A produção coube a um conterrâneo da Cachorro, Edu K., líder do De Falla. “A grande diferença deste para os outros discos é que antes a gente ensaiava muito antes de entrar em estúdio. Uma vez lá, simplesmente nos concentrávamos em executar da melhor forma, pois os arranjos já estavam definidos. Agora foi o contrário. Criamos o disco no estúdio, deixamos toda a loucura acontecer lá. Foi arriscado, mas demos sorte de Edu peitar a nossa loucura”, conta Beto Bruno.
Diante disso, o experimentalismo comeu solto. Não havia amarras, pois esse é o primeiro álbum independente da banda. “Cachorro não paga as contas. Nesse tempo todo (o álbum de estreia é de 2001), nunca tiramos férias da estrada. Continuamos porque é o que amamos fazer”, acrescenta o vocalista. Com tempo e estúdio, o grupo gastou um mês para as gravações, menos do que esperava. “Ninguém saiu de cima um momento sequer. Enquanto um ia dormir, os outros estavam no estúdio. A certa hora, pensei que iria criar raízes”, diz Beto.
PÁSSAROS Costa do Marfim traz 11 faixas. É aberto com a canção homônima, uma vinheta que busca contextualizar o trabalho em meio a percussões, cantos africanos, barulho de mar e pássaros. Pura ironia, porque daí para diante é puro rock and roll. Nós vamos fazer você se ligar, a segunda faixa, chega batendo o pé na porta. Com quase 11 minutos – um recorde para a banda, que até então não saía do formato três, quatro minutos –, é a verdadeira carta de intenções do disco: cheia de efeitos, muita psicodelia e um refrão forte, ela prepara o terreno.
Nuvens de fumaça, a terceira canção, é puro Cachorro Grande: direta, certeira e boa para cantar e dançar. O mesmo clima vem em seguida, com Eu não vou mudar. Crispian Mills aposta no sitar indiano numa das faixas mais melodiosas do CD, enquanto Use o assento para flutuar é um rock eletrônico feito para pista. Como era bom, logo em seguida, quebra esse clima, com início quase folk, para injetar uma dose de romantismo no disco.
A eletrônica volta a dar as caras, só que de maneira diversa, em Torpor partes 2 e 5, relato de uma viagem alucinada de Beto Bruno. A história teria se passado em Uberlândia, nos anos 1990. Ao longo de oito minutos, ele conta o ocorrido com voz cavernosa, bem diferente de seu tom habitual. “Esse disco deu uma crescida na banda, tanto que estamos confiantes no que pode acontecer”, diz Beto Bruno. Para quem acompanha a carreira da Cachorro Grande, não resta dúvida: a banda vem fazendo a sua parte para que isso ocorra.
Banda gaúcha Cachorro Grande lança Costa do Marfim, CD em 'homenagem' ao calor africano
Produzidas por Edu K., faixas apostam no experimentalismo e no rock - tudo criado no estúdio
Nada como uma banda de rock com muito bom humor. Na primeira semana de gravação de seu novo álbum, a gaúcha Cachorro Grande passou o diabo com as altas temperaturas de São Paulo, onde está radicada, conta o vocalista Beto Bruno. “Alguém chegou brincando: com aquele calor, a gente poderia gravar numa praia da Costa do Marfim.” A história cresceu assim que chegou à internet, pois um dos integrantes do quinteto postou que o grupo estava gravando no país africano. Beto Bruno chegou a receber um telefonema da mãe perguntando se ele estava mesmo lá. Não deu outra: a banda decidiu que o sétimo álbum, gravado inteiramente na paulistana Rua Augusta, se chamaria Costa da Marfim.