Bom de música e bom de papo, Gilberto Gil, de 72 anos, está em Minas Gerais não só para cantar, mas também para fazer palestra no 27º Inverno Cultural de São del-Rei, na região do Campo das Vertentes. De disco novo, 'Gilbertos samba', no mercado, o bom baiano aproveita a vinda ao estado para cantar em praças públicas de quatro cidades – Sete Lagoas, Divinópolis, São João del-Rei e Ouro Branco –, reservando o show do novo CD, mais intimista, para teatros.
Com datas já reservadas para o show do novo disco (6 e 7 de setembro), no Grande Teatro do Palácio das Artes, no circuito dos festivais de inverno Gil vai apresentar outro espetáculo, Viramundo, de repertório mais dançante, que segue em turnê paralela à de 'Gilbertos samba', dedicado aos clássicos do mestre da bossa nova, João Gilberto. O cantor, compositor e instrumentista baiano diz que desde a primeira vez que ouviu João, no rádio, ele sentiu que “aquilo teria uma importância grande”.
Em 'Viramundo', Gil promove uma animada viagem musical, que vai de clássicos de seu repertório ('Andar com fé', 'Realce', 'Toda menina baiana', 'Palco', 'Aquele abraço' e 'Esperando na janela') a canções dedicadas a ritmos nordestinos, como forró, baião e xote, gravados em discos mais recentes como 'Fé na festa' (2010) e 'Banda larga cordel' (2008), ambos com versões ao vivo em edições seguintes aos anos de lançamento.
“Este show foi montado por ocasião do filme homônimo no qual eu participo como uma espécie de fio condutor por viagens entre Brasil, África do Sul e Austrália, já que ele trata da música no hemisfério sul do planeta. Foi inspirado no filme que montei o repertório desse show”, recorda. Já o novo, garante, “é muito bonito, mas é mais solene”. Acompanhado de banda formada por Mestrinho (acordeom), Gustavo Di Dalva (percussão), Arthur Maia (baixo) e Bem Gil (guitarra), Gilberto Gil (voz e violão) ainda recorre a sucessos como 'Tempo rei', 'Drão', 'A paz' e outras que geralmente não podem faltar nas apresentações do cantor.
Dono de carreira consolidada nacional e internacionalmente, com mais de 50 discos gravados e lançados, em um mercado em crise constante, Gilberto Gil também se destaca na carreira pública, tendo sido eleito vereador em Salvador (1989-1992) e, posteriormente, nomeado ministro da Cultura (2003-2008), durante o governo Lula.
Durante a passagem por Minas Gerais, o cantor vai conversar com o público sobre questões culturais e políticas do Brasil, tendo por ponto de partida a própria obra artística e a experiência em gestão pública. “Variedades dos aspectos políticos e culturais da vida do país” será o tema da palestra que ele irá proferir apenas em São João del-Rei.
Sobre o atual momento político, o artista logo se posiciona: “Estou com Marina (Silva, candidata a vice na chapa de Eduardo Campos) e não abro. Onde ela for eu vou atrás”, declara. Consciente de que muitos dos programas que começam a dar certo no Ministério da Cultura (MinC) são herança de sua administração, ele diz a respeito dos Pontos de cultura e do Vale-cultura: “São programas que deram muito certo e tenho até um pouco de orgulho deles”.
Voltar a atuar politicamente, no entanto, o ex-vereador e ex-ministro não quer. Prefere travar contato com o público em shows e palestras que faz país afora. “Gosto muito das palestras, porque as pessoas vão para conversar, para escutar. Ali nós tratamos de política e cultura de um modo geral”, diz.
Novo disco Enquanto o show de 'Gilbertos samba' não chega a BH, o público tem tempo para ouvir um dos mais sofisticados trabalhos de Gilberto Gil. Com repertório de temas gravados originalmente por João Gilberto e duas inéditas – a instrumental 'Um abraço no João' e a canção 'Gilbertos', que fecha o disco –, o álbum incorpora a dicção moderna dos produtores Moreno, filho de Caetano Veloso, e Bem, filho de Gilberto Gil.
Fugindo do caminho que seria mais fácil, do banquinho e violão, o cantor convidou Domenico para tocar em todas as faixas, ao lado de instrumentistas de diferentes formações musicais: Mestrinho (acordeom), Nicolas Krassik (violino), Pedro Sá (guitarra), Danilo Caymmi (flauta), Dori Caymmi (violão) e Rodrigo Amarante. Uma bossa nova que homenageia as origens sem deixar de lado as contribuições do presente. Entre as canções que fazem parte do disco estão 'Aos pés da cruz', 'Desafinado', 'Eu sambo mesmo', 'Desde que o samba é samba', 'O pato' e 'Você e eu'.
