Musica

Disco 'Abbey Road', dos Beatles, completa 45 anos de sucesso

Último disco gravado pelo quarteto de Liverpool ainda é um dos mais aclamados da banda

Gabriel de Sá

A cada lançamento, uma revolução. Foi assim entre 1963 e 1969, período em que os Beatles produziram uma dúzia de álbuns em estúdio e mudaram para sempre a história da música. O fim se aproximava, todos sabiam, e era preciso encerrar a trajetória do quarteto de forma avassaladora. Em 26 de setembro de 1969, chegava às lojas do Reino Unido aquele que é o disco predileto de boa parte dos beatlemaníacos: 'Abbey Road', o último gravado pelo Quarteto de Liverpool.


O Fab Four ainda teve um álbum lançado depois — 'Let it be', em maio de 1970 —, mas Abbey Road marca definitivamente o encerramento das atividades da maior banda de rock de todos os tempos. Obra-prima produzida por George Martin, o “quinto Beatle”, o álbum revela o auge do entrosamento musical entre John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr , mas a relação pessoal entre eles já estava para lá de desgastada.

“Havia o casamento de John com Yoko, que não era uma questão muito bem aceita, já que diziam que ele a estava puxando muito pra dentro do grupo. E Paul queria liderar muito também. Talvez isso tudo tenha começado quando o (empresário) Brian Epstein morreu (1967): faltava esse elemento conciliador. Eles não eram bons empresários de si mesmos”, detalha o músico Regis Damasceno, que estuda a trajetória da banda. “Esse disco marca não só o fim da carreira deles, mas também encerra a década de 1960.”

George Harrison emplacou duas canções, uma de cada lado do disco, e pode-se se dizer que ele é o responsável por dois dos maiores sucessos de 'Abbey Road', e também da carreira dos Beatles: 'Something' e 'Here comes the sun'. Ao longo da trajetória do grupo, Harrison havia conseguido furar o monopólio de composições da dupla Lennon/McCartney por apenas 15 vezes. Nenhuma no nível das duas incluídas em Abbey Road, que não deixaram dúvidas sobre o criador genial que o guitarrista também era.

Até mesmo Ringo foi contemplado: sua 'Octopus's garden' foi registrada no lado A do disco e cantada por ele. Da dupla de protagonistas, canções como 'Come together', 'Oh! darling' e 'Because' ajudaram a tornar Abbey Road um clássico instantâneo e perene. “Eles estavam num período de muita produção musical individual, prova disso é que tiveram que apertar bastante para caber tudo naquele lado B sensacional”, lembra o pesquisador musical Marcelo Fróes. “Para mim, é melhor que o 'Sgt. Pepper’s'”, diz. Este álbum, de 1967, foi considerado pela revista Rolling Stone como o melhor disco de todos os tempos. 'Abbey Road' aparece na 14ª posição na lista.

Mais vendido

'Abbey Road' estreou no primeiro lugar das paradas britânica e americana e é, até hoje, o álbum mais vendido da carreira dos Beatles. A gravação de 'Let it be' (que se chamaria 'Get back', originalmente), apenas semanas antes, foi bastante conflituosa. A ideia era de que o registro do último trabalho fosse mais harmônico, da maneira como fizeram nos primeiros trabalhos. Claro que nem todas as divergências conseguiram ser sanadas. John Lennon, por exemplo, não participou de quatro faixas de 'Abbey Road'. O marido de Yoko Ono também sugeriu que suas canções ficassem de um lado do disco, enquanto as de Paul ocupassem a outra metade. Não foi atendido.

Macca queria, e conseguiu, a exemplo da experiência bem-sucedida em 'Sgt. Pepper’s…', fazer um medley de canções aparentemente sem conexão. A sequência, de 16 minutos, está no lado B de 'Abbey Road' e foi chamada por John Lennon, certa vez, de “lixo”. Ainda havia dúvidas se aquele seria realmente o último disco de estúdio dos Beatles. Mas em 20 de agosto daquele ano foi o derradeiro a ter os quatro reunidos para uma gravação. Os anos seguintes trouxeram carreiras solos brilhantes, brigas públicas e a maturação de uma obra que continua imbatível.

Fotógrafo Iain Macmillan teve apenas 10 minutos para fotografar os Beatles para a capa de 'Abbey Road'
Um disco clássico


Acreditou-se por um tempo que Paul McCartney teria morrido em um acidente automobilístico em 1966 e que fora substituído por um sósia idêntico e igualmente virtuoso. A história, sem pé nem cabeça para a maioria dos beatlemaníacos, foi endossada por uma série de pistas deixadas, propositalmente ou não, na capa de 'Abbey Road'. Na famosa imagem em que o quarteto atravessa a faixa de pedestres, Paul, de olhos fechados, é o único descalço (como costuma-se enterrar os mortos em algumas localidades), está com o passo trocado em relação aos colegas, tem um cigarro à mão e um carro, bem ao fundo da foto, vem em sua direção.

John Lennon, de branco, vem à frente dos colegas e estaria representando um médico segundo a teoria da conspiração. Ringo Starr, logo depois, veste preto, como um sacerdote. Paul é o terceiro e George Harrison vem atrás, trajando vestes comuns, o que poderia colocá-lo no papel de um coveiro. Há outros supostos indícios, mas Paul, aos 72 anos, está mais vivo do que nunca. O resto é especulação.

Na verdade, a versão oficial dá conta de que a foto para a capa foi feita de forma despretensiosa. “Paul teve a ideia. Fizeram assim que terminaram as gravações, na pressa mesmo. Batizaram o disco com o nome do estúdio, que era também o mesmo nome da rua”, conta Marcelo Fróes. Regis Damasceno confirma. “Eles não estavam a fim de ter tanto trabalho com a capa como tiveram, por exemplo, com 'Sgt. Pepper’s…', em que há toda uma concepção artística. Estavam em outro momento”, observa. “Eles trabalharam muito nesse estúdio, foi uma maneira bonita de encerrar.”

A tal foto da capa é hoje uma das imagens mais emblemáticas quando se fala em Beatles. A imagem foi feita por Iain Macmillan em 8 de agosto de 1969. Foram seis cliques tirados enquanto o quarteto atravessava a rua, no bairro londrino de St. John Woods, às 11h30, com a ajuda de um guarda de trânsito. Paul McCartney escolheu a quinta pose do miniensaio. O local, hoje, é ponto de peregrinação dos beatlemaníacos.