Jogo de damas

Fabiana Cozza dedica seu quinto CD, 'Partir', a Maria Bethânia

Baiana elogia alcance vocal e bom gosto da paulistana, que faz show de lançamento do álbum neste sábado na capital mineira

Kiko Ferreira
- Foto: Divulgação
Um dos momentos marcantes da Mostra Cantautores de 2014 foi quando Fabiana Cozza saiu de sua cadeira, na plateia do show de Tiganá Santana, na Funarte, para subir ao palco e (en)cantar a plateia com uma interpretação arrebatadora de um dos temas do cantautor baiano, que naquele 13 de dezembro dividiu as atenções com o português J P Simões.


Fabiana volta hoje a Belo Horizonte, desta vez para lançar seu quinto CD, Partir, uma incursão pelas sonoridades africanas da música brasileira, com generosas paradas na Bahia e em outras geografias sonoras. A primeira paragem, evocada na faixa de abertura, é justamente mineira. A cantora, que havia homenageado Clara Nunes no trabalho anterior, Canto sagrado, abre os trabalhos com Velhos de coroa, de Sérgio Pererê, reverente canto aos velhos sábios e ao congado: “Quando um negro velho chora/ faz o rio virar mar/ mas não há de haver o dia desta tristeza chegar”.


Classificada pelo mestre Nei Lopes como “dama afro-ítalo-brasileira”, a paulistana filha de um puxador de samba da escola Camisa Verde e Branco, Osvaldo dos Santos, reúne voz potente, excelente gosto para escolha de repertório e personalidade suficiente para tornar quase que sua propriedade músicas de autores variados. Como sua inspiração confessa, Maria Bethânia, que assina o texto de apresentação do disco elogiando o alcance vocal, o apuro nas notas e a caprichosa escolha dos músicos, além da “nudez dos arranjos onde a voz passeia lisa e clara”. E a dama da canção brasileira tem razão.


Gravado entre 16 e 27 de novembro do ano passado, sob cuidadosa produção do baixista, violonista, cantor e compositor Swami Jr., o CD tem como base principal as músicas dos baianos Tiganá Santana e Roberto Mendes. Do primeiro, lê Mama Kalunga, não por acaso faixa-título do mais recente e deslumbrante trabalho de Virgínia Rodrigues, e a pungente Le mali chez la carte invisible, que arrebatou a plateia da Mostra Cantautores.


Do segundo, um dos preferidos de Bethânia, cujo repertório serviu de base para um show recente, cinco temas consistentes que confirmam a versatilidade da cantora: a dançante Orixá (com Jorge Portugal), a romântica Teus olhos em mim (com Nivaldo Costa), a sensual Não pedi (também com Costa), a baianíssima Voz guia (com Portugal), com um quê do Expresso 222, de Gil, e um samba elegante como as melhores safras de Paulinho da Viola, Seu moço, com abertura delicada e segunda parte em clima de samba de roda.


Mas não é só. Tem a África de sangue latino de Borzequita (Leandro Medina), a pegada meio Cesária Évora de Entre o mangue e o mar (Alzira E e ArrudA), uma Roda de capoeira (Vicente Barreto e Paulo César Pinheiro) com jeito de Sérgio Santos e um olhar carioca no Fim da dança de Vidal Assis e Moysés Marques. E ainda a levada malemolente É do mar (Giselle de Santi) e o sotaque angolano de Chicala, de dançar a dois, entre sorrisos e requebros: “Se meu coração rebola/ meu peito já não machuca”.

 

 

PARTIR
Show de lançamento do novo CD de Fabiana Cozza.

Neste sábado, às 21h. No Teatro Bradesco. Rua da Bahia, 2.244, Lourdes, (31) 3516-1360. R$ 40 e R$ 20 (meia).

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