O projeto Samba do trabalhador, o famoso encontro semanal de músicos que está completando uma década, se transformou. Atualmente, ele vai do Renascença Clube, no Andaraí, Zona Norte do Rio de Janeiro, ao Teatro Bradesco, em Lourdes, área nobre na Região Centro-Sul de BH.
“Não posso dizer que o show ganhe ou perca algo. Na verdade, ele se transforma, se ajusta”, afirma o cantor e compositor Moacyr Luz, que está lançando o terceiro disco para comemorar os 10 anos do projeto. “A própria música vai contaminando a plateia, que se esquece da formalidade do ambiente de um teatro e se levanta da poltrona para sambar”, constata ele, explicando que predomina no repertório o samba de harmonias bem cuidadas.
“Atirei em um troço e acertei em outro”, diz Moacyr, em tom de brincadeira, referindo-se à criação do Samba do trabalhador. Tudo começou com a vontade de reunir amigos às segundas-feiras, único dia da semana disponível na agenda da maioria dos artistas. “Desde a primeira vez, senti algo no ar”, revela o sambista, admitindo ter captado a necessidade de união que contaminou a todos.
De lá pra cá, o Samba do trabalhador cresceu tanto que, na segunda-feira passada, recebeu cerca de 1,5 mil pessoas no Renascença Clube. Moacyr cantou ao lado de Teresa Cristina, Marcelinho Moreira e Thaís Gullin. Ainda que nem sempre os visitantes se apresentem no Renascença – Pedro Luís, por exemplo, não quis tocar, só curtiu, segundo Moacyr –, já passaram por lá Zélia Duncan, Leila Pinheiro e muitos outros.
O fato de atrair tantos colegas, de acordo com o compositor, deve-se à sua ligação com a MPB desde que iniciou a carreira, há cerca de 40 anos. “Fui criando a ponte”, orgulha-se Moacyr, lembrando que o samba de roda, ou samba de mesa, andava "meio apagadinho" antes do surgimento do projeto.
Hoje, ele constata que várias cidades do país aderiram ao Samba do trabalhador. “Em Campinas (SP), deparei-me com o Samba do batalhador”, conta ele, orgulhoso. Aliás, o carioca lembra que BH teve o seu Samba do trabalhador, que já foi realizado nos bares Goiabada Cascão, Gamboa, Vinnil e Estabelecimento. Nesta quinta-feira, pela primeira vez, ele vai abrir a roda em um teatro na capital mineira.
INÉDITAS A ausência de vínculo com as gravadoras é apontada pelo sambista como um dos fatores responsáveis pelo sucesso do projeto. Trata-se da única roda de samba que conseguiu lançar três CDs e um DVD. “O mais recente ('Moacyr Luz & Samba do trabalhador – 10 anos & Outros sambas') tem nove faixas inéditas entre as 12”, reforça Moacyr, lembrando que entre as outras três está 'Anjo vagabundo', parceria dele com Luiz Carlos da Vila.
Com a vida muito vinculada ao botequim, o sambista diz que se tornou figura conhecida por causa do Samba do trabalhador, no qual se apresenta ao lado de nove músicos – alguns, aliás, se lançaram em carreira solo, graças ao projeto. Gabriel Cavalcante (voz e cavaquinho), Álvaro Santos (voz e percussão) e Alexandre 'Marmita' Nunes (voz e cavaquinho) são exemplos disso, com CDs prestes a serem lançados. A eles se juntam Daniel Neves (violão 7 cordas), Mingo Silva (voz e percussão), Luiz Augusto, Júnior de Oliveira, Nilson Visual (percussão) e o próprio Moacyr Luz (voz e violão).
MOACYR LUZ E SAMBA DO TRABALHADOR
Quinta-feira, dia 23/7, às 21h. Teatro Bradesco, Rua da Bahia, 2.244, Lourdes. Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia). Informações: (31) 3516-1360.