Criada por ele “há mais ou menos uns 30 anos”, com músicos remanescentes do antigo cabaré que marcou época em BH, a orquestra teve Xuxa como madrinha. Regido pelo maestro Rony de Souza, o grupo ensaia números especiais em homenagem ao tradicional clube, conhecido como “o mais britânico” de BH.
Belo-horizontino nascido no Bairro São Cristóvão – numa casa que ficava onde hoje está o Hospital Odilon Behrens –, Canela iniciou sua carreira aos 15 anos. Promovia pequenas apresentações na igreja do bairro, pois precisava ganhar dinheiro. A mãe, Geralda Castora de Souza, banqueira de jogo de bicho, não deixava que ele e os irmãos participassem de seu negócio. O apelido veio das partidas de futebol: Carlos Marcos era muito “caneleiro”.
A grande guinada, que o fez entrar para o mundo dos shows, ocorreu quando tinha 17 anos. Certo dia, Canela foi com uma garota a uma festa no Floresta Tênis Clube. Lá, apresentaram o casal ao conhecido radialista Levy Freire, locutor da TV Itacolomi e produtor de shows. Encantado com a bela moça, Levy acabou dando um jeito de se sentar na mesa de Canela. “Acabei perdendo a namorada, mas consegui um emprego, pois Levy me chamou para trabalhar com ele”, relembra.
Canela tem muitas histórias para contar. O início da parceria com Levy Freire – só interrompida com a morte do produtor – se deu em grande estilo: a dupla trouxe à capital a famosa cantora italiana Rita Pavoni para fazer dois shows no Minas Tênis Clube. “Naquela época, estrelas nacionais e internacionais passavam por Belo Horizonte”, diz Canela.
REI Graças à dupla, Roberto Carlos, ainda no início de carreira, veio cantar na capital mineira. Um pouco inseguro, mas já exibindo seu famoso faro para os negócios, o futuro “Rei” da Jovem Guarda pediu a uma amiga, chamada Gegê, que percorresse as lojas Eureka, onde os ingressos eram vendidos. O show estava marcado para as 20h de um domingo, no Ginásio do Mackenzie, mas até as 16h de sábado (as lojas fechavam às 18h) a procura era quase nenhuma. Criou-se o impasse.
Canela conta que Roberto Carlos propôs o cancelamento da apresentação, dispôs-se a pagar a multa, mas isso se mostrou inviável. Para solucionar o caso, RC comprou a metade dos ingressos. Os bilhetes foram distribuídos gratuitamente por meio da Rádio Inconfidência, onde Levy tinha um programa e anunciou a boa-nova. Resultado: no domingo à noite, o Mackenzie não só recebeu um bom público, como os cambistas deitaram e rolaram vendendo entradas. “Todos nós ficamos muito invocados, mas já não tinha mais jeito, o prejuízo já estava tomado”, diz.
CHICO Na década de 1960, Chico Buarque de Holanda foi outro artista que Levy Freire e Canela trouxeram a BH. A dupla negociou com o empresário do cantor um show no auditório da Secretaria de Estado da Saúde, onde hoje fica o Minascentro, em comemoração à formatura de uma turma de engenharia. Os promotores da festa, todos estudantes, combinaram de se encontrar com a dupla lá mesmo, no início da tarde, para os devidos acertos. Como os produtores demoraram, os rapazes passaram todo o dinheiro para o empresário de Chico, que ficou de pagar à dupla à noite, no Hotel Normandy, no Centro. Depois de uma série de desculpas, isso acabou não ocorrendo. O empresário ficou de enviar o dinheiro depois de chegar ao Rio de Janeiro.
Passaram-se dias. Depois de diversos telefonemas não atendidos pelo empresário, Levy Freire ligou para o próprio Chico Buarque. Combinaram que o artista, que voltaria a Minas para cantar em Sete Lagoas, acertaria com eles. “Preparamos tudo: alugamos o espaço, pagamos um monte de gente para ajudar, providenciamos passagens e hospedagens para Chico, que foi muito bacana conosco. Entretanto, no dia da apresentação não apareceu ninguém e tivemos de cancelar. O prejuízo foi total”, lembra Canela.
MISS Um motivo de orgulho para ele é o fato de há mais de 10 anos ajudar o empresário José Alonso Dias, de Divinópolis, a organizar o concurso de Miss Minas Gerais. “Lembra-se do dia em que levamos a Débora Lyra lá no Estado de Minas?”, pergunta ele. A simpática moça, que se elegeu Miss Brasil em 2010, desfilou pela redação ao lado de Canela. Fez um sucesso danado.
O PARCEIRO
“Aqui fala Levy Freire, da Rádio Inconfidência. Olá! Como se sente? Rim doente?”
Era assim que o “speaker” Levy Freire recepcionava os ouvintes de seu programa transmitido pela Rádio Inconfidência, patrocinado pelo remédio Urodonal. Radialista famoso, o tio do pianista Nelson Freire fez fama em Belo Horizonte como promotor de shows de astros e estrelas. Além de Roberto Carlos e Chico Buarque, a dupla Levy Freire e Canela produziu apresentações de Nelson Gonçalves, Gal Costa e Altemar Dutra na cidade.
Com 50 anos de experiência, produtor Canela passou aperto com os iniciantes Roberto Carlos e Chico Buarque
Ao lado de Levy Freire, produtor cultural trouxeram muitas estrelas à cidade
Talvez o mais antigo produtor cultural de Belo Horizonte em atividade, Carlos Marcos Leite, o Canela, do alto dos seus 67 anos bem vividos, continua fazendo o que mais gosta: promover shows. De uns tempos para cá ele assessora o Status Café Cultura e Arte, na Savassi. E está produzindo a apresentação da Orquestra Montanhez, marcada para 22 de agosto, no Automóvel Clube.