“Esse é um disco de canção brasileira, sobretudo em sua poética, com elementos característicos da música mineira. Desde 2009, quando me mudei para o campo, passei a valorizar mais o silêncio, o vazio, o simples, o lúdico. Junto disso, tem o trabalho que faço com mantras indianos, paralelamente ao da música brasileira, que também traz esses valores para a minha compreensão atual da música. Daí o disco ter esse tom intimista, esse toque minimalista, com aquele menos que, hoje, para mim significa mais”, diz ele.
O artista considera o novo disco “irmão mais novo” de 'Rosas para João', trabalho que lançou em 2008 com a mulher, em homenagem ao centenário de Guimarães Rosa. “Esse álbum mais antigo me marcou profundamente e acho que o contato com a obra de Rosa fez despertar algo singular em meu trabalho, capaz mesmo de suscitar esse novo rebento”, afirma. Não por acaso, está lá uma canção chamada 'Encantado João'.
As músicas dessa última leva começaram a ser escritas de cinco anos para cá. Inspiraram Motha não apenas versos de Rosa, mas também Carlos Drumond de Andrade e Manoel de Barros. “As letras, feitas de poesia, falam sobre a infância, o romance, a nossa relação com a vida natural e os planos mais sutis. De maneira geral, é um disco sobre uma forma mais humanizada e harmoniosa de estar no mundo”, conta.
Pássaros Já a sonoridade, totalmente acústica, privilegiou o registro mais espontâneo e as referências à natureza, conta: “Gravei simultaneamente voz e violão, para que as músicas soassem naturais, tipo cara lavada, sem aquela maquiagem costumeira das gravações de estúdio. Para compor a ambientação, gravamos os sons das águas, dos pássaros, do vento soprando as folhas, trazendo uma sonoridade que nos remete à música das florestas”.
As montagens com sons da mata foram feitas pelo próprio artista, que utilizou material gravado em Casa Branca. Em algumas músicas, ele tocou, além de violão, vibrafone, instrumento que ficou sob responsabilidade do percussionista Edson Fernando na maioria das faixas. Patrícia Lobato canta em 'No rabo do vento', 'Encantado João', 'No tempo de Ana' e 'Miudinho', além de tocar ganzá. “Ela muito talento e está sempre me inspirando e motivando a produzir mais, além de ser minha musa em várias canções”, elogia.