“Geração de som, de 1978, é o primeiro disco da minha carreira. Também instrumental, tem tudo a ver com 'Alto da Silveira'. A mistura que fiz lá é a que estou fazendo hoje. Evoluí, mas sem perder a essência. O objetivo era o mesmo: música livre, sem compromisso de tocar como se estivesse datilografando ou concorrendo a alguma maratona. Quero mostrar a melodia e a harmonia brasileiras, o que temos de mais rico e de melhor para exportar. Temos aqui Pixinguinha e muitos outros mostrando tudo ‘0800’ pra gente”, resume ele.
A julgar pela escolha das faixas, no entanto, Gomes tenta mostrar que seu universo como compositor não se restringe a assimilar elementos brasileiros numa linguagem leve e descompromissada, como fez muito bem no álbum 'Vamos pro mundo', do grupo Novos Baianos (do qual é um dos fundadores). Passeia pelo rock, groove, blues, reggae e levada latina, com diversos flertes com o jazz fusion. Aquele Pepeu brasuca pode ser ouvido aqui e ali, em faixas como 'Na quebrada do Garcia' e 'Na pele do Pelé'.
Na visão do artista, esse é um disco “fácil de ouvir, elegante”. Todas as faixas foram compostas recentemente, selecionadas em um universo de impressionantes 400 temas instrumentais. Parece muito para ser verdade? “Componho todos os dias. Em 'Infinito circular', disco dos Novos Baianos, fizemos 11 músicas numa noite. A pegada é essa. Vamos escrevendo pedaços e juntando”, explica. Detalhe: Pepeu não sabe ler nem escrever partitura. Os irmãos Jorginho (bateria) e Didi (baixo) participaram da gravação.
EM FAMÍLIA A agenda do baiano está cheia neste semestre. Pepeu vai tocar com orquestra sinfônica no fim do ano (músicas dele no repertório), prepara mais inéditas para gravar um DVD e, no mês que vem, começa a ensaiar para o esperado reencontro nos palcos com Baby Consuelo, sua ex-mulher e ex-companheira de Novos Baianos. O show será em 20 de setembro, no Rock in Rio. Eles não tocam juntos há quase 30 anos.
A reunião foi idealizada por Pedro Baby, um dos filhos do casal. Pepeu e Baby se apresentaram na primeira edição do festival, em 1985. “É importante mostrar para a nova geração a força dessa parceria. Fizemos quase 300 músicas. Será uma vibe muito legal”, diz ele. Os dois têm se encontrado com frequência e, apesar de focados no show (o repertório terá 10 faixas), não descartam a possibilidade de voltar a escrever canções em dupla. “Resgatar a intimidade musical é muito fácil”, garante o guitarrista.
EM BH
Em 2 e 3 de setembro, Pepeu Gomes se apresenta em Belo Horizonte. Ele vai dividir o palco do Teatro Bradesco com Marco André e Trio Manari. Batizado de Conexão Brasil, o projeto tem como objetivo fundir elementos musicais baianos e amazônicos – no repertório há composições dos três. Serão os últimos shows da turnê, que começou há dois meses.
Pepeu Gomes lança o CD 'Alto da Silveira', inspirado na riqueza da música instrumental brasileira
Rock, sonoridades latinas e jazz fusion marcam o repertório do novo álbum
O guitarrista baiano Pepeu Gomes gosta de frisar que 26 anos separam os discos 'On the road', seu segundo trabalho instrumental, e 'Alto da Silveira', a recém-lançada empreitada nessa seara. Antes que o ouvinte se apresse em concluir que, dado esse hiato, muita coisa deve ter mudado de lá pra cá, ele mesmo esclarece que não. Ao longo de 16 temas próprios, Pepeu se reveza, como de costume, entre guitarra, violão, ukulele, cavaquinho e, claro, guitarra baiana – instrumento híbrido que é uma de suas marcas.