Paulinho da Viola emocionou público de BH em apresentação

Músico está comemorando 50 anos de carreira

por Ailton Magioli 20/07/2015 09:35
Alexandre Guzanshe/EM/D. A PRESS
Paulinho da Viola lembrou cada um de seus maiores sucessos e ainda mostrou muitas novidades (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D. A PRESS)
Discreto e elegante, como é do seu feitio, usando calça preta e camisa escura xadrez, Paulinho da Viola surgiu em cena no Grande Teatro do Palácio das Artes, onde, além da musicalidade nata, brilhava a cabeça prateada do cantor, compositor, instrumentista. Aos 72 anos, o sambista carioca amadurece com a dignidade dos mestres, sem apelações, limitando-se a tocar e a cantar como quer os fãs.


“Tinha eu 14 anos de idade/ quando meu pai me chamou/ perguntou se eu não queria/ estudar filosofia/ medicina ou engenharia/ tinha eu que ser doutor”, canta a autobiográfica '14 anos', na qual revela a aspiração de se tornar sambista, para o bem geral de da nação. No show comemorativo de meio século de carreira, em apresentação única, sábado à noite, em BH, como era de se esperar Paulinho promoveu um desfile de clássicos como esse, além de recorrer a amigos como Zé Keti ('Jaqueira da Portela') e Noca da Portela ('Peregrino').

'Coisas do mundo, minha nega'; 'Botafogo, chão de estrelas'; a citada 'Jaqueira da Portela'; 'Prisma luminoso' e 'Recomeçar' vieram a seguir, quando a banda de excelentes músicos já está toda em cena. Os blocos vão se sucedendo, com destaque para criações como 'Dança da solidão', 'Tudo se transformou', 'Pecado capital' e 'Roendo as unhas' – que acaba de ganhar interpretação afiadíssima de Ney Matogrosso –, 'Bebadosamba', 'Foi um rio que passou em minha vida', 'Coração leviano' e 'Timoneiro', reservando 'Sinal fechado' para o bis.

Alternando-se entre o violão e o cavaquinho, Paulinho se dá ao luxo de contar histórias que não apenas divertem o público, mas também o coloca a par de uma trajetória riquíssima, filho que é de César Faria, o violonista do grupo Época de Ouro, já falecido, que foi amigo de Jacob do Bandolim. O choro 'Inesquecível', que ele se dá ao luxo de assistir na interpretação quase camerística de Adriano Souza (piano) e Mario Séve (sopros), Paulinho fez em homenagem ao mestre.

Já 'Sei lá, Mangueira' teria deixado o compositor em uma verdadeira “saia justa” com os portelenses. A primeira, segundo revelou, veio à tona em 1967, quando ele presidia a ala de compositores da escola azul e branco. Só seria perdoado pelos portelenses com o lançamento de 'Foi um rio que passou em minha vida'. Discretamente, Paulinho chamou a vocalista Beatriz Rabello para dividir com ela a interpretação do samba-choro Retiro, sem qualquer referência à paternidade da jovem cantora, que ganhou de presente do pai o samba 'Bloco do amor', para gravar no disco de estreia, que sai este ano.

O filho João Rabello está na linha de frente da banda, ao violão, mas também não ganha qualquer chamego do pai. A ala rítmica da banda de Paulinho, formada por Ricardo Costa (bateria), Celsinho Silva (pandeiro) e Hercules Nunes (percussão), é destaque à parte, assim como os sopros de Mário Séve. Há momentos, como os dedicados ao choro instrumental, que mais parece um concerto, tamanha é a delicadeza com a qual os músicos se exercitam com seus instrumentos. À frente de tudo, Paulinho da Viola, cujo violão fica à disposição dele, no palco, à direita, enquanto o cavaquinho, não por acaso, o aguarda do lado do coração.

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