Na contramão do mercado, DJ Anderson Noise aposenta discos de vinil

O material, usado ao longo de 18 anos, ocupa duas paredes do apartamento do músico, que considera a logística complicada, e por isso, prefere usar CDs

por Mariana Peixoto 24/08/2014 00:13

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Paulinha Vilarino/Divulgação
(foto: Paulinha Vilarino/Divulgação)

“Vinil virou decoração.” A frase ganha um efeito maior porque vem de um produtor e DJ que fez carreira com a colaboração indispensável do bolachão. Mais importante DJ de Minas e um dos maiores do Brasil, Anderson Noise tem 26 anos atrás de uma picape. Pois desde 2006, ele afirma, não compra nenhum disco de vinil. Suas discotecagens desde aquela época também são realizadas com CD. “O vinil não me satisfaz mais. A logística é complicada, pois você tem que levar uma case grande. E chega em clubes e festas que só têm Technics (marca de picapes mais usadas por DJs profissionais) caindo aos pedaços. Ou seja, não dá para fazer uma performance legal.”

Os vinis, todos de música eletrônica, que reuniu ao longo de 18 anos estão em estantes que ocupam duas paredes de seu apartamento. Ele guarda ainda caixas e mais caixas em Londres. Um dos destaques da sala são dois toca-discos Technics produzidos em edição limitada e banhados a ouro. “Já me ofereceram até R$ 15 mil pelo par”, conta Noise. Por ora, ele nem pensa em vender. As viagens constantes que ele faz ao redor do mundo já lhe custaram bons exemplares de vinis. Uma companhia aérea espanhola perdeu uma case de que ele nunca mais teve notícias. “Já fiz apresentações malucas, tocando sexta em Madri e sábado em Campo Grande. Não é normal virar a noite, entrar num avião e descer em outro país. Sofri demais com a bagagem”, admite.

E não somente isso. Para Noise, a performance de um DJ não muda em nada ao utilizar um CD. “Faço scratch ainda melhor com os equipamentos que existem hoje. O vinil te deixa limitado. Já o CD permite milhões de possibilidades a mais, você pode usar muitos efeitos diferentes.” Seu próprio selo, a Noise Music, também parou de produzir vinis – dos 63 lançamentos, ele só fez edições no bolachão até o número 23. E para quem pretende investir no equipamento, Noise dá a dica: “Um leigo deveria comprar um toca-discos que tem saída para USB, que é mais interessante. Você pega o vinil e pode colocar a música no seu computador. Ou seja, o equipamento, além de tocar, também grava música.”

Consulta e audição Neófitos no vinil têm um endereço obrigatório para iniciar sua pesquisa em novos e velhos sons. Projeto criado por Edu Pampani há nove anos, a Discoteca Pública traz um acervo de 15 mil títulos de música brasileira, material disponível para consulta, gravação e audição. Há dois meses ocupando uma loja no Mercado do Cruzeiro, a Discoteca Pública também tem uma loja (com vinis e CDs, novos e usados). E duas vezes por mês ainda promove uma feira de vinis – no segundo sábado de cada mês na Galeria Inconfidentes, na Savassi e no terceiro sábado no Mercado do Cruzeiro – onde também se encontram toca-discos.

“De 2010 para cá, deu para perceber que a procura por vinis chegou a pessoas mais jovens. E não é por saudosismo, mas geralmente são pessoas que herdam discos dos pais e avós e com o tempo começaram a pegar o gosto pelo vinil”, diz Pampani. Por dia, circulam em média 70 pessoas no espaço do mercado. “Filhos, sobrinhos e netos de compositores que já morreram estão começando a resgatar a memória do artista. Geralmente, são nomes que gravaram um só compacto, então, como a família não guardou nada, eles vêm aqui para escutar e gravar. Não fico só atrás dos medalhões”, diz Pampani. Na internet, ele ainda oferece o mapa da mina. No endereço discotecapublica.blogspot.com.br, encontra-se uma seleção de sebos, lojas de discos e de equipamentos de BH, dicas de como cuidar dos discos e o acervo de títulos que compõem o projeto.

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