Além das muitas e significativas canções que fez com Milton Nascimento, Fernando Brant teve parceiros de diferentes perfis: Nelson Angelo, Tavinho Moura, Lô Borges, Sirlan e Sergio Santos, por exemplo. Para todos eles, o amigo, que morreu sexta-feira passada, soube escolher as palavras de forma a expressar o simples de maneira contundente, mais próxima do ouvinte. Está aí a importância central de sua obra.
“O diálogo com o sentimento do povo é muito forte, não foi à toa que as canções dele eram sucesso. 'Coração civil', por exemplo, é uma reflexão sobre a utopia, sobre como as pessoas têm de pensar o próprio caminho. Isso é muito bonito na obra de qualquer artista. É gritante como o sentimento popular é a inspiração da obra dele”, afirma Sergio Santos. No início dos anos 1990, ele compôs 'Dois rios' com Brant e Tavinho Moura. “A letra é maravilhosa e traduz muito o que é o Fernando em relação à amizade. Ele gostava de promover encontros”, completa.
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Ele se orgulha de Canoa canoa, mas crê que ela jogue sombra sobre as demais parcerias da dupla, a exemplo de 'Coisas de balada', composta nos Estados Unidos durante as gravações de 'Journey to dawn', disco de Milton Nascimento de 1979. “A maneira de dizer e o texto dele sempre foram surpreendentes. Dentro da simplicidade, era uma maneira especial de falar. São frases que parecem fáceis, mas que só depois a gente percebe como permanecem”, resume Nelson Angelo.
O cotidiano era o alimento principal das letras de Brant, na opinião de Sirlan. Cerca de metade do disco dele 'Profissão de fé' (1979) traz parcerias dos dois: 'Bom de sela', 'Povo da montanha', 'Viagem às origens' e 'Nove anos' – as duas últimas revelam Brant em tom autobiográfico. “A crônica é muito importante na música dele, tem muito do vivenciar o dia a dia. Ele fez isso muito bem, pois andava muito pelas ruas, teve experiências importantes, como na revista 'O Cruzeiro' e no Juizado de Menores. Fernando não escrevia a partir de si, mas percebendo o outro. Isso dá durabilidade e grandiosidade à sua obra”, conclui Sirlan.
MISSA
A missa de sétimo dia de Fernando Brant será celebrada nesta quinta, às 20h, na capela do Colégio Arnaldo, onde ele estudou. Parentes e amigos vão cantar algumas de suas músicas. A capela fica na esquina de Rua Ceará com Avenida Carandaí, no Bairro Funcionários.