Em seu primeiro álbum solo, cantou, com muita ironia, a Aids (na música homônima) antes que a doença se tornasse conhecida no país (É a última moda que chegou de Nova York/E deve ser bom como tudo o que vem do Norte). Novamente gravou uma versão de Chuck Berry ('Rock’n’Roll', toda em português).
Ainda na seara das versões, pegou uma conhecida canção dos anos 1960, que fala sobre dias melhores – 'Sunny', de Bobby Hebb – e colocou toda a pimenta que havia disponível. Sexo anal, masturbação, ménage à trois, cheia de duplo sentido, valia tudo em 'Sônia'.
Mesmo que a abertura política estivesse batendo à porta, o Brasil ainda vivia numa ditadura. Os censores não compraram as picardias de Leo Jaime. 'Phodas C' – o título do álbum fazia piada com a linha de navios Eugênio C – foi recolhido em dezembro daquele 1983.
Só liberado em março de 1984, chegou lacrado às lojas e com o aviso: “Proibido para menores de 18 anos”. 'Sônia' foi proibida de tocar nas rádios. E muito menos gente do que o esperado comprou o álbum. Leo Jaime não “aconteceu”, mas virou notícia.
Trinta anos mais tarde, 'Sônia', que ninguém conheceu pelo rádio, é uma das músicas mais pedidas em seus shows. Hoje, aos 55 anos, o goiano tem seus cinco LPs da fase oitentista lançados numa caixa. Agora em formato de CD, todos foram remasterizados.
Até o título da caixa tem um quê de ironia: 'Nada mudou'. Além da juventude inconsequente de 'Phodas C', há também o roqueiro 'Sessão da tarde' (1985), o mais vendido dos cinco, que lhe deu reconhecimento nacional. Nesse álbum, por sinal, deu sua resposta à censura. 'Solange', versão para 'So lonely', do The Police, era dedicada à censora Solange Hernandez, a mesma que havia proibido seu trabalho anterior.
SUCESSO A repercussão do segundo trabalho acabou sendo traduzida em 'Vida difícil' (1986), um disco mais para baixo, em que ele contestava o próprio sucesso. Depois ainda lançou 'Direto do meu coração pro seu' (1988), que explicitava seu lado romântico (para alguns, brega); até 'Avenida das desilusões' (1989) que, dos cinco, é o mais sofisticado.
Vieram os anos 1990, a ressaca da indústria e da própria geração 80. Leo Jaime foi um dos “engolidos” no período. Tornou-se cantor bissexto e, anos mais tarde, se reinventou. É hoje também conhecido como cronista, apresentador de TV e ator. E a música acabou vindo a reboque.
Hoje tem três shows diferentes: 'Festa', em que relê seu repertório com uma grande banda; um outro em formato intimista, em que canta acompanhado de um trio e ainda coloca seu lado contador de casos à mostra; e o recém-estreado 'Elétrico', com músicas de sua autoria em novos arranjos. Existe a intenção de promover a volta dos Miquinhos.
Bom frasista, desfia sua verve nas redes sociais em comentários sempre irreverentes. Na TV, é visto em 'Malhação' como Nando Rocha, um velho ídolo do rock dos anos 1990. Nesta segunda-feira, às 22h, no GNT, ao lado de Marcelo Tas, Xico Sá e João Vicente de Castro, estreia o programa Papo de Segunda. Um time de marmanjos carismáticos e sem papas na língua, que vai colocar o formato ao vivo à prova.
Ao contrário de muitos dos colegas de geração, não veio da classe média. Chegou ao Rio de Janeiro ainda adolescente para tentar a sorte. Antes, havia morado em São Paulo e Brasília e feito de tudo um pouco. Foi office-boy, engraxate, vendedor de joias, mas sempre teve verve de artista.
Foi ator de musicais antes de entrar para os Miquinhos. Trabalhou no Teatro Oficina, compôs com Arnaldo Baptista, apresentou Cazuza para o Barão Vermelho (havia declinado do convite para ser o vocalista da banda).
A fama na música o levou ao cinema. Integrou o elenco de dois filmes que eram a melhor tradução do espírito descompromissado do jovem que viveu nos anos 1980: As sete vampiras e Rock estrela, ambos de 1986, e com títulos tirados das músicas de Léo Jaime.
Atualmente, fala-se muito sobre a carreira multimídia de Leo Jaime. Mas ele sempre jogou em todas as posições. O que mudou foi o palco. Se antes era o disco e o cinema, hoje é a internet e a TV. Mas a verve de cronista, que fala sobre sexo, amor, futebol, comida, política, é uma só. “Sou um cronista que gosta de interpretar. São essas as duas coisas que faço: escrevo e interpreto”, resume o próprio Leo Jaime.
PAPO RÁPIDO
Leo Jaime tem sempre uma (boa) resposta na ponta da língua
>> Sônia, a proibida
Curioso que no mês passado eu tenha visto milhares de pessoas no meu show pedindo em coro para eu cantar exatamente uma música que nunca tocou no rádio, não é?
>> Jovem hoje e ontem
A informação circula muito mais livremente hoje em dia. Eu amadureci muito rápido. Chato isso.
>> Ator?
Não posso me avaliar. Deixo ao público e à crítica esta função. Fui indicado a um prêmio como ator coadjuvante. Fiquei surpreso, não sou do tipo que é indicado a prêmios. Sou daqueles que o povo mais ama do que admira. Modesto, né?
>> Humor
O humor é o que possibilita, por exemplo, tratarmos de sexo na TV aberta com uma certa liberdade e sem resvalar no mau gosto. Rir de si mesmo é essencial. Ninguém acerta o tempo todo. Todo mundo é mais ou menos.
>> Papo de Segunda
O desconfiômetro vai ficar ligado, mas, mesmo assim, vamos soltar umas batatadas. Sinceridade seduz, não é mesmo? E pedir desculpas ou refazer as frases e as ideias são um recurso que teremos ao nosso dispor. Prova oral o tempo todo! Tem que ter coragem. E saber que sempre tem quem adore e quem odeie. Sempre.
Pérolas de um frasista
“A vida é cheia de som e fúria. E contas”
“Tem gente que te segue (no Twitter) só pra te odiar de pertinho”
“Celulite é ‘eu sou gostosa’ em braille e estrias são setas indicando por onde
você deve ir”
“Bom humor dá tesão”
“Barriga tanquinho é para os fracos! Eu tenho uma lavadora turbo automática com 12 programas!”