Gilberto Gil aproveita o trabalho para também destacar a importância de Dorival Caymmi em sua arte, com novas leituras de 'Milagre' e 'Doralice' e citação nominal do compositor na faixa 'Gilbertos': “Foi Dorival Caymmi quem nos deu/ A noção da canção como um liceu/ A cada cem anos um verdadeiro mestre aparece entre nós/ E entre nós alguns que o seguirão ampliando-lhe a voz e o violão”.
Sobre o lançamento do disco, Gil anuncia que pretende viajar bastante com o show 'Gilbertos samba', que ele acaba de estrear em São Paulo. “Além do Brasil, vamos aos Estados Unidos e à Europa”, conclui.
Três perguntas para...
GILBERTO GIL
CANTOR E COMPOSITOR
Caetano Veloso sempre fala da influência de João Gilberto e você parece ter resolvido a questão de maneira mais reservada. A gravação do disco-tributo ao mestre evidencia a influência do pai da bossa nova em sua obra. Quando você que percebeu a importância de João em seu trabalho?
Desde a primeira vez em que ouvi João no rádio senti que aquilo teria uma importância grande, pelo menos para mim. Tanto que abandonei o acordeom para me dedicar ao violão direto. Coisa que faço até hoje por gostar do instrumento e também por respeito a João.
Além de João, você também sempre demonstrou apreço por outros mestres nordestinos, tais como Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Qual é a importância deles em sua carreira?
Importância total. Passei a vida no interior e mesmo depois, em Salvador, ouvindo esses mestres no rádio e no serviço de auto-falante da cidade. O primeiro show a que assisti na vida foi de Gonzaga, na Praça da Sé de Salvador. Ele era um popstar, com aquelas roupas, chapéus, óculos... Tudo.
Ouvindo Gilbertos samba a impressão que se tem é de que você privilegia a porção nordestina de João que a bossa nova, de alguma forma, parece ter procurado ocultar. Isso demandou muito tempo e dedicação?
Foi muito trabalho, mas muito prazeroso. João, como eu, é baiano e muito próximo da música nordestina. Ele mais ainda, já que nasceu no Norte do estado, em Juazeiro. A bossa nova se apropriou não só dos ritmos nordestinos, mas também do samba, e transformou tudo em bossa nova.
EM Minas Gerais
» Shows
Quarta-feira, 21h, no Espaço Inverno Cultural (Lagoa Boa Vista) de Sete Lagoas
Quinta-feira, 21h, no Palco Inverno Cultural (Rua Pitangui) de Divinópolis
Sábado, 21h, no Palco Inverno Cultural (Av. Leite de Castro) de São João del-Rei
Domingo, 21h, no Palco Principal da Praça de Eventos de Ouro Branco
» Palestra
Sexta-feira, 18h30, no Teatro Municipal de São João del-Rei
Ouça a faixa 'Gilbertos', canção inéditas do disco 'Gilbertos samba':
Com datas já reservadas para o show do novo disco (6 e 7 de setembro), no Grande Teatro do Palácio das Artes, no circuito dos festivais de inverno Gil vai apresentar outro espetáculo, Viramundo, de repertório mais dançante, que segue em turnê paralela à de 'Gilbertos samba', dedicado aos clássicos do mestre da bossa nova, João Gilberto. O cantor, compositor e instrumentista baiano diz que desde a primeira vez que ouviu João, no rádio, ele sentiu que “aquilo teria uma importância grande”.
Em 'Viramundo', Gil promove uma animada viagem musical, que vai de clássicos de seu repertório ('Andar com fé', 'Realce', 'Toda menina baiana', 'Palco', 'Aquele abraço' e 'Esperando na janela') a canções dedicadas a ritmos nordestinos, como forró, baião e xote, gravados em discos mais recentes como 'Fé na festa' (2010) e 'Banda larga cordel' (2008), ambos com versões ao vivo em edições seguintes aos anos de lançamento.
“Este show foi montado por ocasião do filme homônimo no qual eu participo como uma espécie de fio condutor por viagens entre Brasil, África do Sul e Austrália, já que ele trata da música no hemisfério sul do planeta. Foi inspirado no filme que montei o repertório desse show”, recorda. Já o novo, garante, “é muito bonito, mas é mais solene”. Acompanhado de banda formada por Mestrinho (acordeom), Gustavo Di Dalva (percussão), Arthur Maia (baixo) e Bem Gil (guitarra), Gilberto Gil (voz e violão) ainda recorre a sucessos como 'Tempo rei', 'Drão', 'A paz' e outras que geralmente não podem faltar nas apresentações do cantor.
Dono de carreira consolidada nacional e internacionalmente, com mais de 50 discos gravados e lançados, em um mercado em crise constante, Gilberto Gil também se destaca na carreira pública, tendo sido eleito vereador em Salvador (1989-1992) e, posteriormente, nomeado ministro da Cultura (2003-2008), durante o governo Lula.
Durante a passagem por Minas Gerais, o cantor vai conversar com o público sobre questões culturais e políticas do Brasil, tendo por ponto de partida a própria obra artística e a experiência em gestão pública. “Variedades dos aspectos políticos e culturais da vida do país” será o tema da palestra que ele irá proferir apenas em São João del-Rei.
