A entrevista de Azelia Banks à Playboy norte-americana é tão aguardada por fãs quando o ensaio sensual da cantora, clicada por Ellen Von Unwerth para a edição que chega às bancas dos EUA na próxima sexta-feira, 20. O motivo da expectativa fica óbvio no trecho antecipado pelo site da revista nesta segunda-feira, 16: a visão politizada e sempre ácida da artista. Em conversa com o jornalista Rob Tannenbaum, Banks critica sua terra natal — "eu odeio tudo sobre esse país" — e aponta as diversas ramificações do racismo sob seu olhar, tanto na indústria pop quanto na formação cultural e histórica dos Estados Unidos.
Veja fotos do ensaio de Azealia Banks para a Playboy dos EUA
Sem medo de abordar temas polêmicos, ela confessa não estar disposta a obedecer as regras para tornar-se uma popstar: "há certas maneiras que você precisa se comportar para tocar no rádio. Eu quero ficar com quem eu sentir vontade. Quero fumar maconha. Quero ficar bêbada". Estrela da capa e do ensaio principal na revista, Azealia garante que não pensou duas vezes ao receber o convite para posar nua. "Toda vez que meu empresário programa uma sessão de fotos eu digo 'vamos fazer uma foto nua!'", ela brinca. "Eu amo ficar pelada", declara. Confira abaixo alguns trechos da entrevista de Azealia Banks à Playboy.
Norte-americanos
"Eu odeio esses americanos brancos e gordos. Todas as pessoas encrustadas no meio da América, a carne gorda do país, são aqueles brancos conservadores e racistas que vivem em suas fazendas. Aquelas adolescentes que trabalham no Kmart e têm uma vovó racista — aquilo é a América de verdade. (...) Assim que eu tiver meu dinheiro, vou sumir daqui e deixar vocês todos com seus aparelhos".
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"É sempre sobre a raça. Lorde pode falar as merdas que quiser sobre todas as outras vadias, ninguém vai dizer que ela é raivosa. Se eu tenho algo a dizer, sou jogada para escanteio. Todos vocês filhos da p* ainda me devem reparações! Por isso que ainda se trata de raça".
Voz contra o racismo
"Eu me decepciono quando as pessoas dizem 'por que você não se limita a fazer música?'. O que aconteceria se eu não pudesse cantar? Aí eu seria só mais uma vadia negra pra vocês. É muito irritante. Pessoas negras merecem reparações por terem construído este país, nós merecemos muito mais crédito e respeito".
"Meus fãs brancos dizem 'por que você exige reparações por um trabalho que você nem fez?'. Bem, vocês herdaram as propriedades de seus avôs e tiveram o direito de ficar com os diamantes e pérolas das suas avós. (...) Eu sou negra e sou um pé no saco para vocês. Mas eu não estou falando com vocês, é isso que deixa as pessoas nervosas. Vocês não estão convidados para essa conversa. Não é sobre vocês".
Cultura e inadequação
"Quando você arranca pessoas de suas terras, de seus costumes e culturas, ainda há uma parte de mim que sabe que eu não deveria falar inglês. Eu não deveria estar cultuando Jesus Cristo. Toda essa merda não é natural para mim. As pessoas vão dizer 'ah, você é ignorante porque não sabe falar direito o inglês'. Não. Isso não é meu. Eu nem escolhi isso para mim, então vou fazer o que eu quiser com esse idioma".
História negra nas escolas
"Os livros de história nos EUA são horríveis se você não é branco. (...) Eu poderia escrever um livro sobre por que negros não devem ser cristãos. Crianças negras deveriam ter um currículo especial que não começasse na viagem da África até aqui. Tudo o que você sabe, enquanto criança negra, é que nós viemos para cá em um barco, não tínhamos nada e continuamos sem ter nada. Mas o que estava acontecendo na África? Qual é a cultura da qual fomos afastados? Essa informação é vital para a sobrevivência de uma jovem alma negra".
Jay Z, Pharrell e o orgulho negro
"[Jay Z] é o único em quem eu presto atenção. O lance da raça sempre vem à tona, mas eu quero chegar lá sendo extremamente negra, orgulhosa e barulhenta a esse respeito. Você me entende? Muitas vezes, quando você é uma mulher negra e orgulhosa disso, pessoas brancas não gostam de você. Na sociedade americana, o jogo é ser uma pessoa negra não-ameaçadora".
"É por isso que você tem Pharrell ou Kendrick Lamar dizendo 'como podemos esperar que nos respeitem se não respeirtamos a nós mesmos?'. Eles jogam esse jogo do negro não-ameaçador, é isso que faz as mães de família dizerem 'ah, nós os amamos'. Até Kanye West joga um pouco esse jogo — 'por favor me aceite, mundo branco'. Jay Z nunca jogou por essas regras, é disso que eu gosto".