“Fiquei pensando nos mesmos temas do meu disco anterior e em outras formações. Meu show foi ganhando músicas cantadas, temas instrumentais que remodelei e outras composições novas. O novo trabalho é praticamente autobiográfico. Tem um lado que é bem puxado para o regional e outro que é mais baixo, bateria e piano, mais Rio de Janeiro”, define Alem. Nascido em Franca, no interior de São Paulo, foi criado na cidade mineira de Ouro Fino e, atualmente, mora na capital fluminense.
Gravado no Rio de Janeiro, em fevereiro, o disco conta com 13 faixas e foi quase todo arranjado pelo próprio músico. Em estúdio, contou com João Carlos Coutinho (piano), Reginaldo Vargas (percussão), Bruno Aguilar (baixo acústico) e João Bustamante (violoncelo) – os dois primeiros também tocavam com Maria Bethânia. Participações adicionais ficaram por conta de músicos como Gabriel Grossi (gaita), Jurim Moreira (bateria) e Marcelo Caldi (acordeom).
As músicas são predominantemente dele, como Meu relicário, Simplicidade, Guiguita e Sua presença querida, e há parcerias com Sergio Natureza (Bondeando) e o irmão João Marcos (Elo partido). A única faixa que não leva a assinatura dele é o pot-pourri nordestino de Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e Baião da Penha (David Nasser e Guido de Morais), interpretado pela Orquestra de Solistas do Rio de Janeiro, ao lado do acordeonista Marcelo Caldi e do saxofonista Levy Chaves.
Milton Alem se divide entre o violão e a viola. “Por muito tempo, fui violonista e guitarrista. Depois, arranjador. Redescobri a viola e isso foi muito importante para a música que faço hoje. Tenho muito prazer em tocar, descubro coisas e componho para ela. É uma forma diferente de compor. Encontrei outras formações de acordes e exploro muito os seus harmônicos. A gente fica empolgado. Fora a sonoridade, que é encantadora e representa o vínculo com a música cabocla, popular”, observa.
Entre as influências que lhe vêm à cabeça quando pensa no ofício de compositor, cita primeiro Milton Nascimento e, depois, Edu Lobo. “Quando comecei a fazer música, fiquei louco por Morro velho”, conta. Entretanto, a satisfação por compor da forma que quer é acompanhada por certa melancolia: “Faço um tipo de música fora do modelo que está no rádio e televisão. Sinto-me um pouco peixe fora d’água em termos de mídia. Acredito que minha música se tornou um pouco difícil”.