Compositor carioca, João Guilherme Ripper gosta de praticar corrida e acredita que música e esporte guardem similaridades entre si. Seja na execução de uma peça erudita com vários movimentos, seja durante uma atividade física de longa duração, é preciso ter corpo e mente preparados. Traçando paralelos a partir disso, criou a obra Jogos sinfônicos, encomenda feita pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais para marcar a primeira temporada na Sala Minas Gerais, em Belo Horizonte.
Jogos sinfônicos é composta por três movimentos: Distâncias, Velas e Drible. “O primeiro faz referência aos esportes que demandam tempo grande de conclusão, que envolvem bastante preparo mental. O segundo está ligado aos esportes aquáticos, sobretudo os que têm contato estreito com a natureza, e é mais lírico, com a orquestra desenvolvendo grandes arcos melódicos. O terceiro é a ginga de corpo, o inesperado e, principalmente, a técnica que permite fazer tudo isso, como numa jogada inesperada e genial”, explica Ripper.
Ao incorporar conceitos do esporte ao processo de composição, continua o compositor, músicos da orquestra receberam individualmente papéis de solistas em alguns momentos, bem como naipes tiveram papel de destaque em outros. “No último movimento, por exemplo, eles dialogam de maneira muito virtuosística entre eles”, antecipa. A obra, finalizada há um mês, tem elementos que ele considera característicos de sua “assinatura”, tais como grande exploração rítmica, ênfase na melodia e linguagem harmônica que vai do tonal ao atonal.
EM PROGRESSO Ripper é um dos cinco compositores brasileiros que receberam encomenda da filarmônica mineira para esta primeira temporada na Sala Minas Gerais – André Mehmari, Cláudio de Freitas, Marlos Nobre e Oiliam Lanna são os demais. “Quisemos mostrar não só tendências estilísticas variadas com isso, mas representantes dos mais importantes no cenário erudito nacional”, diz o maestro e diretor artístico da orquestra, Fabio Mechetti.
Ele afirma que o espaço, inaugurado em fevereiro, está 90% pronto. “Estão faltando detalhes, nada que o público vá notar. É preciso, entre outras coisas, finalizar a parte de cabeamento e ajustar a automatização das cortinas e do teto acústico sobre o palco, pois ainda não conseguimos trabalhar com eles com tanta facilidade”, revela. A conclusão desses itens, completa, contribuirá para visão mais definida dos recursos da sala e, consequentemente, melhor performance da orquestra.
Entre a burocracia e a vida de artista
João Guilherme Ripper assumiu recentemente a presidência do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Entre seus objetivos no novo cargo, está estabelecer o que chama de “normalidade” de programação e produção: “O espaço precisa funcionar como casa de opera e balé, contribuir não com eventos isolados, mas uma rotina de produções que permita que a população aguarde isso. O esforço é para ter produções próprias e de alto nível o ano todo. Queremos ter assinatura artística, e não ser um lugar alugado para eventos”.
Ele considera como ideal entre oito e 10 produções próprias por ano, levando em conta espetáculos de ópera e balé. Os 11 anos que atuou como diretor da Sala Cecília Meireles, também na capital fluminense, o ajudarão não apenas na parte artística, mas também financeira. “Aprendi a ser muito rigoroso com orçamento e criativo na busca de recursos. Muda o tamanho, mas a maneira de fazer é a mesma”, resume. Sobre o orçamento do teatro e as projeções para o ano que vem, ele diz ainda estar “tomando pé” da situação.
Até que seja nomeado outro diretor, Ripper acumula temporariamente o cargo na Sala Cecília Meireles. “A equipe de lá é superazeitada, e isso me permite, por enquanto, comandar as duas casas. É importante que a sala tenha continuidade no trabalho artístico e empresarial. Acabamos de abrir um escritório de negócios para fomentar atividades por lá. Somando isso à parceria forte com o governo, é uma fórmula que deu certo e não pode haver retrocesso”, afirma.
Paralelamente, ele mantém rotina como compositor para atender encomendas do Festival Amazonas de Ópera, Orquestra Petrobras Sinfônica e, mais recentemente, do saxofonista Leo Gandelman, para quem está escrevendo concertinho para saxofone e orquestra de cordas. Em fevereiro, lançou o disco Ciclo Portinari e outras telas sonoras, no qual musicou oito poemas do pintor Candido Portinari, gravados com piano e duas vozes femininas (soprano e mezzo-soprano). (ETG)
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
Quinta e sexta, às 20h30, na Sala Minas Gerais (Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Bairro Barro Preto). Ingressos: entre R$ 30 (inteira) e R$ 90 (inteira). Informações: (31) 3219-9000 e www.filarmonica.art.br.