Boladão, pesadão e... romântico! Assim é 'Cores & valores', o aguardado CD de inéditas do Racionais MCs, lançado ontem de madrugada no Google Play, onde álbuns do grupo de rap mais importante do país podem ser comprados a R$ 9,99/unidade até 9 de dezembro. O trabalho chega 12 anos depois do último disco de estúdio do Racionais, 'Nada como um dia após o outro dia'.

Ao contrário das faixas quilométricas dos CDs anteriores, agora o papo – além de reto – é rápido: as 15 músicas se esgotam em 35 minutos. 'Eu te disse tem' 55 segundos; 'Trilha', 25 segundos; 'Preto zica', 2 minutos e 3 segundos; 'Eu compro', 3 minutos e 34 segundos. 'O mau e o bem', com 5 minutos, é a maior. Só para constar: 'Negro drama', clássico do grupo, bate quase nos sete minutos. Opção inteligente, certamente de olho na “garotada touch” desta nossa era veloz.

A surpresa fica por conta de 'Eu te proponho', um rap-balada. Mano Brown, em clima Bonnie and Clyde, “sampleia” verso de Marina para abrir os braços e fazer um país ao lado da amada, solta o “além do horizonte” do Rei Roberto (já homenageado no título) e convida: “Deixa de ser boba e vem”. Mas não se engane: o apaixonado tá de Glock na mão.

Valeu a pena o rapper mais famoso do país levar para o disco do grupo a faceta romântica que tem desenvolvido em seu trabalho solo. Ficou bacana e tem endereço certo: as mulheres, que vêm se aproximando do universo antes machista do rap.

Brown manda bem na autobiográfica 'Quanto vale o show?', single disponibilizado na internet há alguns dias, em que relembra sua adolescência na favela. Por sua vez, Edi Rock brilha na tocante 'O mau e o bem'. Entre espinhos, pânico na Zona Sul e a selva violenta da metrópole, esse letrista excepcional encontra rosas e o céu azul para contar a história de sua vida. Definitivamente, Mano Brown não é o único astro da família Racionais. Ice Blue e suas rimas certeiras revelam o Brasil e a São Paulo chapa-quente. KL Jay está onde sempre esteve: ouvido absoluto das picapes.

Racionais mantém o pulso. 'Cores & valores' é um disco potente, marcado por graves e viradas de tirar o chapéu. Brown, Blue e Edi burilaram a métrica e o flow. Rap cinematográfico, 'A praça' relembra a guerra durante o show do grupo em 2007, durante a Virada Cultural de São Paulo, quando polícia e público se digladiaram. Ouvem-se vozes de jornalistas noticiando o quebra-pau, inclusive a de William Bonner.

'Eu compro' contrapõe a obsessão consumista e miséria – shopping centers, panos de grife, porshes e moleques de pé no chão convivem nas rimas. E Ice Blue denuncia: sempre vão desconfiar do preto quando ele entra numa loja. 'A escolha que eu fiz' é crônica do “vida loka” contemporâneo, ferrado e à beira do linchamento. “Se o Datena filmar/ E a minha estrela brilhar/ Eu morro feliz”, conforma-se ele.

Sexta-feira, o grupo desembarca em BH. Inicialmente marcado para o Galopeira, o show foi transferido para o Music Hall. Produtores explicaram que a casa do Bairro Santa Efigênia pode receber a garotada de 16 anos interessada em ver o Racionais. Assessores afirmam que o novo repertório vai ficar para o espetáculo de 20 de dezembro, em São Paulo, que marcará o lançamento de 'Cores & valores' e terá Negra Li como convidada.

Cá pra nós: se os mineiros fizerem barulho para valer, quem sabe Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay não voltam a mostrar, ao vivo, por que ainda são os quatro pretos mais perigosos do Brasil? Quem for ao Music Hall verá.