Musica

Filarmônica de Minas Gerais ganha casa própria em 2015

Sala Minas Gerais será inaugurada em fevereiro

Agência Estado

Projeção da fachada da Sala Minas Gerais
Do lado de fora, um guindaste se prepara para um dos momentos mais delicados da obra: a instalação da enorme pérgula que vai cobrir o prédio; do lado de dentro, um tapume de madeira deixa entrever um auditório ainda todo de concreto, com um palco ao fundo - e, sobre ele, estruturas metálicas preparam-se para ser içadas ao teto, onde darão suporte a uma série de placas de madeira. Assim, ainda povoada por centenas de operários, começa a tomar forma a Sala Minas Gerais, novo palco de concertos da capital mineira, que será inaugurado em fevereiro e, a partir do ano que vem, vai ser sede da temporada da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.


Criada em 2007, a orquestra, em pouco tempo, passou a brigar pela posição de segundo grupo sinfônico mais importante do país e, até este ano, ensaiava e se apresentava no Palácio das Artes. A ideia de uma sala própria é antiga - mas começou a tomar forma há quase dois anos, com o lançamento, em março de 2013, da pedra fundamental do projeto, que ocupa uma área de 12 mil m² no bairro do Barro Preto (além da sala, de 8 mil m², o complexo cultural vai abrigar um restaurante, em um prédio dos anos 1920 restaurado, e a sede de Rede Minas).

A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo teve acesso exclusivo às obras na semana passada. O projeto, orçado em R$ 140 milhões, tem assinatura da arquiteta Jô Vasconcellos e prevê do lado dentro, toda a sede administrativa da filarmônica, além de salas de ensaio e espaços para arquivo e exposições. Do lado de fora, criou-se uma área de convivência. "Isso é uma resposta à demanda da região, que não tem centros culturais. E, claro, uma vez que consigamos atrair as pessoas para este espaço, será desafio da orquestra levá-las também para os concertos. Alguns estudos indicam que, por dia, passam por esta região 360 mil pessoas", explica Jaqueline Ferreira, diretora de Comunicação da filarmônica. "A nossa percepção é de que ter uma sede própria vai nos permitir tentar novas formas de aproximação com o público."

A nova sala também levará a novos desafios artísticos - que devem ser sentidos já a partir do próximo ano. De cara, vai permitir um aumento de mais de 100% no número de concertos - serão 57 ao todo, com duas séries de assinaturas, às quintas e sextas, e uma nova programação aos sábados. Nela, serão apresentadas, ao longo do ano, peças de Beethoven - as nove sinfonias e os cinco concertos para piano e orquestra, por exemplo. "A sala nos oferece a possibilidade de fazer algo que eu venho adiando, que é o aprimoramento técnico do conjunto. Conquistamos muito em pouco tempo. Mas há detalhes, aspectos da sonoridade, que você só consegue trabalhar de verdade quando pode ensaiar e tocar na mesma sala, com regularidade", explica o maestro Fábio Mechetti, regente titular e diretor artístico da filarmônica. "O repertório clássico, do qual faz parte Beethoven é ideal para esse trabalho mais técnico e também vamos testar o sábado como dia de concertos em Belo Horizonte."

"Testar" será a palavra-chave no ano que vem. A escolha de repertório dos concertos de assinatura, por exemplo, mantém marcas dos anos anteriores, como solistas de peso (como Nelson Freire, Antonio Meneses, Arnaldo Cohen e Benedetto Lupo), maestros convidados ou estreias de autores brasileiros (serão cinco ao todo). Mas o repertório foi pensado de forma a testar a acústica da sala, projetada por José Augusto Nepomuceno, responsável pelo mesmo trabalho na Sala São Paulo e que recria em Minas a ideia das placas móveis que, no teto, se adaptam às necessidades de cada peça. "Temos que testar e afinar a sala e por isso pensamos, em conjunto com ele, em programar peças as mais diversificadas possíveis", diz Mechetti. "Por isso, vamos fazer desde obras grandiosas, como a Sinfonia nº 2 de Mahler, até outras menores, com um outro tipo de sonoridade."