A maquiagem diminuiu, o figurino está mais sóbrio, só restaram dois performers e o palhaço aparece bem de vez em quando. Ainda assim, a principal mudança no Teatro Mágico foi a sonoridade. Ainda liderada pelo cantor, violonista e compositor Fernando Anitelli, a banda paulistana conta com novos integrantes e, pela primeira vez, tem um diretor musical, o talentoso guitarrista brasiliense Daniel Santiago. Os fãs de Belo Horizonte poderão tirar suas próprias conclusões na noite deste sábado, 13, no show 'O tudo numa coisa só', que traz canções de todos os discos, incluindo o mais recente, 'O grão do corpo'.
“Desde o primeiro álbum, a gente modifica as coisas. O que eu escrevia era assoviável, de quatro minutos e com as pessoas tatuando os refrões no braços. Agora é outra linguagem; o segredo é permanecer incomodado. A direção está mais afinada e o conceito mais maduro, seja na harmonia, nos arranjos e nos grooves. As referências são várias, incluindo música mineira, com distorção por cima e de forma dançante. O som ganhou mais pressão, está mais pulsante e urbano, com mais guitarra. Não digo rock, mas solar. A gente faz pop – e com pegada”, define Anitelli.
Confira clipe de 'O sol e a peneira', do Teatro Mágico:
As mudanças que redefiniram o Teatro Mágico não agradaram a todos os fãs da banda. Seu líder, Fernando Anitelli, além de não parecer preocupado com isso, considera naturais as consequências da nova opção, a começar pela reclamação sobre a maquiagem. “A ideia nunca foi sermos palhaços engraçados, mas personagens, para que as pessoas se coloquem no lugar da gente. Estamos saindo daquele rosto todo branco e humanizando isso. Os fãs acharam que traímos a nossa própria história, mas não tem nada disso. Agora são outras referências. Palhaço não precisa ser só aquela coisa tipo Fellini”, diz Anitelli.
Quando o artista fala de fãs, eles são, de fato, muitos. Os números podem não soar estratosféricos, mas não deixam de impressionar. São mais de 10 milhões de visualizações no canal da banda no YouTube (Los Hermanos tem 12 milhões), 154 mil seguidores no Twitter (Nação Zumbi tem 44 mil), 31 mil no Instagram (Victor e Leo têm 92 mil), alémde mais de 1 milhão de curtidas no perfil oficial do Facebook (Chico Buarque tem 2,1 milhões).
“Em geral, fazemos o mesmo circuito das bandas mainstream. No Centro-Oeste e Norte, precisamos aparecer mais, mas conseguimos tocar o mesmo repertório em qualquer lugar, mesmo sem estar constantemente na mídia. Em média, são cerca de três mil pessoas em cada show nosso. Se for gratuito e ao ar livre, costuma dar umas 10 mil. O número é bom, mas pode melhorar. Estamos na internet, mas quem não busca por música lá não acha a gente. Não tocamos no rádio, nem na novela. Talvez seja uma possibilidade trabalharmos melhor em rádio e televisão”, analisa o artista.
Mesmo com todos os trabalhos disponíveis para download gratuito no site oficial, a banda garante ter conseguido vender nada menos que três milhões de discos e 450 mil DVDs (ambos em formato físico), sendo que apenas 15% por meio da loja virtual. Isso significa que os 85% restantes foram comercializados durante os shows.
“Ao fim de cada apresentação, saímos para tirar foto, conversar com o público. Naturalmente, a gente, às vezes, acaba na rua, batendo papo com as pessoas”, conta Anitelli.
Na opinião dele, não basta colocar tudo de graça na internet. “É preciso um trabalho qualificado”, diz. Foram criadas várias possibilidades de consumo na loja – a música é apenas uma delas. Essas opções vão do disco em envelope de papel (R$ 5) a versões de making of em CD e DVD (R$ 30), passando por capas para celular, mouse pad, caderno, caneta, mochila, roupas e até fronha. Há, ainda, opção em vinil do disco Recombinado atos.
Detalhe: Odácio, pai de Fernando Anitelli, administra esse departamento. “Ele é o Zagalo, o Forrest Gump do Teatro Mágico”, brinca o artista.
Santiago reforça a trupe
Foi por meio de Marcos Portinari, empresário do bandolinista Hamilton de Holanda, que o guitarrista Daniel Santiago (parceiro do instrumentista) chegou ao Teatro Mágico. “Não conhecia o trabalho da banda. Acharam que faria algo mais quebradeira, mas procurei o contrário. O som tinha de ficar mais coeso. Eles nunca tiveram direção musical. Cada um tocava o que queria e, esteticamente, algumas coisas não combinavam. Claro que parte do público ama isso. Tomei muita porrada nos últimos tempos, mas enxugar não é algo negativo. Alguns arranjos atrapalhavam a essência das canções”, explica Santiago.
O início do trabalho foi em 2010. No disco Sociedade do espetáculo, lançado no ano seguinte, foram incluídas três canções escritas em parceria com o guitarrista. O grão do corpo, álbum deste ano, leva a assinatura de Santiago em todas as faixas ao lado de Fernando e Gustavo Anitelli.
“Conseguimos achar uma linguagem comum a todas as canções. Tentamos fazer música pop com muito de rock. Sou fã do Clube da Esquina, algumas pessoas que assistem ao show acham que tem uma linha meio mineira nas músicas. Também gostamos de Coldplay, Radiohead e The Smiths”, conclui.
TEATRO MÁGICO
Sábado, 13 de dezembro, às 23h30 no Music Hall (Avenida do Contorno, 3.239, Santa Efigênia). Pista/inteira: R$ 80 (1º lote), R$ 90 (2º lote) e R$ 100 (3º lote). Camarote/inteira: R$ 90 (1º lote), R$ 100 (2º lote) e R$ 110 (3º lote). Ingressos à venda no site www.ingresso.com.br, na loja Ingresso Rápido (Rua Alagoas, 1.314, loja 27 C, Savassi), Leitura Megastore do BH Shopping, FNAC do BH Shopping e Rosa Mel (Rua Ponte Nova, 875, Colégio Batista). Informações: (31) 3209-8686.