Depois de Tim Maia e Cazuza, é a vez de Elis Regina (1945-1982) voltar ao palco. Dividindo opiniões, Elis, o musical chega a Belo Horizonte em setembro. Há quem se apaixone pelo belo repertório e se derreta pela interpretação da atriz baiana Laila Garin como Pimentinha. Há quem lamente o fato de a dramaturgia se centrar apenas nos grandes momentos da carreira da estrela.
“É muito difícil contar toda a história da personagem em uma, duas ou três horas. Mas entendo o ponto onde você quer chegar: a questão das drogas. Se você for estudar a vida da Elis, vai perceber que isso foi significativo por ter colocado fim à vida dela, mas, por outro lado, é insignificante no que diz respeito ao que ela construiu como artista. Esse não é o caso de Cazuza nem de Tim Maia”, afirma o ator e cantor Cláudio Lins, que interpreta o instrumentista César Camargo Mariano – pai de Pedro e Maria Rita, filhos da cantora.
Lins garante: a montagem trata a vida de Elis “com muita elegância”. “O temperamento, a bipolaridade, a insegurança e os defeitos estão todos pincelados. O espetáculo não é um conto de fadas, Elis surge como vilã e heroína”, informa. O ator lembra que a morte da estrela gerou uma curiosidade mórbida. “A imprensa marrom a pintou como viciada, mas ela não era isso. O espetáculo chega muito próximo do que se conhecia de Elis. Você tem uma história contada. Se alguém assiste e se emociona, alguns detalhes são irrelevantes ou pouco relevantes”, defende.
Tuca Andrada, que entrou no elenco para substituir Felipe Camargo no papel de Ronaldo Bôscoli, garante não ter sentido falta de “detalhes”. O ator classifica como “acidente” a overdose que matou a estrela. “As canções de Elis fazem parte da trilha sonora de nossas vidas”, resume. Compositor, produtor e pioneiro da bossa nova, Bôscoli é pai de João Marcelo, o primogênito da cantora.
Elis, a musical estreou em outubro, no Rio de Janeiro. A montagem ficou seis meses em cartaz e seguiu para 90 dias em São Paulo, com grande sucesso. A temporada no Palácio das Artes, em setembro, vai abrir a turnê nacional. Escrita por Nelson Motta e Patrícia Andrade, a peça tem direção de Dennis Carvalho. Cinquenta canções são apresentadas em dois atos.
Longe do cover
Não foi fácil encontrar a Elis ideal. Até chegar à atriz Laila Garin e à sua substituta, Lília Menezes, foram quase 30 dias de audições com 200 candidatas. A trupe é de superprodução: elenco com 19 atores, banda com nove músicos e 265 profissionais na produção.
“Elis Regina mudou a minha vida”, resume Laila Garin. Apesar de ter ouvido a Pimentinha na infância, sob influência da mãe, a atriz nunca foi fanática por ela. “Com o passar dos ensaios, fiquei cada vez mais apaixonada. Elis tem uma técnica absurda e uma emoção louca. As duas coisas são muito fortes em sua carreira”, diz a baiana.
Timbre Dennis Carvalho acertou na direção. Laila exibe um timbre bem próximo ao de Elis e tanta emoção quanto ela ao microfone. A baiana garante: encerrado o espetáculo, não leva Pimentinha para casa. “São tantos os detalhes que não posso me perder, ficar louca na mesma emoção da Elis”, explica.
Fora do palco, Laila em nada se parece com Elis Regina. No camarim do Teatro Alfa, em São Paulo, vê-se interessante metamorfose: retiradas as lentes castanhas, surgem os olhos azuis da atriz; ruivos e cacheados, escondidos por duas perucas, os cabelos recebem hidratação especial.
A baiana leva mais de 50 minutos para se transformar na diva da MPB – sem contar o tempo para aquecer as cordas vocais. “Nenhum show dura três horas e 10 minutos nem é intercalado com brigas e diálogos”, diz Laila, ao explicar o motivo de tantos cuidados com a voz.
Valeu o esforço. Além de ganhar o Prêmio Shell de Teatro, a baiana é uma das grandes surpresas dos palcos brasileiros.
ELIS, A MUSICAL
Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. De 11 a 13 de setembro, às 21h. Ingressos: R$ 200 (plateia 1), R$ 160 (plateia 2) e R$ 130 (plateia superior). Vale-cultura: R$ 50 (plateia superior). À venda a partir de amanhã.