Se tivesse tido a oportunidade de encontrar pessoalmente Frank Sinatra (1915-1998), Bibi Ferreira pediria a ele que cantasse para ela 'That’s life', de Kelly Gordon e Dean Kay, uma das 24 canções do repertório do espetáculo cênico-musical Bibi Ferreira canta repertório Sinatra, que ela apresenta neste sábado e domingo, no Teatro Sesiminas. Os ingressos estão esgotados.
“Gosto muito dos tempos dela (a canção), um dos quais é mais alegre e ritmado. Além da letra, que é para cima”, diz a cantora ao Estado de Minas, por telefone, avaliando a composição como “divinamente melhor” do que a maioria que o cantor americano gravou ao longo de sua carreira de seis décadas de sucessos.
Depois de dedicar espetáculos à francesa Edith Piaf e à portuguesa Amália Rodrigues, além de cantar Carlos Gardel, Dolores Duran e Chico Buarque, entre outros, Bibi decidiu se debruçar sobre o cancioneiro de Sinatra, coincidentemente no ano em que se comemora o centenário de nascimento do cantor, ator e instrumentista americano que, graças ao charme pessoal e aos graves límpidos, tornou-se conhecido, também, pelo codinome The voice (A voz).
Além de Cole Porter, um dos autores que mais gravou, e Irving Berlin, Frank Sinatra teve entre os compositores preferidos o bossa-novista Tom Jobim. A parceria foi profunda, tanto que o norte-americano gravou um disco inteiramente dedicado às composições do brasileiro.
Aos 93 anos de idade e 74 de carreira artística, a filha do também ator Procópio Ferreira diz que adora um desafio. “É só o que me interessa. Ver as coisas de cima, de um ângulo que normalmente você não imagina”, afirma, justificando a escolha de Sinatra para sua nova investida nos palcos. “Afinal”, justifica Bibi, “ele é o meu cantor predileto”. “Não apenas pelo repertório magnífico, mas também porque triunfou em todos os sentidos.”
PERFEITO Menina ainda, a artista diz ter ido ao cinema assistir a um filme, –cujo título não se lembra – em que, além de cantar e interpretar, Frank Sinatra também tocava piano. “Foi na tela que o vi pela primeira vez como ator, pessoa e cantor”, recorda Bibi, que se sentiu de imediato tocada pela voz do intérprete. “O próprio andamento da canção, a forma de cantar com tranquilidade, tudo me conquistou. Sinatra é perfeito, não existe ninguém parecido”, avalia.
Bibi não conheceu o cantor americano, apesar de Sinatra ter se apresentado no Brasil. No Estádio Maracanã, no Rio de Janeiro, reuniu cerca de 150 mil pessoas em histórico show na noite de 26 de janeiro de 1980. “Um Maracaña entupido de gente para vê-lo. Deve ter sido um grande momento da carreira para ele, que ficou muito emocionado”, diz Bibi.
A possibilidade de um encontro pessoal com Sinatra deixava Bibi nervosa. “Ia me apaixonar loucamente”, imagina, e revela que sentia a mesma inquietação em relação a Tom Jobim, apesar de o ter entrevistado para um programa de TV. “Tive medo de me apaixonar por Tom também. Sempre o evitei por causa disto”, confessa.
Na opinião da cantora, o encontro de Sinatra com o maestro brasileiro foi muito relevante para o americano. “O importante na vida de qualquer cantor é encontrar o autor. A composição, o texto novo para nós é o importante. Sinatra vislumbrou isso em Tom Jobim”, diz ela, apontando que ambos tinham muito em comum – pertenciam à mesma geração, eram bonitos, tinham talento, simpatia e uma forte presença da música de seus respectivos países.
Em Bibi Ferreira canta repertório Sinatra, o tom que mais usa é o grave. “Canto em um tom muito confortável”, salienta, lembrando que as canções do repertório do americano têm tons muitos diferentes, restando a ela os graves.
ORQUESTRA Acompanhada de orquestra de 18 músicos, regidos pelo maestro Flávio Mendes, com o qual trabalha há 12 anos, Bibi Ferreira faz 16 números no espetáculo, interpretando 24 canções, algumas reunidas em formato de medley.
Tom Jobim, por exemplo, é apresentado por Bibi em um número com quatro músicas: 'Dindi', 'Água de beber', 'Corcovado' e 'Meditação'. Já a abertura do espetáculo é feita com um tema instrumental ('Strangers in the night'), enquanto um medley romântico chega a reunir até seis canções.
Na pele do narrador, o produtor e também ator Nilson Raman, que trabalha com Bibi há 18 anos, conta que, além de bater papo com ela em cena, também passsa a bola para o maestro dialogar com a atriz-cantora durante o show.
