Como será o mundo do blues sem B.B. King? O velório do Rei do Blues será no próximo dia 23 em Las Vegas, nos Estados Unidos. O músico, considerado o grande nome do estilo no mundo, morreu na última quinta-feira, 14, aos 89 anos, depois de sofrer uma série de pequenos acidentes vasculares cerebrais (AVCs) decorrentes da sua diabetes tipo 2. Mas e depois da morte de B.B. King, que rumos tomará o estilo?
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Para Cláudio Bedran, baixista e um dos fundadores do Blues Etílicos, principal banda do estilo no Brasil, com 30 anos de estrada, a morte de B.B. King, sem dúvida é, um desfalque de peso para o time do blues. “Com a saída de cena do B.B., o blues perde um grande embaixador, que levava o blues a todo tipo de plateia, de U2 a Sherryl Crow, passando por Elton John e tantos outros”, frisou.
“É um dos últimos gigantes a vir dos algodoais, a cumprir a trajetória do ‘Bluesman arquetípico’. Hoje o mundo evoluiu um pouco, e os negros americanos não nascem mais sob leis racistas. Aquele universo, aquele tipo específico de exclusão, que também gerava um tipo específico de sentimento, não existe mais. Claro que o racismo não acabou, mas graças a Malcom X, Martin Luther King e, em certa medida, ao próprio B.B. King, a posição do negro na sociedade americana e no mundo nunca mais será aquela”, disse.
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“B.B. tinha um estilo de tocar único, conseguindo ser profundamente eloquente com pouquíssimas notas. Seu famoso vibrato, que todo mundo tentou imitar mas pouquíssimos conseguiram, é o máximo. Tinha uma voz muito bonita e marcante, além de um bom gosto sensacional. Ter vindo dos campos do Deep South, a alegria de tocar, a boa dose de humor e o inexplicável carisma, faziam B.B. perfeito para ser rei e embaixador mundial do Blues”, elogiou Bedran.
B.B. King foi o responsável direto por influenciar nas carreiras de grandes da música mundial, como Jimi Hendrix, Jimmy Page, Keith Richards, Eric Clapton, Santana, John Mayer, Stevie Ray Vaughan, dentre vários outros. “Adoro o som dele. Entre tantos grandes momentos, o show de 1974, na África (Kinshasa, antes da luta de boxe entre Muhammad Ali x George Foreman), tem uma intensidade absurda, ‘Black Power’ em grau máximo.
"Foi o primeiro bluesman que ouvi. Ter feito show de abertura para ele, e trocar umas palavras com ele foi algo marcante na minha vida”, disse, lembrando a apresentação do Rei do Blues no Rio de Janeiro, em 20 de março de 2004. “O Flávio (Guimarães, gaitista da banda) ter dado canja com ele (no fim dos anos 80, início dos 90) ajudou a divulgar a banda. Abrir o show dele na Marina da Glória foi uma grande emoção pra nós. O B.B. foi uma força motriz do blues, e nesse sentido ajudou na própria existência do Blues no Brasil.”
Sobre a influência no som do Blues Etílicos, Cláudio Bedran acredita que são vertentes distintas. “São estilos muito diferentes. O B.B. tocava com big band, teclado, naipe de metais, toques fortes de rhythm and blues e soul. Nossa onda é de quinteto de blues, com ênfase na gaita, influência de Chicago Blues, southern rock e música brasileira. O que, sem dúvida, temos em comum com o B.B., é sentirmos e tocarmos blues como um ‘ritual de exorcismo da tristeza’ e não um ‘culto da melancolia’”, disse o músico.
PELA FRENTE
Mas e em relação ao futuro? O que esperar do blues sem seu principal representante? “O único sucessor possível para B.B. King é Buddy Guy. Também tem trajetória semelhante, embora nunca tenha conseguido o reconhecimento mundial de B.B.. É um monstro da guitarra, tem uma voz maravilhosa, mas o estilo Chicago Blues o distancia mais do pop que o soul/blues de B.B. King”, apostou. Buddy Guy, de 78 anos, é um dos grandes guitarristas e cantores norte-americanos, da mesma vertente de B.B King. Agora é esperar para ver.