Discos que mudaram a história do rock brasileiro completam 30 anos

Live Aid, Rock in Rio e álbuns icônicos de artistas nacionais marcaram o ano de 1985 e chegam ao 30º aniversário ainda na memória do público

por Mariana Peixoto 13/07/2015 09:45

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Arte/Estado de Minas
(foto: Arte/Estado de Minas)
E o mundo não foi o mesmo depois de 1985. Ou pelo menos o que se entende por mundinho brasileiro da música. Trinta anos atrás, o rock ganhou status de gente grande. A cultura jovem, até então independente, virou mainstream – nome que se dá quando pensamentos ou gostos se tornam majoritários.


O divisor de águas do lado de cá do Equador foi o Rock in Rio, realizado em janeiro daquele ano na capital fluminense. Para o planeta, houve uma outra marca: o Live Aid, concerto beneficente organizado pelo cantor e compositor Bob Geldof em vários países em prol da população etíope.

O elenco estelar reunido por Geldof – Led Zeppelin, Madonna, Mick Jagger, Sting, U2, Eric Clapton, David Bowie, Freddie Mercury e mais uma pá de figurões – foi assistido, estima-se, por 1,5 bilhão de pessoas, numa das maiores transmissões de TV de todos os tempos.

Pois o Live Aid ocorreu em 13 de julho de 1985, daí a adoção dessa data para comemorar o Dia Mundial do Rock. BH sempre aderiu à festa. Hoje, ela será realizada na Praça da Savassi – a partir das 18h, as bandas Pato Fu e Cachorro Grande se reúnem para show com entrada franca.

Em meio a tantas efemérides, uma outra volta a lançar luzes para 1985. Treze álbuns de estreia de grupos ou artistas que marcaram o período no Brasil – alguns relevantes até hoje – surgiram ao longo daqueles 365 dias.

De uma levada só, Ultraje a Rigor, RPM, Legião Urbana, Ira!, Sepultura, Plebe Rude e Cazuza mandaram suas primeiras bolachas para o mercado. Na lista do chamado BRock há nomes bem menos ilustres, como Dominó e Tokyo, e outros mais segmentados, como os punks Cólera e Garotos Podres, o pop Metrô e o pós-punk Zero.

“Até então, o rock era dominado por bandas cariocas. O Rock in Rio, por exemplo, não teve nenhum grupo de São Paulo. O que vemos em 1985 é a emergência do rock paulista e de Brasília, pois as bandas do Rio estavam em crise. Cazuza tinha deixado o Barão Vermelho, a Blitz vivia brigando”, comenta o jornalista e pesquisador Rodrigo Merheb, autor do livro 'O som da revolução – Uma história cultural do rock 1965-1969'.

Para Ricardo Alexandre, autor de 'Dias de luta – O rock e o Brasil dos anos 80', uma bíblia para quem quiser entender o período, o Rock in Rio dá a dimensão da cultura jovem brasileira. “O rock já acontecia como fenômeno de nicho. Tudo muda por causa do festival, e há uma coisa coincidente: a ascensão de São Paulo como centro irradiador de cultura”, afirma ele.

Na passagem de 1984 para 1985, a Warner arrumou um olheiro em São Paulo (Pena Schmidt, que produziu as estreias do Ultraje e do Ira!), lembra Alexandre. “As grandes corporações percebem que o público jovem pode ser um negócio com tamanho e dinheiro.” A Abril lança a revista 'Bizz'; o grupo JB abre a rádio 89 e a Globo cria o programa 'Mixto quente'. “É o ano da profissionalização do rock”, resume o pesquisador.

E 30 anos depois, o que ficou? Para Merheb, o que havia de realmente original nas bandas que despontaram em 1985 foi o discurso. “As letras vieram mais da perplexidade de uma geração, foram resposta a fatos políticos da época. Falavam de política, corrupção e opressão, mas não eram engajadas como no rock inglês. No Brasil, a intenção era mais criar uma resposta para o cotidiano de meninos de classe média.”