Depois da estreia, no ano passado, em São Paulo, Bibi Ferreira canta repertório Sinatra viaja pelo país, enquanto não chega a hora da apresentação nos Estados Unidos, onde a artista comemorará os 75 anos de carreira.
Em abril de 2013, a brasileira teve o privilégio de receber no palco do Lincoln Center, de Nova York, a também cantora-atriz americana Liza Minnelli, com quem dividiu a interpretação do megasucesso New York, New York.
O inglês de sotaque britânico da brasileira, que na infância estudou na British American School, vem chamando atenção do público. A surpresa do espetáculo fica para o fim da apresentação, quando Bibi canta um legítimo rock’n’roll: 'Rock around the clock', do lendário Bill Halley, seguido do bis, com 'New York, New York'.
Apesar do repertório ter temática essencialmente masculina, a intérprete diz que o canta como se estivesse contando histórias. A gravação do espetáculo para o lançamento de CD e DVD vem sendo feita em momentos diferentes da temporada, que vai mesclar cenas ao vivo e de estúdio.
Antes disso, Bibi Ferreira lança o DVD do show anterior, 'Histórias e canções', gravado em março de 2014, no Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte.
Três perguntas para...
Flávio Mendes
Maestro
Qual é o maior desafio para o intérprete cantar Frank Sinatra?
O desafio é trabalhar com o máximo. Afinal, se não foi perfeito, ele foi próximo disso como cantor. Talvez uma das maiores vozes do século 20, responsável pelo lançamento de obras geniais do cancioneiro americano. E Bibi está tendo essa oportunidade. Ela é a primeira mulher a encarar isso muito bem. Anteriormente, nenhuma cantora ou atriz fez isso.
O que Bibi Ferreira tem que colabora com isso?
A cultura americana em geral, em especial os musicais de cinema, foi a cultura básica de Bibi, que foi alfabetizada em inglês. Aos 7 anos, ela era trilíngue: falava espanhol, que era a língua de onde vivia; português, a do país em que nasceu, e inglês, que ela estudava muito.
Os arranjos das canções tiveram de ser adaptados aos tons de Bibi, que, naturalmente, explora mais os graves?
Foi só a questão dos tons mesmo. Os arranjos das músicas de Frank Sinatra são muito icônicos e a gente teve o cuidado de mexer um pouco, para não ficarem iguais aos originais. Uma coisa que Bibi faz muito bem é a modulação de tons, graças ao ouvido impecável que ela tem.
Bibi Ferreira canta Sinatra
Neste sábado, às 20h, e domingo, às 19. Teatro Sesiminas, Rua PAdre Marinho, 60, Santa Efigênia. Ingressos esgotados.
“Gosto muito dos tempos dela (a canção), um dos quais é mais alegre e ritmado. Além da letra, que é para cima”, diz a cantora ao Estado de Minas, por telefone, avaliando a composição como “divinamente melhor” do que a maioria que o cantor americano gravou ao longo de sua carreira de seis décadas de sucessos.
Depois de dedicar espetáculos à francesa Edith Piaf e à portuguesa Amália Rodrigues, além de cantar Carlos Gardel, Dolores Duran e Chico Buarque, entre outros, Bibi decidiu se debruçar sobre o cancioneiro de Sinatra, coincidentemente no ano em que se comemora o centenário de nascimento do cantor, ator e instrumentista americano que, graças ao charme pessoal e aos graves límpidos, tornou-se conhecido, também, pelo codinome The voice (A voz).
Além de Cole Porter, um dos autores que mais gravou, e Irving Berlin, Frank Sinatra teve entre os compositores preferidos o bossa-novista Tom Jobim. A parceria foi profunda, tanto que o norte-americano gravou um disco inteiramente dedicado às composições do brasileiro.
Aos 93 anos de idade e 74 de carreira artística, a filha do também ator Procópio Ferreira diz que adora um desafio. “É só o que me interessa. Ver as coisas de cima, de um ângulo que normalmente você não imagina”, afirma, justificando a escolha de Sinatra para sua nova investida nos palcos. “Afinal”, justifica Bibi, “ele é o meu cantor predileto”. “Não apenas pelo repertório magnífico, mas também porque triunfou em todos os sentidos.”
PERFEITO Menina ainda, a artista diz ter ido ao cinema assistir a um filme, –cujo título não se lembra – em que, além de cantar e interpretar, Frank Sinatra também tocava piano. “Foi na tela que o vi pela primeira vez como ator, pessoa e cantor”, recorda Bibi, que se sentiu de imediato tocada pela voz do intérprete. “O próprio andamento da canção, a forma de cantar com tranquilidade, tudo me conquistou. Sinatra é perfeito, não existe ninguém parecido”, avalia.
