Nascido e criado em Petrolina, Zé Manoel chamou a atenção pela leveza bossanovista, em pleno século 21, das composições com o primeiro álbum, que apresentava na capa o nome do cantor, compositor e pianista, até então desconhecido. A partir desta sexta-feira, 'Canção e silêncio' (Natura Musical, R$ 24) está disponível para audição gratuita no site do Natura Musical (www.naturamusical.com.br), patrocinadora do disco e da turnê, que deve chegar ao Recife apenas em setembro, o que proporcionou a escalação dos produtores Carlos Eduardo Miranda e Kassin, também baixista do disco.
Em vez do rio, lembrança da infância às margens do Rio São Francisco, mais presente no álbum de estreia, é o mar do Recife, onde mora desde 2007, que invade o universo criativo, como em 'O mar', uma ciranda sobre a força e bramidos dele com letra de Sergio Napp, guitarra de Juliano Holanda, percussão de Johan e caixa de Pupillo, da Nação Zumbi, uma das figuras mais presentes em discos nos últimos tempos, de Lira ('O labirinto e o desmantelo', como compositor, instrumentista e produtor) e Gal Costa ('Estratosférica', como músico e compositor, em parceria com a namorada, Céu, e Bactéria, da Mundo Livre S/A).
Em 'Quem não tem canoa cai n’água', faz dialogar o canto popular de Dona Amélia, do Samba de Véio da Ilha do Massangano, de Petrolina, com o piano e voz grave dele. É a harmonia do piano - único instrumento da canção - que dá o tom do baião 'Água doce', escolhida como primeira das 13 faixas, todas de autoria dele (algumas em parceria). A parceria com as teclas, estabelecida desde os 9 anos, é repetida em 'Na noite em que eu nasci', música de apenas seis versos sobre a relação com o tempo que valoriza a melodia.
No longo poema narrativo 'Sereno mar', sob regência e arranjos de Letieres Leite, da Orkestra Rumpillez, um pescador tenta resgatar o filho com a própria rede. Em 'Água doce', ele convida para despertar e ver a chuva aguando o pé de laranja lima. Em 'Estrela nova', metaforiza com as velas de um barco a sonoridade explorada no disco.
Algumas canções de amor têm quase escondidas reflexões urbanas, como Cheio de vazio, na qual canta que "a rua da Aurora não se parece com a rua onde moro": Jardim São Paulo, esclarece, risonho. "É a música urbana do disco parece uma canção de amor, mas na verdade é sobre a relação contínua da gente com a cidade. As pessoas não são aquilo que elas parecem ser", setencia.
"Algumas coisas, eu teria tirado, porque achei que ele estava muito para baixo, mas eles (Miranda e Kassin) argumentaram para deixar", confessa Zé Manoel, sobre a introspecção melancólica das composições mais recentes que ele, satisfeito, classifica como mais maduras. É no ritmo de samba que a palavra o estrangula e sufoca, em 'Cada vez que digo adeus'. A dor da despedida é tema ainda de Volta pra casa, interpretada pela cantora pernambucana Isadora Melo, atualmete no elenco da minissérie 'Amorteamo', da Globo, já parceria de Zé Manoel e dos palcos.
Conhecidos pela pegada pop e pelas intervenções eletrônicas, Miranda e Kassin foram procurados por Zé exatamente por isso. Mas, durante o processo de gravações, no Rio de Janeiro, o processo foi inverso. "Eles se deixaram mais levar pela minha sonoridade. Acho que existe uma coisa nova no disco, ele soa muito uniforme. É mais coeso e uma música dialoga com a outra. É mais introspectivo também", analisa o artista. 'Canção e silêncio' e sonora e poeticamente intricado a 'Zé Manoel', de 2012, e promete agradar aqueles que conquistou.
Confira vídeos de bastidores das gravações: