“Tinha eu 14 anos de idade/ quando meu pai me chamou/ perguntou se eu não queria/ estudar filosofia/ medicina ou engenharia/ tinha eu que ser doutor”, canta a autobiográfica '14 anos', na qual revela a aspiração de se tornar sambista, para o bem geral de da nação. No show comemorativo de meio século de carreira, em apresentação única, sábado à noite, em BH, como era de se esperar Paulinho promoveu um desfile de clássicos como esse, além de recorrer a amigos como Zé Keti ('Jaqueira da Portela') e Noca da Portela ('Peregrino').
Alternando-se entre o violão e o cavaquinho, Paulinho se dá ao luxo de contar histórias que não apenas divertem o público, mas também o coloca a par de uma trajetória riquíssima, filho que é de César Faria, o violonista do grupo Época de Ouro, já falecido, que foi amigo de Jacob do Bandolim. O choro 'Inesquecível', que ele se dá ao luxo de assistir na interpretação quase camerística de Adriano Souza (piano) e Mario Séve (sopros), Paulinho fez em homenagem ao mestre.
Já 'Sei lá, Mangueira' teria deixado o compositor em uma verdadeira “saia justa” com os portelenses. A primeira, segundo revelou, veio à tona em 1967, quando ele presidia a ala de compositores da escola azul e branco. Só seria perdoado pelos portelenses com o lançamento de 'Foi um rio que passou em minha vida'. Discretamente, Paulinho chamou a vocalista Beatriz Rabello para dividir com ela a interpretação do samba-choro Retiro, sem qualquer referência à paternidade da jovem cantora, que ganhou de presente do pai o samba 'Bloco do amor', para gravar no disco de estreia, que sai este ano.
O filho João Rabello está na linha de frente da banda, ao violão, mas também não ganha qualquer chamego do pai. A ala rítmica da banda de Paulinho, formada por Ricardo Costa (bateria), Celsinho Silva (pandeiro) e Hercules Nunes (percussão), é destaque à parte, assim como os sopros de Mário Séve. Há momentos, como os dedicados ao choro instrumental, que mais parece um concerto, tamanha é a delicadeza com a qual os músicos se exercitam com seus instrumentos. À frente de tudo, Paulinho da Viola, cujo violão fica à disposição dele, no palco, à direita, enquanto o cavaquinho, não por acaso, o aguarda do lado do coração.