“É muito interessante ouvir músicas dos Beatles, que só conhecemos com eles e bandas cover, tocadas de outro jeito”, observa Arthur Andrés, lembrando que o repertório do show já está em disco. Releituras saborosas, que reinventam melodias e harmonias, dando a composições ar futurista ou primal, especialidade do Uakti. Já tocaram Villa-Lobos, Vivaldi, Mozart, Debussy e também Tom Jobim, Elomar, Milton Nascimento. “São momentos de aproximação com as pessoas, com uma visão diferente de músicas pelas quais elas têm afeto”, observa.
A magia da música dos Beatles tem explicação: “É essencialmente a opção pelo simples, e é isso que mais toca as pessoas”, observa Arthur Andrés, para quem os compositores têm extremo bom gosto melódico e harmônico. São músicas interpretadas com jogos vocais. E há os arranjos do quinto Beatle, o arranjador e produtor George Martin, para Andrés, um “músico incrível, que amparou e estimulou, de modo hábil, o quarteto de Liverpool em estúdio, com boas ideias e orientação musical correta.”
Para o flautista, foi sábia a decisão dos Beatles de trocar as turnês (em tempos em que não havia equipamentos para mostrar de forma adequada a música que faziam) pelo estúdio. “Foi o que permitiu a eles evoluir mais musicalmente do que outros grupos da época, que viviam na estrada”, afirma.
O Uakti é formado por percussionistas e compositores, tendo como integrantes Marco Antônio Guimarães (diretor musical, arranjos e construtor de instrumentos), Paulo Sérgio dos Santos, Décio de Souza Ramos Filho e Arthur Andrés. Os mais de 30 anos de atividades são vistos com satisfação e uma ponta de melancolia por Andrés. De um lado, está carreira respeitada no Brasil e no mundo. De outro, a batalha pela sobrevivência, que vai deixando distante projeto que o grupo cultiva com carinho, a criação de um espaço que pudesse abrigar oficinas e mostra permanente de acervo instrumental. “Somos como uma orquestra, o regente e os músicos vão, mas o grupo continua. Mas tudo fica na dependência de milagres”, lamenta, dizendo que a captação de recursos em Minas é complicada.
Sobre influências do Uakti para outras bandas, Arthur Andrés é irônico: “Temos um cover famoso, o Blue Men”, observa, lembrando comercial com os azuis tocando tambores de PVC. Não faltam planos: um disco de canções com Mônica Salmaso e um autoral, com peças dos integrantes do grupo. O compositor Philip Glass manifestou interesse de fazer mais um disco com os mineiros. E Marco Antônio Guimarães está escrevendo peça para celebrar os 40 anos do Grupo Corpo, que será tocada pela Filarmôninca de Minas Gerais e pelo Uakti.
O show Beatles abre o projeto Cine Brasil Música e Teatro.
UAKTI Beatles
Hoje e amanhã, às 21h. Grande Teatro do Cine Theatro Brasil Vallourec, Rua Carijós, 258, Centro, (31) 3201-5211. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada). Classificação: 12 anos.