Musica

Padres cantores contam como resistem à crise na indústria

Alessandro Campos e Marcelo Rossi são fenômenos de vendas, já ultrapassando marcas de artistas como Roberto Carlos

Rebeca Oliveira

Em 2013, Padre Marcelo Rossi foi o cantor que mais vendeu discos no país, desbancando Roberto Carlos  ()
Em 2013, Padre Marcelo Rossi foi o cantor que mais vendeu discos no país, desbancando Roberto Carlos ()
Chapéu de cowboy, botas de couro e calça justa. O visual é comum a cantores de música sertaneja. O personagem em questão, no entanto, é o padre Alessandro Campos. O berrante na mão e as roupas chamativas foram a maneira encontrada pelo religioso de externar a preferência pelo estilo que admira desde pequeno, quando ouvia bolachões de Chico Rey & Paraná com os avós.


Nascido no interior paulista, Alessandro tornou-se padre em Brasília e atuou por oito anos na Diocese Militar da cidade. No mês passado, ele foi transferido para São Paulo, mas foi na capital onde decidiu: seria um padre diferente e revolucionaria a maneira como as pessoas enxergavam o clero. “Estava cansado de ver missas monótonas e cansativas. Queria que a minha fosse animada”, recorda-se.

A alegria na condução das missas somada à interpretação própria de clássicos da música sertaneja, como 'No dia em que saí de casa', conhecida na voz da dupla Zezé di Camargo & Luciano, lhe rendeu prósperos frutos. Hoje, conhecido como o padre sertanejo ou padre cowboy, Campos lançou dois discos, 'O homem decepciona, Jesus Cristo jamais' e 'O que é que eu sou sem Jesus? —Nada, nada, nada' que, juntos, venderam quase um milhão de cópias, um desafio ao mercado fonográfico em declínio constante.

Padre Alessandro Campos
Padre Alessandro Campos
“Hoje, o CD tornou-se um produto quase descartável, um cartão de visita. Em grandes shows, muitos artistas os distribuem como uma forma de divulgação. Vender quase 1 milhão de discos foi inacreditável. O mercado nos surpreendeu. É uma certeza de que estou no caminho certo”, comemora o padre paulista, que tem eterna gratidão ao público brasiliense. “Foi aqui que desenvolvi essa ‘fórmula’, que, graças a Deus, tem feito tanto sucesso.”

Questão de fé

Em uma época em que a venda de discos encontra-se em queda exponencial — no ano passado, a retração foi de 15,5% em relação a 2012, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Disco —, Alessandro Campos segue os passos de outros padres cantores, como Zezinho, Marcelo Rossi e Fábio de Mello. Não há crise neste segmento — os padres trilham o caminho inverso.

Campeão de vendas de mídias físicas no ano passado, desbancando nomes como Anitta e Roberto Carlos, o padre Marcelo Rossi diz não se sentir pressionado a manter o bom número de vendas quando lança um novo projeto. “O zelo missionário nunca se apaga, a cada dia eu me renovo para ousar mais. Eu vivo um dia de cada vez , nunca parei para pensar na pressão”, afirmou.

Ele garante que não se preocupa com a quantidade de discos ou exemplares vendidos. O padre também promove um verdadeiro “milagre” editorial — os livro Kairós e Ágape venderam juntos, mais de 10 milhões de exemplares.

Depois de tornar público problemas como depressão e distúrbios alimentares, o padre decidiu, este ano, mudar a forma como fazia música. Em seu mais recente álbum, 'O tempo de Deus', lançado em outubro, pela primeira vez abriu mão do coro que o acompanhava, além de compor todas as músicas do disco. Segundo ele, um motivo especial explica essa decisão. “As minhas orações e a composição das músicas para este disco é que me ajudaram a vencer a depressão. Compor era uma forma de me libertar da doença”, confessa o Padre, que, em outras entrevistas, afirmou que, por um longo período, se alimentou apenas de alface e hambúrguer.

Ele também resolveu oferecer 'O tempo de Deus' a um valor mais baixo, com preço fixo de R$ 10, abrindo mão dos direitos autorais. “Queria que o disco chegasse a um preço módico para as pessoas. Conseguimos. Foi uma luta, mas eu venci. Quando você não está preso ao dinheiro, é mais fácil”, avalia.