Musica

Susanna Stivalli grava CD com canções de Chico Buarque traduzidas para o italiano

Em 'Caro Chico', gravado na Itália e no Brasil, cantora faz dueto com o compositor em 'Morena dos olhos d'água'

Kiko Ferreira

Disco de cantora cantando Chico Buarque não é nenhuma novidade no Brasil. Mas de uma cantora italiana, tida como talento do novo jazz europeu, é. Chico andou exilado pela Itália no final dos anos 1960 e 1970 e tem bons parceiros na Bota. É um compositor benquisto pelos italianos, assim como Toquinho. Daí que 'Caro Chico', de Susanna Stivalli, parece reverente e respeitoso, como se fosse de uma cantante brasileira. Mas soa mais fresco pela pegada jazzística, que remete a sonoridades próximas de Eliane Elias, Luciana Souza e Diana Krall, capazes de reciclar ideias clássicas e dar sabor atual.


Gravado na Itália e no Brasil, com direção musical e arranjos da cantora e de um parceiro constante do autor de Carolina, Francis Hime, a coleção de 12 faixas conta com aval e presença do próprio Chico, que canta com ela, na abertura, uma charmosa versão de 'Morena dos olhos d’água', num italiano convincente. Talvez para mostrar que prefere a sutileza ao espalhafato, Susanna oferece clima de jazz club a 'Valsinha', traduzida por Sergio Bardotti, com destaque para o excelente piano de Rita Marcotulli.


Bardotti também levou para o italiano o 'Samba do grande amor', numa leitura com ecos de Flora Purim e Lani Hall. Tendo ao lado apenas a harpa de Cristina Braga, Beatriz parece música de câmara, preparando o espírito para uma dramática e longa (quase oito minutos) leitura de 'O que será', meio arrastada, melhorando no final. O melhor da faixa é o 'scat singing', que remete a Ella Fitzgerald cantando Jobim, sensação confirmada no arranjo que Francis fez para a salsa 'Tanta saudade' (Chico/Djavan), com presença do novo queridinho da crítica, Cícero, à vontade no dueto que fecha o ''lado A''.

O ''lado B'' abre com 'Construção', com o piano de Mercotulli e o scat mais uma vez como destaque, e segue com uma Joana francesa que mantém a mescla com o francês do original e um acordeom (de Guilherme Ribeiro) mantendo o clima. A cantora confirma que não tem medo de ritmo e crava um 'Tem mais samba convincente', antes de se acalmar para a sequência final. Talvez a mais bela parceria Chico/Francis Hime, a canção de ninar 'A noiva da cidade' provoca emoção no mais insensível dos corações, num dueto com Francis na voz e no piano.

A leitura meio bossa de 'Samba e amor' é uma surpresa leve e fluida, preparando terreno para faixa de encerramento, Renata Maria, parceria com Ivan Lins e única escolha mais contemporânea, com o violoncelo de Jaques Morelembaum dando toques de sonho e confirmando a boa mão da arranjadora para escolha de timbres.