Sobre o atual momento político, o artista logo se posiciona: “Estou com Marina (Silva, candidata a vice na chapa de Eduardo Campos) e não abro. Onde ela for eu vou atrás”, declara. Consciente de que muitos dos programas que começam a dar certo no Ministério da Cultura (MinC) são herança de sua administração, ele diz a respeito dos Pontos de cultura e do Vale-cultura: “São programas que deram muito certo e tenho até um pouco de orgulho deles”.
Voltar a atuar politicamente, no entanto, o ex-vereador e ex-ministro não quer. Prefere travar contato com o público em shows e palestras que faz país afora. “Gosto muito das palestras, porque as pessoas vão para conversar, para escutar. Ali nós tratamos de política e cultura de um modo geral”, diz.
Novo disco Enquanto o show de 'Gilbertos samba' não chega a BH, o público tem tempo para ouvir um dos mais sofisticados trabalhos de Gilberto Gil. Com repertório de temas gravados originalmente por João Gilberto e duas inéditas – a instrumental 'Um abraço no João' e a canção 'Gilbertos', que fecha o disco –, o álbum incorpora a dicção moderna dos produtores Moreno, filho de Caetano Veloso, e Bem, filho de Gilberto Gil.
Fugindo do caminho que seria mais fácil, do banquinho e violão, o cantor convidou Domenico para tocar em todas as faixas, ao lado de instrumentistas de diferentes formações musicais: Mestrinho (acordeom), Nicolas Krassik (violino), Pedro Sá (guitarra), Danilo Caymmi (flauta), Dori Caymmi (violão) e Rodrigo Amarante. Uma bossa nova que homenageia as origens sem deixar de lado as contribuições do presente. Entre as canções que fazem parte do disco estão 'Aos pés da cruz', 'Desafinado', 'Eu sambo mesmo', 'Desde que o samba é samba', 'O pato' e 'Você e eu'.
Gilberto Gil aproveita o trabalho para também destacar a importância de Dorival Caymmi em sua arte, com novas leituras de 'Milagre' e 'Doralice' e citação nominal do compositor na faixa 'Gilbertos': “Foi Dorival Caymmi quem nos deu/ A noção da canção como um liceu/ A cada cem anos um verdadeiro mestre aparece entre nós/ E entre nós alguns que o seguirão ampliando-lhe a voz e o violão”.
Sobre o lançamento do disco, Gil anuncia que pretende viajar bastante com o show 'Gilbertos samba', que ele acaba de estrear em São Paulo. “Além do Brasil, vamos aos Estados Unidos e à Europa”, conclui.
Três perguntas para...
GILBERTO GIL
CANTOR E COMPOSITOR
Caetano Veloso sempre fala da influência de João Gilberto e você parece ter resolvido a questão de maneira mais reservada. A gravação do disco-tributo ao mestre evidencia a influência do pai da bossa nova em sua obra. Quando você que percebeu a importância de João em seu trabalho?
Desde a primeira vez em que ouvi João no rádio senti que aquilo teria uma importância grande, pelo menos para mim. Tanto que abandonei o acordeom para me dedicar ao violão direto. Coisa que faço até hoje por gostar do instrumento e também por respeito a João.
Além de João, você também sempre demonstrou apreço por outros mestres nordestinos, tais como Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Qual é a importância deles em sua carreira?
Importância total. Passei a vida no interior e mesmo depois, em Salvador, ouvindo esses mestres no rádio e no serviço de auto-falante da cidade. O primeiro show a que assisti na vida foi de Gonzaga, na Praça da Sé de Salvador. Ele era um popstar, com aquelas roupas, chapéus, óculos... Tudo.
Ouvindo Gilbertos samba a impressão que se tem é de que você privilegia a porção nordestina de João que a bossa nova, de alguma forma, parece ter procurado ocultar. Isso demandou muito tempo e dedicação?
Foi muito trabalho, mas muito prazeroso. João, como eu, é baiano e muito próximo da música nordestina. Ele mais ainda, já que nasceu no Norte do estado, em Juazeiro. A bossa nova se apropriou não só dos ritmos nordestinos, mas também do samba, e transformou tudo em bossa nova.
EM Minas Gerais
» Shows
Quarta-feira, 21h, no Espaço Inverno Cultural (Lagoa Boa Vista) de Sete Lagoas
Quinta-feira, 21h, no Palco Inverno Cultural (Rua Pitangui) de Divinópolis
Sábado, 21h, no Palco Inverno Cultural (Av. Leite de Castro) de São João del-Rei
Domingo, 21h, no Palco Principal da Praça de Eventos de Ouro Branco
» Palestra
Sexta-feira, 18h30, no Teatro Municipal de São João del-Rei
Ouça a faixa 'Gilbertos', canção inéditas do disco 'Gilbertos samba':