“Estávamos em algum lugar perto de Barstow, à beira do deserto, quando as drogas começaram a fazer efeito. Lembro que falei algo como ‘estou meio tonto; acho melhor você dirigir’. E, de repente, fomos cercados por um rugido terrível, e o céu se encheu de algo que parecia morcegos imensos descendo, guinchando e mergulhando ao redor do carro, que avançava até Las Vegas a uns 160 por hora, com a capota abaixada.” Dessa maneira, o jornalista e escritor Hunter S. Thompson (1937-2005) inicia sua tresloucada busca pelo sonho americano movida a álcool, maconha, LSD, mescalina e todos os tipos de drogas possíveis naquele início da década de 1970. Medo e delírio em Las Vegas, protagonizado por seu alter ego Raoul Duke, é um clássico do jornalismo gonzo, do qual Thompson foi criador.
Influente ainda hoje, o relato acabou se tornando a referência da banda Panic! at the Disco (PATD). De uma forma muito mais bem-comportada e formatada para atingir grandes públicos, o grupo de pop-punk dá sua versão de Las Vegas em Too weird to live, too rare to die! (algo como Muito estranho para viver, muito incomum para morrer), seu quarto álbum de estúdio.
CIRCUITO Lançado no ano passado, o trabalho é a base dos shows que a banda, criada há 10 anos em Vegas, faz no Circuito Banco do Brasil. Em sua segunda edição, o evento será realizado entre outubro e novembro em Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. A abertura será na capital mineira, em 18 de outubro, na Esplanada do Mineirão. Além do Panic!, apresentam-se Linkin Park, Titãs e Nação Zumbi.
Só mesmo saindo de Vegas para cantá-la em verso e prosa. Vocalista e guitarrista do Panic! at the Disco, Brendon Urie vive há seis anos em Los Angeles. É onde estão os estúdios e boa parte dos músicos com quem se relaciona. “Além do mais, Vegas é muito próxima. São apenas quatro horas na estrada”, comenta ele, que retorna ao Brasil com sua banda depois de uma única passagem pelo país, em novembro de 2009. Desde então, o grupo formado por amigos de colégio se tornou grande para o público jovem. Com aparições sempre teatrais e sonoridade que mistura sintetizadores oitentistas, muitos efeitos e guitarras voltadas para a pista, o PATD tem forte vocação pop.
DESAMORES A terra natal que divide com bandas ainda maiores do que ela – como The Killers e Imagine Dragons – aparece nas canções Vegas lights e Far too young to die. Mas é a velha história de amores e desamores que forja a base do repertório, caso de Nicotine, Girl that you love e Girls/girls/boys. Para Urie, nascer e ser criado na cidade que nunca dorme tem suas especificidades.
“As pessoas acham que lá só tem um monte de gente atrás de loucuras, pois é um lugar que vive para festas. Você realmente pode fazer o que quiser, seja a ideia que tiver. Mas há um outro lado de Vegas, só quem é de lá sabe. Conheço o Dan (Reynolds, vocalista do Imagine Dragons) desde muito novo, pois nossas mães frequentavam a mesma igreja. Não é só festa”, diz Urie.
Cria da internet – que Urie defende principalmente por causa das redes sociais, que o aproximam de outros músicos e de seu próprio público –, o PATD vai apresentar no Brasil repertório que, além de enfatizar o novo trabalho, lembrará as canções do início da carreira, como The ballad of Mona Lisa, New perspective e Ready to go (Get me out of my mind).
A lembrança mais marcante que o vocalista teve da passagem pelo país foi a recepção para lá de calorosa dos fãs. “Ouvi algumas bandas locais de reggae e rock pesado, gêneros de que gosto muito”, conta ele. Por aqui, no intervalo dos dois shows que fará em dias seguidos – o evento em Brasília será em 19 de outubro –, Brendon Urie só quer saber de “provar boa comida e álcool”.