Neste fim de semana, o maestro apresenta no Palácio das artes, em Belo Horizonte, o espetáculo Eduardo Lages & orquestra, o maestro do Rei - Em toda brasileira é uma diva. O maestro lançou sua carreira solo em 2005. “Já tive que abrir mão várias vezes de projetos pessoais ou profissionais por causa do Roberto. Mas nunca me importei com isso. A prioridade sempre foi ele. Até porque, mesmo os meus CDs, se tiveram sucesso, devo 90% ao Roberto Carlos. Consegui boa parte das coisas na minha vida por causa dele.”
Embora não seja filho de músicos – a mãe era professora e o pai, médico – o instrumentista, arranjador, produtor musical, compositor e maestro nascido em Niterói sempre conviveu com artistas. O pai era pneumologista e tinha entre seus pacientes diversos cantores, que ele convidava para saraus e serestas em sua casa, nos quais assumia o piano. “Como muitos artistas naquela época tinham problemas no pulmão ou respiratórios, porque fumavam muito ou tinham tuberculose, eles eram a clientela do papai. Nelson Gonçalves, Ciro Monteiro, Silvio Caldas, todos frequentavam a minha casa. Assim, fui aprendendo a gostar de música popular. Fui estudar piano já aos 5 anos de idade”, conta.
Desde criança, Lages quis ser maestro, mas nem ele sabe explicar o motivo. “Isso é o que os adultos me contavam. Que eu falava em ser maestro o tempo todo, mas não me recordo de ver algum concerto, nada disso. Mas te digo que sempre fui um apaixonado por orquestras.”
O regente também é grande admirador da música erudita, gênero que mais tem escutado atualmente. “Hoje, ouço muito mais o clássico do que o popular, porque é uma música eterna. Até porque estamos passando uma fase musical no mundo que não é nada fértil. Não sei se é uma entressafra, mas é raro ouvir uma composição lançada há um, dois anos, e ela me emocionar.”
O maestro diz ter dificuldade de eleger os momentos de maior destaque de sua carreira. Venceu festivais de música, foi maestro e arranjador de programas da Globo, fez apresentações memoráveis ao lado do Rei, como uma para o papa João Paulo II. “Tudo que pensei na minha vida deu certo. Fiz tanta coisa boa e toquei de Nova Lima a Nova York. Até gosto mais de tocar para o povo do que para um público mais sofisticado. Tanto que meu próximo projeto é levar essa turnê para a rua e de graça.”
REI
Ao longo de quase 40 anos acompanhado Roberto Carlos, Lages estima ter feito cerca de 3 mil shows ao lado dele. Tanto convívio fez com que Lages conhecesse bastante a personalidade do Rei. Lages o define como uma pessoa extremamente intuitiva. “Quando Roberto tem uma intuição, ele a segue e, em 99% das vezes, não erra. Nunca o vi premeditadamente falar mal ou causar um desconforto a alguém. Claro que ele é um ser humano e pode cometer algum ato impensado, mas, mesmo nesses últimos episódios (polêmicas envolvendo Roberto Carlos), principalmente o das biografias, não vi em nenhum momento Roberto querendo fazer mal a alguém. Apenas queria ter sua privacidade preservada.”
Sobre a polêmica em torno das biografias – o STF derrubou a necessidade de autorização prévia do biografado, algo que Roberto defendia –, Lages diz entender os dois lados da moeda e sustenta que deveria haver um dispositivo jurídico para proteger o biografado caso o autor cometa uma injúria. “É complicado isso porque corre o risco, ainda mais quando a coisa não é autorizada, de saírem histórias deturpadas. Mas aí o livro já foi publicado e o mal já foi feito”, diz.
Com relação ao livro Roberto Carlos em detalhes, de Paulo Cesar de Araújo, cuja venda foi proibida a pedido do cantor, o maestro diz que seu depoimento dado ao jornalista e escritor foi preservado e publicado sem incorreções. “Da minha parte, ele colocou exatamente as minhas palavras.”
Apesar de seus 50 anos de carreira, Lages não acredita que alguém se interessaria em contar sua história e também não sabe se aprovaria a ideia. Ele conta com três jornalistas dentro de casa, já que todas as suas filhas abraçaram a profissão. “Jornalista é bom de contar história, mas não sei se animaria. Elas não podem é contar nenhuma mentira”, brinca.
Musical encena rotina de rádio
Eduardo Lages & orquestra, o maestro do Rei - Em toda brasileira é uma diva foi criado com o objetivo de ser um musical para toda a família. Conta, por meio de muitas canções, a história fictícia de uma rádio em algum lugar do país. Tendo o maestro e sua orquestra como protagonistas, a produção é dividida em três blocos, apresentando a manhã, a tarde e a noite da Rádio No Ar, que toca canções de todos os gêneros ao longo do dia.
Ao final, um show de gala encerra a programação da emissora. Como toda rádio, veicula noticiários, jingles, atrações infantis e a participação de ouvintes. Entre esses está Ivete Sangalo, que encarna uma animada espectadora nordestina, em participação gravada em vídeo e exibida em telão. “É muito interessante observar a participação da plateia que dança e canta com a gente o tempo todo. É como se estivéssemos na casa da gente”, diz o maestro.
O repertório inclui Beatles, Pixinguinha, Cazuza, Lulu Santos, Milton Nascimento, Tom Jobim, Roberto Carlos e pot-pourris temáticos, com temas de novelas, infantis e músicas de baile. “É só música bonita e é um show muito feliz”, afirma.
Além do maestro e da orquestra, o musical conta com uma trupe de atores performáticos, que se alternam entre cenas faladas, números de dança e canto. Com concepção e direção-geral de Ulysses Cruz, o espetáculo tem direção de Ravel Cabral, roteiro de Vinícius Faustini, cenografia de Verônica Costa, figurinos de Luciana Buarque e coreografia de Tania Nardini.
Eduardo Lages & Orquestra, O maestro do Rei - Em toda brasileira é uma diva
Sábado, às 21h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: Plateia 1: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia); Plateia 2: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia) e Plateia superior: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Classificação livre. Informações: (31) 3236-7400