especialistas como o DJ nº 1 do Brasil, Zé Pedro criou em 2011 a gravadora Joia Moderna. O selo tem tiragem limitada a mil cópias por artista ou projeto e já lançou 30 discos. É o responsável por álbuns de estreia como o de Alice Caymmi.
“Sou um pouco esse farol para as meninas e meninos novos. Inicialmente, a gente focava só nas mulheres, mas as ideias começaram a circular e a coisa foi mudando”, diz Zé Pedro. Ele conta que sempre teve paixão por música brasileira, sobretudo pelas cantoras. Quando surgiu a chance de ser DJ, na década de 1990, e a MPB praticamente não tinha vez nas pistas, ele introduziu o gênero em suas carrapetas. Mas seguiu com a paixão de infância meio frustrada. “O Brasil é um país de cantoras, mas não as valoriza muito. Fiquei pensando naqueles artistas que estavam há muito tempo sem gravar”, diz.
Para marcar a estreia da Joia Moderna, ele lançou quatro CDs: um de Zezé Motta, Negra melodia, com canções de Luiz Melodia e Jards Macalé; um de Cida Moreira, chamado A dama indigna; um de Silvia Maria, Ave rara, além de um Tributo a Taiguara interpretado por 14 vozes femininas. No próximo dia 20, chega às lojas o CD Do tamanho certo para o meu sorriso, que marca a volta de Fafá de Belém aos estúdios, após hiato de oito anos.