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Teixeira também elogia o profissionalismo dos garotos da nova geração. “Essa turma não brinca em serviço. Os shows e os discos da meninada costumam ser muito bem-feitos, bem produzidos.” A crítica escapa quando o autor de Tocando em frente reflete sobre a qualidade das composições. “Claro que há umas letras muito fraquinhas, com pouco conteúdo mesmo. De qualquer forma, insisto que é dessa geração que sairão os próximos Chicos e Caetanos. Quem é ruim passa, quem é bom sempre fica.”
Rapazes cobiçados no tempo em que o sucesso era medido em milhões de cópias vendidas – e não em milhões de visualizações no YouTube –, a dupla Zezé di Camargo & Luciano encara com naturalidade a pitada extra de sexo adicionada pelos jovens de hoje ao estilo musical do sertão. Afinal, os corpinhos bonitos e desnudos, acreditam eles, costumam vir acompanhados de talento.
“Hoje em dia, o culto ao corpo é muito maior. Faz parte do dia a dia da maioria das pessoas, homens e mulheres. Não há relação com a música e, sim, com a vontade e o cuidado pessoal de cada um. Que bom que eles se cuidam e se preocupam com a estética, saúde e bem-estar. E também são talentosos”, afirma Zezé. Num tom de quem ascendeu da categoria de “mais um rostinho bonito” ao patamar de “clássico”, Luciano acrescenta que, embora jovens, vários dos colegas contemporâneos não são aventureiros. Têm longos anos de estrada e experiência. “Luan Santana canta desde que era criança. É um menino que eu admiro, assim como o Gusttavo Lima. Eles inclusive gostam de Zezé di Camargo & Luciano desde pequenos e nos têm como referência. Os novos artistas reforçam o gênero, só fortalecem a música sertaneja”, defende.
CRÍTICA
O julgamento em tom áspero parte de outra velha guarda: a dos executivos da indústria fonográfica. O produtor Franco Scornavacca – pai do trio KLB e ex-empresário das duplas Zezé di Camargo & Luciano e Leandro & Leonardo – diz que, já no início da década de 1990, seus clientes investiam pesado na aparência, embora, naquela época, a preocupação maior fosse conferir um ar urbano ao sertanejo, que rompia os limites do interior para conquistar as metrópoles, sobretudo do Sudeste.
“Quando eu era empresário do Zezé, ele usava aquele penteado mais comprido. Um dia, apareceu no escritório de cabelo curtinho. Achei ótimo, porque o artista tem que se renovar mesmo, de acordo com o tempo.” O problema, afirma Scornavacca, é que a devoção à estética tem superado aquela dispensada à arte. “Nunca mais ouvi uma música digna de um hino sertanejo. Todas as que se eternizaram são mais antigas. Cuidar do visual é importante, mas temos que cuidar do conteúdo também. O artista da música vive do talento, não da beleza. É muito triste ver como nossos cantores estão se vendendo de forma apelativa para disputar Ibope”, avalia.
COMO MANDA O FIGURINO
Confira as etapas da música sertaneja no Brasil
Sertanejo de raiz
1929-1970
Letras
Exaltavam a natureza e o cotidiano da vida no campo
Figurino
Matuto, com chapéus de palha e camisas xadrezas
Representantes
Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho
New sertanejo
1970-2000
Letras
Românticas, repletas de dor de cotovelo
Figurino
Calça justa, fivelas grandes e botas com espora
Representantes
Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo
Sertanejo universitário
2000-2015
Letras
Embora falem de amor, há muitas referências a flertes e sexo casual
Figurino
Calças justas, camisas apertadas, deixando braços e tórax sarados
à mostra
Representantes
Henrique & Juliano, Lucas Lucco, Luan Santana
Cifrões
Discussões sobre a qualidade sonora à parte, se há uma coisa da qual a turma dos caubóis malhados entende é vender. Segundo levantamento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), dos 20 artistas com maior rendimento em rádios em 2014, oito são do segmento sertanejo universitário (destaque para a dupla Fernando & Sorocaba, em 3º lugar do ranking; e Luan Santana, em 7º). O valor dos cachês cresce na mesma proporção dos músculos dos agroboys. Contratantes dão conta de que um show de Lucas Lucco, por exemplo, está na faixa dos R$ 100 mil. Já Gusttavo Lima não mostra o tanquinho no palco por menos de R$ 300 mil, embora as assessorias de nenhum dos jovens confirmem a informação.
três perguntas para...
LUAN SANTANA, cantor
Até há relativamente pouco tempo, os artistas sertanejos eram mais “caipirões”. A que você atribui a mudança estética?
Quando eu era criança e no início da minha carreira, sempre vi os intérpretes sertanejos de bota e chapéu. Tentei usar bota e comecei a tropeçar. Então decidi entrar no palco, fazer minha música, independentemente de a roupa que eu usava ser “adequada” ao estilo ou não. No início, foi até estranho, mas chamou a atenção. Um cantor mais novo, solo, de cabelo espetado e usando tênis? Deu certo e acredito que tenha sido referência para muita gente a partir de então. Visto roupas com as quais me sinto confortável. Não mostram tanto o corpo. São roupas que me caem bem. Crio meu estilo. E, sim, pensando sempre no meu público. Ele merece.
O cuidado com o corpo é algo que sempre permeou a sua vida ou, ao optar pela carreira artística, algum produtor/empresário orientou você a malhar e adotar procedimentos estéticos?
Eu mesmo tomei a decisão de me cuidar. Comecei a cuidar da minha alimentação e fazer treinos diários, em nome da minha saúde e do condicionamento físico nos palcos. E também para acompanhar essa rotina pesada da agenda. O visual melhorou, claro, mas não foi crucial para a decisão.
Em que medida você acha que ser bonito e sarado beneficia sua carreira? Ou traz prejuízos, como ter de enfrentar preconceito, por exemplo?
Sim, preconceito existe. Mas é algo que as pessoas vão deixando de ter com o passar do tempo, por meio do seu trabalho. Você tem que escolher o que leva mais em conta: a aparência ou o seu talento? Eu levo o trabalho como cantor.