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As inovações estéticas e artísticas que propunha foram, gradativamente, enjoando o público. Em seis anos, a excentricidade deu lugar à esquisitice, que, por sua vez, abriu caminho para os ataques aos religiosos até culminarem em uma performance com direito a vômito inserido no discurso de arte que apenas ela e sua equipe compreendiam.
Nesse ponto, Lady Gaga já não era mais interessante ao público. A cantora, então no status de diva pop com uma legião de fãs ardorosos, viu a própria equipe criativa se desfazer e as vendas dos discos despencarem com a carreira que lhe parecia sólida. Ela própria assume que a colocaram em um patamar onde não estava. O tão estimado 'Artpop', lançado no fim de 2013, foi um completo fracasso de vendas e quebrou de vez o império da cantora.
Mas, há uma semana, Gaga pôde, enfim, ter um suspiro de esperança para a carreira. Talvez a última cartada dela para não ser, definitivamente, engolida pela indústria a qual se submeteu, o álbum 'Cheek to cheek', em parceria com o veterano Tony Bennett, vem agradando ao público e à crítica. Em cinco dias, o disco que revisita clássicos do jazz alcançou o primeiro lugar no ranking mundial de lançamentos do iTunes, serviço de vendas on-line da Apple. A previsão inicial é de que 125 mil cópias sejam vendidas até o fim desse primeiro período.
Refúgio
A relação de Gaga com Bennett começou em 2011, quando se conheceram em um show e ele a convidou para participar do álbum 'Duets II', que venceu um Grammy no ano seguinte. Não demorou muito para que os dois nova-iorquinos descendentes de italianos discutissem um trabalho maior. Em meio a toda crise na qual estava no pop, Gaga encontrou no jazz e no apadrinhamento de Bennett o refúgio para trabalhar um passo perigoso.
Ela agora se arrisca em um mercado que não está nos holofotes como o pop, mas que possui uma força interna muito considerável e já foi dominado por grandes nomes, como Billie Holliday, Ella Fitzgerald e Nina Simone. São nichos diferentes e houve inclusive a preocupação de Bennett por ela ser uma “ótima performer”.
O jazz lida com um público mais seleto, que não é adepto das extravagâncias conhecidas da cantora. E ela sabe muito bem disso, já que se inseriu no gênero ainda aos 13 anos, quando estudava voz clássica. Tony Bennett, por sua vez, tem carreira consagrada e sólida, maior ainda do que os 60 anos que os separam em idade. Ele nunca precisou mudar de estilo.
Então, o que ela teria a ganhar com essa mudança de rumo? Ainda é um tiro no escuro, mas as primeiras apresentações mostram uma Lady Gaga desprendida do aparato impressionista do mercado pop e muito mais consciente para tentar algo concreto, mesmo afunilando seu público. “Agora, eu só quero ser feliz e eu sou feliz cantando esse tipo de música. É minha raiz”, declarou a cantora a um programa da tevê norte-americana.
No fim das contas, Bennett significa para Gaga o que Frank Sinatra foi para ele, quando o classificou como o melhor do mercado ainda no início da carreira: um divisor de águas. Com ele deu certo. Já com Lady Gaga, só o tempo dirá.