Porém, o fenômeno não se resumiu a isso. O metal, marcado em 1985 por 'Bestial devastation', álbum que o Sepultura dividiu com os mineiros do Overdose, mostra que havia um público invisível, que veio à tona somente no Rock in Rio. “No país, não existia uma cena metal como a de outras vertentes roqueiras. O Rock Brasil era uma coisa de classe média. Já o metal, que causou furor no festival, pegava todos os estratos das classes sociais”, relembra Merheb.

Entre os 13 estreantes daquele ano, Ricardo Alexandre e Rodrigo Merheb concordam: o disco de 1985 foi 'Nós vamos invadir sua praia', do Ultraje. “Ele soa muito bem ainda hoje”, diz Ricardo. “O padrão da produção dos anos 1980 envelheceu muito em comparação com a das décadas de 1960 e 1970. As bandas mais simples em dinâmica e estrutura musical, como Ultraje, são aquelas que conseguimos ouvir hoje com menos condescendência do que o RPM, que tinha aquele som cheio de glacê.”

A superbanda do período, na opinião dele, pagou caro justamente pela superexposição. “O RPM não é o Menudo que ele acabou virando. Era soturno e alternativo”, diz. Para Merheb, o grupo encabeçado por Paulo Ricardo virou uma fotografia de seu tempo.

Já a Legião Urbana, a mais cultuada de sua época, acabou transcendendo a isso. “Existe o pop datado, que serve para lembrar o que você estava fazendo na época. É uma coisa sociológica mesmo. Mas, em termos de qualidade musical, ficou pouca coisa. Legião continua a ter apelo, vem se renovando, algo que também ocorreu com o Raul Seixas. Suas músicas acabaram sendo incorporadas por outras gerações”, conclui Merheb.

 

Vote em sua banda

 

Neste Dia Mundial do Rock, o Estado de Minas e EM.com.br convidam o leitor a relembrar discos e bandas que marcaram o cenário mineiro e nacional e, de quebra, escolher os seus favoritos. Serão dois rankings colaborativos, classificados de acordo com os votos do leitor. O internauta pode votar nos discos favoritos entre os 13 citados na reportagem da capa desta segunda do EM Cultura (teste está disponível ao final desta reportagem) e também clicar nas bandas mineiras preferidas – a seleção conta com cerca de 70 nomes.

Estado dos mais representativos para a música brasileira, Minas Gerais também é importante reduto de roqueiros. A começar pelo metal, que teve como ponto de referência a Cogumelo Records – a loja que se tornou gravadora, em Belo Horizonte. Por meio dela foi lançado o disco Bestial devastation (1985) com músicas das bandas Overdose e Sepultura, marcando a estreia dessa segunda, que ganhou o mundo posteriormente.

Além disso, no segmento pop rock, grupos como Pato Fu e Skank se tornaram referências em todo o país.

TEMPO REAL

Os rankings ficarão abertos para votação durante uma semana e é possível acompanhar o resultado em tempo real.

Com seleção dos repórteres Pedro Galvão, Daniel Seabra e Paulo Galvão e da produtora cultural Fernanda Azevedo, a lista de grupos mineiros contempla nomes de épocas e estéticas variadas. O único pré-requisito é que tenham trabalho autoral – virtual ou físico –, desde que seja álbum cheio ou EP.

Estão lá desde o rock alternativo do Serpente (surgido em 1982) a bandas criadas em 2013, passando por Tianastácia, Virna Lisi, Sepultura, Dead Lovers Twisted Heart, Skank, Pato Fu, O Último Número, Overdose, Sarcófago e Atack Epilético. A seleção contempla nomes de Belo Horizonte e do interior.

ESTREIA
Esta é a primeira vez que o EM.com.br testa rankings on-line. O internautra pode clicar em quantas opções quiser (até mesmo todas), sem a obrigação de escolher apenas uma. As mais clicadas sobem automaticamente para o topo da lista. Vote:

 

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