Ao longo dos anos, ele lançou obras-primas do pop, mas igualmente trabalhos descartados pelo público e considerados irrelevantes. 'Art official age' e 'PlectrumElectrum' lançados simultaneamente, semana passada, mostram que o cantor e guitarrista reatou a relação com a crítica especializada. Os dois trabalhos são resultado de um infindável processo de transformação, repletos de erros e acertos. Depois de 10 anos longe das paradas de sucesso, Prince voltou a acertar.
Reconciliações
'Art official age' e 'PlectrumElectrum' marcam o retorno do artista à gravadora Warner, depois de 18 anos longe da casa. Uma grande ironia, já que Prince declarou o descontentamento com a Warner, nos anos 1990, e chegou a culpar a empresa por alguns fracassos comerciais. Na época, Prince surgiu em público com a palavra slave (escravo, em inglês) escrita no rosto, de forma a criticar o tratamento sob o qual era supostamente submetido pela empresa.
Aparentemente, a mágoa foi superada. E a criatividade voltou a aflorar. “Finalmente, fiz algo coeso”, comentou o próprio Prince, em entrevista à imprensa inglesa. Enquanto 'Art official age' favorece o trabalho solo do artista e abusa da black music, 'PlectrumElectrum' registra a parceria com a banda feminina de rock 3rd Eye Girl, com a qual vem excursionando.
“'Art official age' legitima o melhor da produção sonora dos estúdios atuais e 'PlectrumElectrum' retoma a sonoridade vintage de um vigoroso trio de rock”, elogia a crítica do The New York Times. Os relatos na imprensa americana e mundial foram parecidos. “Se você estiver à procura de uma curtição sem fim, o novo trabalho de Prince é sua porta de entrada”, diz o Los Angeles Times. O inglês The Telegraph comparou os lançamentos: “Se Art official age é uma reafirmação suculenta do melhor do lado pop de Prince, Plectrum Electrum representa uma abordagem ainda mais intrigante”.
Para o público fiel, que acompanha de perto as andanças do cantor, os lançamentos atuais, de forma alguma, devem ser tratados como algum tipo de “retorno”. Embora o músico tenha sido tratado como se estivesse no ostracismo, Prince nunca deixou de produzir.
A repercussão dos últimos trabalhos, no entanto, foi praticamente nula. As paradas de sucesso não listam o cantor desde o álbum 'Musicology', de 2004, quando ele voltou a ter a atenção do mercado. Desde lá, lançou outros quatro álbuns, que não causaram maiores comoções. Art official age e PlectrumElectrum aparecem para quebrar esse hiato.
Com quase 40 anos de carreira, Prince é uma mutação constante. Adotou um símbolo impronunciável como nome, converteu-se Testemunha de Jeová, flertou com os mais diferentes gêneros. Agora, retorna às origens e resgata as sonoridades e os elementos que o tornaram um dos mais inventivos artistas contemporâneos. Justamente, às vésperas de comemoração dos 30 anos de 'Purple rain'. Prince resiste.