Entrevista// Paulo Xisto
Quando tudo começou, em dezembro de 1984, o que vocês projetavam para a banda? Até onde imaginavam que esta aventura seria capaz de chegar?
Na verdade, era uma aventura mesmo. A pretensão de chegar aonde a gente chegou hoje não existia. A gente era um bando de moleque que queria tocar heavy metal e só. Era uma brincadeira séria. Na medida em que as coisas foram aparecendo, foi se tornando realmente sério. Foi quando a gente viu que tinha aquela luz no fim do túnel. Nosso objetivo era tocar no eixo Rio-São Paulo. Esse foi o primeiro gol que a gente procurou conquistar. Depois, tocar pelo Brasil. Quando a gente viu que tinha certa aceitação fora do país, aí a coisa começou a andar. Aquele respaldo de fanzines na época, receber cartas do exterior, etc., aí a gente viu que tinha possibilidade de sair do país. Assinar com a Roadrunner abriu, definitivamente, as portas. Não só a chance de gravar um disco com uma gravadora de nome internacional, mas ter a oportunidade de fazer uma turnê, só assim a gente viria a conquistar todo esse território e lugares por onde a gente passou até hoje. Isso foi muito importante para o Sepultura.
Como é fazer parte do Sepultura? Ou seja, como se sentem sendo sujeito ativo da história da maior banda brasileira de rock de todos os tempos?
Sou um cara feliz por estar onde estou hoje. Consegui fazer e ainda faço uma coisa o que muita gente gostaria de fazer, que é trabalhar com o que gosta. Até hoje, ainda me dedico apenas ao Sepultura. Apesar dos projetos por fora, a banda sempre foi e é minha prioridade. Quanto à história, o que eu vejo é a molecada me chamando de tio. Aí, percebo que estou ficando velho. Sei que a gente ainda tem um mercado forte. O sentimento é bom. A gente trabalha como se fosse uma banda nova. Às vezes, as turnês são bastante puxadas, sem um dia de folga sequer. A tendência é dar uma diminuída nisso. A demanda física é grande, o corpo vai pedindo um tempinho. O Eloy, de 23 anos, está em outro ritmo. Mas é esse ritmo dele que nos ajuda a ser essa máquina. Ele é fora do comum.
Sei que não é fácil, mas gostaria que escolhesse apenas um ponto que considere o mais alto de toda a trajetória do grupo.
Posso falar de momentos. O primeiro show fora do Brasil foi memorável. O lançamento do Chaos AD quebrou as barreiras. Depois o Roots, né? Mas, acho que o grande momento do Sepultura ainda há de vir. Cada disco é um filho novo, é uma surpresa.
E o mais baixo?
Acho que o que mais chocou e deu um baque geral foi a saída do Max. Foi a coisa mais forte. Perdemos tudo na época. Toda a estrutura, a confiança da gravadora, que sempre achou e acreditou que a banda era um cara só e isso nunca teve no Sepultura. Nunca tentamos trazer um cara para substituir o Max, o Igor, o Jairo ou o Jean. O que a gente sempre quis foi uma pessoa que se encaixasse ao grupo, trouxesse sua personalidade e acrescentasse força à banda. Nunca quisemos algo repetitivo. Apesar de termos nosso estilo, nosso jeito de tocar, a gente sempre procura novos desafios, trazer novos elementos. Nenhum álbum nosso é igual ao outro.
A banda lançou o The mediator em 2013, um verdadeiro petardo que mostra toda a potência de um grupo coeso. O que o futuro ainda reserva ao Sepultura?
A gente ainda está na primeira parte da turnê do Mediator, que ao mesmo tempo caiu nos 30 anos da banda. A partir do ano que vem a gente começa a fazer um repertório mesclando essa história do Sepultura. Temos uma carreira muito bonita, um repertório gigantesco. Dá para fazer três, quatro, cinco setlists diferentes. Vamos tentar buscar homenagear nossa história e compartilhar isso com os fãs.
Nunca paramos. Independentemente do que aconteceu com a banda, não só internamente, mas fora também, o mercado mudou, por exemplo, vivemos uma realidade completamente diferente. Com o surgimento da internet, as coisas mudaram bastante. As vendas de CD caíram. Então, esse lance de a gente estar na estrada é importante. É uma das grandes forças do Sepultura. Estar no palco. Em turnê sempre. No palco, ou você é ou é. É sua prova de fogo. Não tem como você se esconder. E ter o feedback do público é o mais importante.
Você voltar às cidades, ver que o público se renovou. Mas, também, ver as mesmas caras de sempre. A gente vê que a banda mantém os fãs do passado e agrega novos. O pai levando filho, o tio levando o sobrinho. Até um avô levando o neto a gente já viu, em show na Europa. Isso nos motiva a seguir adiante.
Fora isso, temos alguns produtos novos a caminho. A cachaça vai sair no ano que vem, está tudo acertado. Vamos lançar uma cerveja nova, falta apenas definir o rótulo. Vai ser uma bavarian ale.
Queria também fazer um café do Sepultura. Como sou mineiro, o café está sempre comigo, sempre carrego nas turnês. Espero que seja um café do sul de Minas, mas ainda vou fazer contato com o Maurício, responsável pela distribuição dos nossos produtos.