Bibi não conheceu o cantor americano, apesar de Sinatra ter se apresentado no Brasil. No Estádio Maracanã, no Rio de Janeiro, reuniu cerca de 150 mil pessoas em histórico show na noite de 26 de janeiro de 1980. “Um Maracaña entupido de gente para vê-lo. Deve ter sido um grande momento da carreira para ele, que ficou muito emocionado”, diz Bibi.
A possibilidade de um encontro pessoal com Sinatra deixava Bibi nervosa. “Ia me apaixonar loucamente”, imagina, e revela que sentia a mesma inquietação em relação a Tom Jobim, apesar de o ter entrevistado para um programa de TV. “Tive medo de me apaixonar por Tom também. Sempre o evitei por causa disto”, confessa.
Na opinião da cantora, o encontro de Sinatra com o maestro brasileiro foi muito relevante para o americano. “O importante na vida de qualquer cantor é encontrar o autor. A composição, o texto novo para nós é o importante. Sinatra vislumbrou isso em Tom Jobim”, diz ela, apontando que ambos tinham muito em comum – pertenciam à mesma geração, eram bonitos, tinham talento, simpatia e uma forte presença da música de seus respectivos países.
Em Bibi Ferreira canta repertório Sinatra, o tom que mais usa é o grave. “Canto em um tom muito confortável”, salienta, lembrando que as canções do repertório do americano têm tons muitos diferentes, restando a ela os graves.
ORQUESTRA Acompanhada de orquestra de 18 músicos, regidos pelo maestro Flávio Mendes, com o qual trabalha há 12 anos, Bibi Ferreira faz 16 números no espetáculo, interpretando 24 canções, algumas reunidas em formato de medley.
Tom Jobim, por exemplo, é apresentado por Bibi em um número com quatro músicas: 'Dindi', 'Água de beber', 'Corcovado' e 'Meditação'. Já a abertura do espetáculo é feita com um tema instrumental ('Strangers in the night'), enquanto um medley romântico chega a reunir até seis canções.
Na pele do narrador, o produtor e também ator Nilson Raman, que trabalha com Bibi há 18 anos, conta que, além de bater papo com ela em cena, também passsa a bola para o maestro dialogar com a atriz-cantora durante o show.
Depois da estreia, no ano passado, em São Paulo, Bibi Ferreira canta repertório Sinatra viaja pelo país, enquanto não chega a hora da apresentação nos Estados Unidos, onde a artista comemorará os 75 anos de carreira.
Em abril de 2013, a brasileira teve o privilégio de receber no palco do Lincoln Center, de Nova York, a também cantora-atriz americana Liza Minnelli, com quem dividiu a interpretação do megasucesso New York, New York.
O inglês de sotaque britânico da brasileira, que na infância estudou na British American School, vem chamando atenção do público. A surpresa do espetáculo fica para o fim da apresentação, quando Bibi canta um legítimo rock’n’roll: 'Rock around the clock', do lendário Bill Halley, seguido do bis, com 'New York, New York'.
Apesar do repertório ter temática essencialmente masculina, a intérprete diz que o canta como se estivesse contando histórias. A gravação do espetáculo para o lançamento de CD e DVD vem sendo feita em momentos diferentes da temporada, que vai mesclar cenas ao vivo e de estúdio.
Antes disso, Bibi Ferreira lança o DVD do show anterior, 'Histórias e canções', gravado em março de 2014, no Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte.
Três perguntas para...
Flávio Mendes
Maestro
Qual é o maior desafio para o intérprete cantar Frank Sinatra?
O desafio é trabalhar com o máximo. Afinal, se não foi perfeito, ele foi próximo disso como cantor. Talvez uma das maiores vozes do século 20, responsável pelo lançamento de obras geniais do cancioneiro americano. E Bibi está tendo essa oportunidade. Ela é a primeira mulher a encarar isso muito bem. Anteriormente, nenhuma cantora ou atriz fez isso.
O que Bibi Ferreira tem que colabora com isso?
A cultura americana em geral, em especial os musicais de cinema, foi a cultura básica de Bibi, que foi alfabetizada em inglês. Aos 7 anos, ela era trilíngue: falava espanhol, que era a língua de onde vivia; português, a do país em que nasceu, e inglês, que ela estudava muito.
Os arranjos das canções tiveram de ser adaptados aos tons de Bibi, que, naturalmente, explora mais os graves?
Foi só a questão dos tons mesmo. Os arranjos das músicas de Frank Sinatra são muito icônicos e a gente teve o cuidado de mexer um pouco, para não ficarem iguais aos originais. Uma coisa que Bibi faz muito bem é a modulação de tons, graças ao ouvido impecável que ela tem.
Bibi Ferreira canta Sinatra
Neste sábado, às 20h, e domingo, às 19. Teatro Sesiminas, Rua PAdre Marinho, 60, Santa Efigênia. Ingressos esgotados.